1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Exposições

Simone de Mello9 de fevereiro de 2007

Em duas exposições, Centro Georges Pompidou, em Paris, mostra faces do intercâmbio estético entre Extremo Oriente e Ocidente.

https://p.dw.com/p/9pZW
'O azul não tem dimensões'Foto: Adagp, Paris 2006

Até que ponto a matemática pode gerar formas análogas às da arte? Ao fotografar fórmulas matemáticas projetadas tridimensionalmente em gesso, o artista japonês Hiroshi Sugimoto (Tóquio, 1947) mostra o quanto objetos científicos como esses seus modelos, conservados na Universidade de Tóquio, podem se revestir de uma aura comparável à das obras de arte.

A questão se torna ainda mais complexa ao lado das esculturas de Konstantin Brancusi (1976–1957), com as quais Sugimoto dialoga em sua exposição Mathematical Forms, a ser visitada no Atelier Brancusi do Centro Georges Pompidou, em Paris.

Em meio ao ateliê do escultor romeno, reconstituído no centro do pequeno pavilhão projetado pelo arquiteto italiano Renzo Piano e reservado a mostras de arte contemporânea, as poucas obras expostas de Sugimoto ganham inevitavelmente um caráter de intervenção.

Objetos infinitos

Ausstellung Centre G. Pompidou Hiroshi Sugimoto
''Conceptual form 001'', Hiroshi SugimotoFoto: Courtesy Gallery Koyanagi, Tokyo

Em suas "formas conceituais", o japonês residente em Nova York se remete diretamente às "colunas sem fim" de Brancusi, criando formas seriais concebidas menos como esculturas que como "pura aplicação das fórmulas matemáticas".

Enquanto as esculturas de Brancusi se distinguem pela máxima redução de referentes figurativos a formas abstratas, as peças de Sugimoto surgem de fórmulas abstratas, denunciando a ausência de referentes concretos.

Constantin Brancusi Danaide
'Danaide', Konstantin BrancusiFoto: PA/dpa

O escultor romeno, cuja grande inovação foi tratar o suporte como parte do objeto de arte, ampliou a noção de escultura, entendendo-a não apenas como lapidação do material, mas também como processo de acumulação, ao empilhar – por exemplo – suas peças em estruturas complexas, com uma aura totêmica.

Vazio e vazio

O infinito das "colunas sem fim" de Brancusi, que dizia trabalhar "a essência cósmica da matéria", se esvazia, nos objetos serializados de Sugimoto, no caráter infinitamente reprodutível dos objetos industrializados.

A redução das peças de Sugimoto parecer refletir a contenção da arte japonesa, por mais que o artista se considere "um japonês 'made in USA'". Embora a percepção euro-americana costume associar suas obras à estética oriental, Sugimoto confessa ter se inteirado das tradições japonesas somente após sua emigração para os EUA.

Arte sem sujeito

Numa outra mostra encerrada recentemente, o Centro Georges Pompidou mostrou um outro ângulo da permeabilidade entre o Ocidente e o Extremo Oriente. Corpo, cor, imaterial se intitulava a retrospectiva do pintor francês Yves Klein (1928–1962), com 120 pinturas e esculturas.

A obra de Klein está intimamente ligada ao seu contato com as artes marciais orientais. A prática do judô o levou ao Japão no início da década de 50 e marcou sua investigação artística.

Ausstellungstipps vom 26.01.06 - «zero» in Salzburg
'IKB 45', Yves Klein (1960)Foto: museumdermoderne

Na tentativa de eliminar da arte todo seu caráter construído e torná-la permeável ao entorno, Klein se dedicou à pintura monocromática com um radicalismo singular. Nas telas impregnadas com tinta, inicialmente com um azul patenteado pelo artista (IKB, International Klein Blue), Klein esvazia o objeto de arte de qualquer mensagem subjetiva e referências concretas.

O azul é

"O azul não tem dimensões, ele 'é', está além das dimensões. (...) Todas as cores trazem associações com idéias concretas, materiais e tangíveis, enquanto o azul evoca sobretudo o céu e o mar, o que há de mais abstrato na natureza tangível e visível."

Kunst mit dem Flammenwerfer
Yves Klein usa fogo para desenhar suas telasFoto: Véra Cardot

Remetendo-se à noção do vazio, fundamental na religião, filosofia e estética japonesas, Klein prosseguiria sua obra como uma busca do imaterial. A desmaterialização do objeto de arte em suas performances e obras efêmeras da virada dos anos 50/60 o tornariam um pioneiro da arte conceitual e do Fluxus.