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Editoras Penguin e Random House fundem-se para combater declínio do setor

Holger Ehling / Augusto Valente6 de julho de 2013

Fusão de casas tradicionais resulta em megaeditora, a quinta maior do mundo, com total de 70 prêmios Nobel de Literatura em seus quadros. Nova empresa quer enfrentar mercado em crise e fazer frente a sites de vendas.

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Foto: picture-alliance/dpa

No final de 2012, as gigantes editoriais Bertelsmann e Pearson anunciaram que fundiriam suas duas editoras de livros, formando a nova editora Penguin-Random House. A noticia causou furor no pacífico setor livreiro.

Essa fusão acaba de se concretizar. Com um faturamento equivalente a 2,5 bilhões de euros, a nova megaeditora controlará grande parte dos mercados internacionais de língua inglesa e espanhola.

A partir de agora, tanto autores de best-sellers como Michael Crichton e E. L. James, quanto os celebrados Orhan Pamuk, Salman Rushdie e Gabriel García Márquez pertencem à mesma casa, cujo âmbito de atividades se estende da China ao Chile, de Nova Délhi a Nova York.

União de forças

Há muito, os dois parceiros vêm perseguindo uma estratégia voltada para o mercado global. Ambos estão muito bem situados nos mercados tradicionais de idioma inglês, como o do Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Austrália ou Nova Zelândia. Além disso, a Penguin tem presença forte na Índia e na China, enquanto a Random House ocupa o terceiro lugar no comércio livreiro da América Latina.

Porém, não é apenas a posição no mercado a tornar a fusão tão significativa. A história da Penguin começa nos anos entre as duas guerras mundiais. Praticamente não há leitor do Reino Unido ou das antigas colônias britânicas que não conheça os clássicos de baixo preço com a marca do pinguim preto, branco e cor-de-laranja. Já a Bertelsmann e sua Random House ostentam uma tradição de quase 180 anos.

Penguin Buchhandlung in London
Loja da Penguin em LondresFoto: Leon Neal/AFP/Getty Images

Ambas as multinacionais estão firmes no setor das publicações de massa, ao mesmo tempo em que se empenham em conquistar os melhores autores contemporâneos. A lista da recém-criada Penguin-Random House inclui um total de 70 prêmios Nobel de Literatura, entre os quais, Pamuk, Mo Yan e o alemão Günter Grass.

Uma vez que não houve restrições, nem por parte dos órgãos anticartel europeus nem dos norte-americanos, a fusão pôde ser completada antes do previsto. As atividades de ambas as editoras se concentram no setor da literatura leve, menos regulado pelas autoridades que controlam a concorrência: de seu ponto de vista, é irrelevante qual grupo lança qual autor de best-sellers.

Por outro lado, quando textos sobre educação ou ciência só são publicados por poucas fontes isoladas, seria o caso de a política interferir. "As editoras realmente grandes do mundo se dedicam sobretudo aos campos científico e educacional", afirma Rüdiger Wischenbart, especialista em assuntos livreiros. Em comparação com estas, mesmo após a megafusão, a Penguin-Random House não passa do quinto maior grupo.

Amazon, a inimiga comum

"A nova aliança editorial visa, acima de tudo, manter os livros visíveis num contexto em que o número de livrarias mingua cada vez mais", esclarece Markus Dohle, atual presidente da Random House em Nova York e futuro diretor executivo da nova empresa.

Dohle coloca o dedo, assim, num dos problemas mais graves que enfrenta o ramo. , Nos últimos anos, tem sido grande o número de bancarrotas espetaculares no ramo editorial, especialmente em países como os EUA ou o Reino Unido, onde – ao contrário da Alemanha ou da França – as publicações não obedecem a um acordo de preço único, fixado pelas editoras.

A norte-americana Borders, que já foi a segunda maior casa livreira do mundo, foi fechada em 2011. E, na luta de preços com as companhias de venda online e com os supermercados, cada vez mais lojas do ramo perdem sua base de subsistência. Na Inglaterra, desde 2006 quase a metade das livrarias desapareceu.

Random House Zentrale in London
Central londrina da Random HouseFoto: Leon Neal/AFP/Getty Images

Entre os observadores do setor, não há dúvida de que a fusão da Random House e a Penguin seja um bom passo. Acima de tudo, trata-se de criar um polo de resistência à hegemonia do grupo de comércio eletrônico Amazon, que nos últimos anos arrebatou uma posição vantajosa no ramo de vendas de livros.

Nos EUA, de longe o maior mercado livreiro do mundo, a Amazon vende mais livros do que todo o restante dos comerciantes. Na aquisição de mercadorias para revenda, ela usa o peso de sua posição para forçar as editoras a baixarem seus preços. No mercado de e-books, a fatia da gigante online chega a ultrapassar os 60%.

O ponto de vista dos autores

Contudo, esse inimigo comum não é a única ameaça ao comércio livreiro tradicional. Um certo perigo também parte dos próprios autores, que há um bom tempo perceberam que livros autopublicados têm chances consideráveis junto ao público. A Random House sentiu isso na própria pele: um de seus maiores sucessos recentes de vendas, Cinquenta tons de cinza (Fifty Shades of Grey), fora inicialmente publicado pela própria autora, E. L. James, na internet.

É bem possível que a fusão das duas tradicionais editoras seja apenas o sinal de partida para outras alianças e incorporações no setor. O diretor executivo da Bertelsmann, Thomas Rabe, revela que seu grupo tem reservados vários bilhões de euros, para expansões nos próximos anos.

Andere Buchhandlung in Köln-Sürth
Livrarias não virtuais são cada vez mais rarasFoto: DW

No que concerne o leitor, talvez tanto faça que editora publica seu livro do momento. A longo prazo, no entanto, uma progressiva concentração das editoras também significa que haverá no mundo cada vez menos empresas financeiramente sólidas concorrendo por bons livros.

Deste modo, uma megafusão, como a que acaba de originar a Penguin-Random House, não é necessariamente uma boa notícia para os autores, cuja posição poderá ficar mais ameaçada pela ação de editoras todo-poderosas.