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França-Líbia

3 de agosto de 2007

Fechamento de acordos para o fornecimento de sistema de comunicação e de mísseis antitanques entre a Líbia e o conglomerado EADS provoca reações dentro e fora da França.

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Nicolas Sarkozy (e) com Muammar Kadafi, em TrípoliFoto: picture alliance / dpa

O conglomerado aeronáutico e armamentista europeu EADS confirmou, nesta sexta-feira (03/08), o fechamento de dois acordos no valor de cerca de 300 milhões de euros para o fornecimento de um sistema militar de comunicação e de mísseis antitanques do tipo Milan para a Líbia.

A negociação tornou-se pública através de uma entrevista do filho do presidente líbio Muammar Kadafi. Saif al-Islam, provável sucessor de Kadafi, declarou ao jornal francês Le Monde, na última quarta-feira, que a libertação das enfermeiras búlgaras e de um médico palestino, condenados à morte na Líbia, estaria relacionada com os atuais acordos.

O filho de Kadafi declarou que seu pai viria, em breve, à França para a assinatura dos acordos e mencionou ainda a construção de uma fábrica de armas.

Em entrevista, o ministro francês da Defesa, Hervé Morin, confirmou a existência dos acordos. "Existe uma intenção de compra", declarou Morin à rede de TV RTL. Uma comissão governamental já teria aprovado a remessa desde fevereiro último. Os acordos e as controversas declarações do presidente fancês Nicolas Sarkozy vêm provocando reações negativas dentro e fora da França.

Judicialmente, nada impede

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Outros chefes de governo, como ex-premiê Berlusconi, também visitaram a LíbiaFoto: AP

Judicialmente, nada impede o fechamento dos acordos entre a EADS e o governo francês. A Líbia renunciou às armas de extermínio em massa, a União Européia levantou o embargo sobre o fornecimento de armas à Líbia. Além disso, a França não é o único país a querer vender armas ao país. A MBDA, subsidiária da EADS responsável pelo fornecimento à Líbia, pertence igualitariamente à França e ao Reino Unido, sendo a Itália o terceiro país da lista.

Respondendo aos críticos, o porta-voz de Sarkozy, David Martinon, declarou que, realmente, na visita do presidente em Trípoli foi assinado um acordo de "Estado para Estado – não há nada a esconder". Afinal de contas, a venda de armas não seria proibida. "Britânicos, americanos, russos, italianos, o mundo todo também tenta", declarou o porta-voz.

Nos outros países europeus, no entanto, o acordo fechado entre o governo francês e líbio foi motivo de duras críticas. Segundo o filho de Kadafi, o embargo sobre o fornecimento de armas à Líbia, levantado pela União Européia, em 2004, ainda existiria de fato. A preocupação de políticos e imprensa franceses, todavia, parece se dirigir para a atitude de seu presidente quanto à questão.

Quem mente? Quem fala a verdade?

Na semana passada, pouco tempo depois da libertação das enfermeiras búlgaras, a atitude francesa de assinar um tratado de fornecimento de reator nuclear para uso pacífico à Líbia já havia sido manchete em todo o mundo.

Freigelassene bulgarische Krankenschwester mit Mutter
Sarkozy nega ligação entre enfermeiras libertadas e acordosFoto: picture alliance/dpa

Por diversas vezes, Sarkozy negou uma ligação entre o acordo e a libertação das enfermeiras. Além disso, nesta sexta-feira, o governo líbio desacreditou as declarações do filho de Kadafi.

Já que ele não exerceria nenhum cargo público, suas declarações não seriam oficiais, disse um representante governamental, nesta sexta-feira (03/08), ao jornal árabe Al-Sharq al-Awsat.

A oposição francesa exige agora a formação de uma comissão parlamentar para o esclarecimento do acordo. "Parece mais com um assunto de Estado", afirmou André Vallini, porta-voz do grupo socialista no Parlamento francês. "Um dos lados está mentindo, ou a Líbia ou a França. Sarkozy tem que, finalmente, falar a verdade" exige Vallini.

Também colocando o acordo com a Líbia em questão, o diário Le Monde pergunta em sua edição de sexta-feira: "Quem mente? Quem fala a verdade? A declaração de Saif al-Islam sobre as reparações que seu país recebeu pela libertação das enfermeiras deixa a maioria da UMP [Partido de Sarkozy] perplexa. Sarkozy afirmou várias vezes que não ofereceu recompensas. O senhor Sarkozy terá que se explicar, quanto mais cedo, melhor". (ca)