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Drusos, uma minoria sob pressão

9 de agosto de 2018

Espalhada pelo Oriente Médio, minoria religiosa autônoma se vê ameaçada pela guerra civil na Síria e pela lei que define Israel como o Estado do povo judeu.

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Protestos de drusos e apoiadores em Tel AvivFoto: Getty Images/AFP/J. Guez

Um vídeo cruel gravado em algum lugar no sul da Síria mostra um refém. "Meu destino se deve às negociações fracassadas entre o 'Estado islâmico' e os drusos", explica Muhannad Abu Ammar, de 19 anos. "Espero que as exigências dos meus sequestradores sejam atendidas, para que outras pessoas sejam poupadas desse destino."

O jovem druso não pode mais mudar o próprio destino: presumivelmente, seus algozes das fileiras da organização terrorista "Estado Islâmico" (EI) o mataram logo após ter dito essas palavras. A gravação foi então enviada aos seus parentes, junto a outro vídeo mostrando o corpo do druso sírio decapitado.

O vídeo recém-divulgado aterroriza os parentes dos outros reféns em mãos do "Estado Islâmico". Em 25 de julho, terroristas do EI atacaram al-Shabki, perto da cidade de Sweida, no sul da Síria, matando cerca de 250 pessoas.

Os habitantes do vilarejo lutaram, mas não conseguiram evitar que 36 residentes – a maioria mulheres e crianças – fossem feitos reféns. Pouco tempo depois, os terroristas divulgaram um vídeo que mostra uma das mulheres sequestradas. Ela explicou que o EI poderia matar o grupo inteiro.

Os vídeos recém-divulgados de Muhannad Abu Ammar são uma indicação de que as negociações fracassaram do ponto de vista do EI.

Minoria em três países

Assim, fracassou também a estratégia dos drusos sírios para permanecer, tanto quanto possível, fora do conflito na Síria. Embora antes da eclosão da guerra civil eles tenham desempenhado um papel muito importante entre os militares sírios, os drusos sempre evitaram se posicionar politicamente de forma clara.

Eles são motivados também pela circunstância de serem uma parcela pequena da população na Síria – como também no Líbano e em Israel. Dos quase 21 milhões de sírios de antes do início da guerra, 700 mil pertencem à comunidade drusa, ou seja, cerca de 3,5%. No Líbano, eles representam entre 4% e 5% da população; em Israel, não chegam a 2%. Alguns drusos também vivem na Jordânia.

Israel Golanhöhen Drusen Frauen
Mulheres drusas nas Colinas de GolãFoto: picture alliance/ZUMAPRESS

Portanto, a sua política é muito cautelosa. No Líbano, embora tenham o direito de se autogovernar e possuam suas próprias leis de status pessoal, eles se encaixam no Estado – mesmo que, ao contrário dos sunitas, xiitas e cristãos, não pertençam aos grandes grupos políticos e religiosos do país.

No entanto, "a discrepância entre sua herança histórica e a realidade política atual leva a uma considerável decepção e ao sentimento de estar sendo oprimido", escreve o advogado Abbas Halabi em seu livro sobre a história dos drusos.

Na Síria, após a vitória do Partido Baath em 1963, os drusos ganharam considerável influência política, mas foram gradualmente afastados das posições de poder. Desde cedo, eles aprenderam a se arranjar com os poderosos grupos xiitas do país.

Essa postura também levou à sua posição política relativamente contida durante a guerra civil que assola a Síria. No decorrer do conflito, porém, eles se posicionaram cada vez mais contrários a grupos extremistas jihadistas, como a Frente al-Nusra e o "Estado Islâmico". Foram essas tensões que levaram à morte do jovem Muhannad Abu Ammar.

Sob pressão também em Israel

Com sua religião baseadas em várias influências, os drusos veem a si mesmos como uma confissão autônoma. Eles não se consideram muçulmanos. Essa autoimagem facilitou muito a sua integração em Israel. No entanto, especialmente nos últimos tempos, os drusos israelenses vêm expressando preocupações e desagrado.

Eles se opõem à controversa nova lei "Estado-nação", que define Israel como o Estado do povo judeu, e se veem marginalizados por essa decisão.

O druso Shady Zeidan, de 23 anos, causou sensação no país ao anunciar publicamente sua saída do Exército israelense, há alguns dias, aludindo à nova lei. "Eu sou um cidadão como qualquer outro, e entreguei tudo ao Estado. Agora me vejo como alguém de segunda classe", disse. "Eu não estou disposto a isso. Decidi parar de servir ao país."

Ele pousava com orgulho ao lado da bandeira de Israel e cantava o hino nacional. "Mas agora, pela primeira vez, eu me recusei a saudar a bandeira e a cantar o hino." Muitos outros drusos israelenses se expressaram como Zeidan.

Israel Drusen Proteste in Tel Aviv
Milhares de drusos protestaram no início de agosto, em Tel Aviv, contra a nova lei de Estado-naçãoFoto: Getty Images/AFP/J. Guez

Com sua declaração, Zeidan desencadeou um debate público no país. Muitos israelenses expressaram simpatia pelos drusos, que sempre demonstraram lealdade ao país. "Os drusos merecem mais", escreveu o jornal israelense Haaretz. "Todos nós merecemos mais, não devemos nos calar. Devemos todos nos unir à luta dos drusos e rejeitar a nova lei de nacionalidade."

O Exército respondeu prontamente às declarações do jovem druso. "Nós declaramos que a responsabilidade comum e a fraternidade dos soldados, junto aos nossos irmãos das fileiras dos drusos, beduínos e outras minorias, persistirá", anunciou o chefe do Estado-Maior, Gadi Eizenkot. "Confiem em nós, vamos lutar por vocês", declarou Eizenkot, dirigindo-se às minorias.

Ameaçados de morte na Síria, contestados como minoria pela nova lei de nacionalidade em Israel – os drusos enfrentam desafios bem distintos nesses dois países. Em ambos os casos, eles estão diante da tarefa de redefinir o seu relacionamento com os Estados em que vivem.

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Kersten Knipp
Kersten Knipp Jornalista especializado em assuntos políticos, com foco em Oriente Médio.