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Documentário lança novo olhar sobre o artista Joseph Beuys

Jochen Kürten av
19 de maio de 2017

O filme de Andres Veiel dividiu a crítica: em vez de abordar as polêmicas artísticas, políticas e sociais dos anos 60 e 70, cineasta prefere enfocar o humor de um espírito livre.

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Joseph Beuys (1921-1986)
Joseph Beuys (1921-1986)Foto: zeroonefilm_UteKlophaus

"Deixo muita coisa de fora, completude não me interessou", diz o diretor Andres Veiel sobre Beuys. Centrado no artista conceitual Joseph Beuys (1921-1926) seu filme chega agora às salas de exibição alemãs, depois de ter estreado em fevereiro, na Berlinale, e ser convidado para alguns festivais internacionais.

Veiel é prestigiado como excelente documentarista, já tendo abordado temas como o terrorismo de esquerda na República Federal da Alemanha, o suicídio de amigos de juventude seus, ou os desejos e esperanças de jovens atores. Sua produção engloba documentações de longo termo, análises sobre rupturas políticas e sociais, mas também testemunhos muito pessoais sobre amizade e família.

Desta vez, o assunto é uma figura lendária da história da arte contemporânea, talvez um dos mais bem conhecidos artistas alemães de todos os tempos. No entanto o espectador não deve esperar uma biografia artística abrangente do filho da cidade de Krefeld, no sentido clássico.

Joseph Beuys (de chapéu panamá) participava ativamente da vida política da Alemanha
Joseph Beuys (de chapéu panamá) participava ativamente da vida política da AlemanhaFoto: zeroonefilm/bpk_ErnstvonSiemensKunststiftung/Stiftung Museum Schloss Moyland/U. Klophaus

Opiniões divididas

A alusão de que não visava "completude" indica a original intenção Andres Veiel: seu documentário trata, antes, do homem Joseph Beuys, seu desconcertante humor e suas tiradas em público, menos do artista e sua obra. Isso não agrada a todos, pois para muitos ele é um mito de que se ocupam, até hoje.

Consequentemente, as reações na estreia no Festival de Berlim foram as mais díspares. "Para um artista tão polêmico, o filme resultou surpreendentemente pacífico, o que é um mérito para Veiel", julgou, por exemplo, o jornal suíço Neue Zürcher Zeitung.

E prossegue: "Beuys  se mantém de fora das lutas ideológicas dos anos 60 e 70", fato que, no entanto, "prontamente valeu ao filme em Berlim uma critica maldosa do jornal de esquerda TAZ, incomodado pelo fato de Veiel apresentar o carismático espírito de Beuys um pouco como contraste com a falta de humor da esquerda".

Esse tipo de veredicto demonstra até que ponto o artista e homem Joseph Beuys continua sendo objeto de debates artísticos e político-sociais. Mas esse foi precisamente um dos aspectos que fascinaram o diretor.

Diretor Andres Veiel (dir.) se submete às perguntas do público na Berlinale 2017
Diretor Andres Veiel (dir.) se submete às perguntas do público na Berlinale 2017Foto: Getty Images/P. le Segretain

Espírito livre, acima de tudo

Em seu documentário, Andres Veiel deixa as imagens falarem. Ele e sua equipe montaram suas quase duas horas de duração a partir de mais de 400 horas de material de vídeo e 300 de áudio, assim como 20 mil fotos. Beuys  se compõe, em 90%, de material de arquivo, apenas umas poucas, breves entrevistas com os antigos companheiros de estrada do protagonista complementam as fontes históricas.

Como Veiel observou em Berlim, a intenção não foi rodar uma documentação sobre um artista que, com sua obra, provocou acirradas confrontações dentro da sociedade e do mundo da arte nas décadas de 60 e 70. "O que achei muito mais importante e interessante foi o atual, os espaços políticos de ideias que Beuys explorou."

Para o cineasta, ele não foi compreendido na época, nem mesmo pelo Partido Verde – do qual foi um dos fundadores. Como alguém que "no fim dos anos 1970 refletia sobre questões econômicas", Beuys disse que "quando o dinheiro se multiplica por si mesmo, alienado da produção, isso gera bolhas que não são mais controláveis, aí temos uma crise da democracia". "Na época, riram dele", lembra Andres Veiel.

Um dos trunfos de Beuys  é enfocar questionamentos atuais, políticos, mas também filosóficos, mostrar um homem que era, acima de tudo, um espírito livre, cuja mente não conhecia fronteiras. Esse fato perturbava, mas também confundia, muitos – não só os bem comportados cidadãos e os políticos, mas também artistas e críticos, como enfatiza o documentário.

O artista com estudantes da Academia de Artes de Düsseldorf
O artista com estudantes da Academia de Artes de DüsseldorfFoto: zeroonefilm/bpk_Stiftung Schloss Moyland/U. Klophaus

Beuys teria gostado

Andres Veiel tenta esclarecer uma das frases mais famosas do artista alemão: "todo ser humano é um artista". "Ele não queria dizer que 'todo ser humano é um escultor', ele falava de coparticipar." Ele exortava as pessoas a não delegarem a política "a uma casta que então vai ser reeleita a cada quatro anos.

Esse ponto é extremamente importante e atual para o diretor, sobretudo nos dias de hoje. "É, por assim dizer, uma reedição, a qual, justo agora, em 2017, chega num momento absolutamente adequado."

Após a apresentação em Berlim, o periódico inglês Screen Daily comentou: "O fascinante filme de Andres Veiel retira seus meios estilísticos da incansável criatividade de seu protagonista. Talvez a própria vida de Beuys tenha sido sua maior obra de arte: é isso o que faz do filme inteligente, sutilmente articulado um prazer tão grande."

Essa opinião provavelmente não será unânime. Em alguns espectadores, causará perplexidade a constatação de que Joseph Beuys encarava o mundo em torno de si com tamanho humor. Outros certamente se incomodarão como fato de Veiel não dar a palavra a nenhum crítico do artista.

Beuys, de Andres Veiel, é um documentário capaz de causar atrito e que convida à confrontação. O homem que morreu há 31 anos certamente teria gostado.