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Efeitos da virada na política da Áustria para refugiados

Christoph Hasselbach (as)4 de março de 2016

Viena abandonou a postura de boas-vindas, apoiando o fechamento de fronteiras. Chanceler austríaco afirma que a Alemanha logo vai seguir o exemplo, e observadores dizem que isso já está acontecendo.

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Durante muito tempo, Werner Faymann e Angela Merkel andaram no mesmo ritmo, algo que agora é passadoFoto: Reuters/H. Hanschke

Há tempos que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, enfrenta críticas a sua política de portas abertas para os refugiados, mas ao menos com o governo da Áustria ela podia contar. Principalmente o chanceler social-democrata Werner Faymann era um parceiro confiável, com o qual Merkel podia colaborar mesmo eles sendo de correntes políticas diferentes. Tudo isso, porém, é passado.

Enquanto Merkel se mantém firme, ao menos oficialmente, na linha que adotou e, com isso, se isola cada vez mais na Europa, Viena executou uma reviravolta espetacular em poucas semanas. Agora, a própria Áustria executa a política da intimidação que, ainda em setembro, Faymann acusava o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, de levar adiante.

Em fevereiro, a Áustria determinou uma cota máxima para a entrada de refugiados no país. As autoridades registram no máximo 80 pedidos de asilo por dia. Na fronteira com a Eslovênia, foi erguida uma cerca de quatro quilômetros de extensão. No final do ano passado, quando a Hungria ergueu uma cerca na fronteira com a Sérvia, Faymann teceu duras críticas ao governo húngaro.

Mas o lance mais espetacular aconteceu em meados de fevereiro, quando a Áustria, pouco antes de uma cúpula decisiva da União Europeia (UE), afastou-se do esforço por uma solução comum. A Áustria se uniu a alguns países dos Bálcãs e do Leste Europeu e conseguiu que a Macedônia fechasse sua fronteira com a Grécia, membro da UE.

Há tempos que os austríacos estavam irritados com a "política de deixar passar" dos gregos em relação aos refugiados. Por isso, eles apostaram num efeito dominó ao longo da chamada rota dos Bálcãs, mesmo cientes de que isso deixaria pessoas retidas na Grécia.

Griechenland Flüchtlinge an der Grenze zu Mazedonien bei Idomeni
Refugiados na Grécia, perto da fronteira com a MacedôniaFoto: Reuters/M. Djurica

"Não vamos conseguir"

A reviravolta na política austríaca não é, porém, de todo surpreendente. Já no final do ano havia alguns ministros que expressavam ceticismo diante de uma política liberal de acolhimento de refugiados. A mais eloquente era a ministra do Interior, Johanna Mikl-Leitner, que integra o partido conservador ÖVP, minoritário na grande coalizão com o social-democrata SPÖ. "Temos de trabalhar o mais rapidamente possível numa fortaleza Europa", afirmou ela em outubro, quando o conceito "fortaleza Europa" ainda tinha conotação negativa.

Também o ministro do Exterior, Sebastian Kurz, igualmente do ÖVP, usou palavras claras ao se referir ao assunto, no final do ano passado. "Espero que nós, aqui na Europa, principalmente a Alemanha, digamos de forma simples e clara: 'É hora de encerrar a política do convite'."

Na época, o social-democrata Faymann ainda era contra isso e ressaltava a afinidade com Merkel. Hoje ele se afasta claramente da chanceler federal alemã. Se Merkel não concorda com o fechamento da fronteira da Macedônia, ela pode mandar buscar os refugiados na Grécia, afirmou, em tom de deboche. E, em referência ao famoso bordão da líder alemã "Vamos conseguir", Faymann disse: "Não vamos conseguir".

Popularidade de Faymann subiu

Internamente, Faymann se aproximou da opinião pública. Alev Korun, do Partido Verde, afirmou que "a aliança profana dos contrariados na União Europeia vai levar ao brusco fechamento de fronteiras e à relegação de pessoas em busca de proteção à Grécia". Só que a maioria dos austríacos pensa diferente.

Na comparação per capita, a Áustria acolheu ainda mais refugiados do que a Alemanha. O partido populista de direita FPÖ, liderado por Heinz-Christian Strache, está se aproximando dos 30% nas pesquisas e seria, assim, a terceira maior força política do país. Os ataques durante a noite de Ano Novo em Colônia elevaram ainda mais o ceticismo em relação a estrangeiros.

A mudança na política para refugiados gerou efeito imediato para Faymann. Ainda há pouco, ele era criticado por não mostrar liderança. Agora, seu índice de popularidade está claramente subindo.

Favor para a Alemanha

Faymann e seus ministros não estão apenas apresentando a reviravolta política da Áustria como um mal necessário, eles afirmam também que prestaram um favor inestimável à Alemanha. O ministro da Defesa, Hans-Peter Doskozil, do SPÖ, declarou que a Alemanha está ganhando enormemente com as medidas de controle de fronteiras da Áustria na rota dos Bálcãs.

O próprio Faymann disse, em meados de fevereiro, que a Áustria adotou medidas que a Alemanha também adotará. "Estou certo de que logo estaremos falando de novo em uníssono", declarou.

Observadores afirmam que essa hora já chegou, ainda que Merkel não admita. O vice-chanceler alemão, o social-democrata Sigmar Gabriel, afirmou na quarta-feira: "A mudança repetidamente exigida na política europeia já aconteceu."

Outro sinal para isso é o recente conselho de Merkel às pessoas que estão retidas na fronteira da Grécia com a Macedônia para que, por enquanto, elas permaneçam na Grécia. Em setembro, ela abriu as fronteiras alemãs aos que estavam retidos na Hungria. Apesar da evidente diferença entre esses dois gestos, Merkel diz que nada mudou.