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'El Che vive!'

Simone de Mello9 de outubro de 2007

Che Guevara, assassinado há 40 anos no interior da Bolívia, sobrevive no mundo todo como uma marca registrada da rebelião jovem, por mais que este ícone seja dissociado das verdadeiras causas do guerrilheiro argentino.

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Camiseta com a legendária imagem de Che criada pelo artista irlandês Jim FitzpatrickFoto: AP

Em meados deste ano, uma disputa na Câmara Estadual da Renânia do Norte-Vestfália lembrou que Che Guevara – assassinado há exatamente 40 anos – ainda é visto como ameaça. É que um deputado democrata-cristão exigiu que se retirasse dos corredores da ala da Câmara reservada à bancada social-democrata um pôster do guerrilheiro argentino.

Che Guevara
Che Guevara, em 1962Foto: AP

"Como os senhores sabem, Che Guevara lutava por uma revolução socialista", advertiu o deputado conservador Olaf Lehne, numa carta aberta aos social-democratas. Para ele, o retrato do revolucionário e "assassino em massa" contradiria o "livre espírito" da Câmara.

Che para as massas

O pôster de Che – na famosa representação do artista irlandês Jim Fitzpatrick, com a conhecida frase Hasta la victoria siempre! – continua no corredor. Os deputados social-democratas descartaram a carta como reivindicação "ridícula", alegando apenas que Che é um "símbolo cult da juventude".

Essa anedota noticiada na época pelo diário tageszeitung mostra uma curiosa inversão: ao que parece, os conservadores levam a causa da luta armada mais a sério do que os sobreviventes da geração de 68.

CDU-Wahlkampf: Angela Merkel T-Shirt als Che Guevara
Angela "Che" Merkel, camiseta para campanha eleitoral da União Democrata Cristã, 2005Foto: AP

Afinal, tanto para os social-democratas da Câmara renana quanto para consumidores do mundo inteiro, Che já virou há muito tempo uma marca praticamente dissociada da pessoa do guerrilheiro mártir, sitiado pelo exército boliviano numa escola do vilarejo de La Higuera, na Bolívia, e baleado a 9 de outubro de 1967.

Che de ponta-cabeça

"Um símbolo pop da rebelião jovem", assim qualificou o porta-voz da Juventude Verde esse mito da esquerda revolucionária, cujo retrato a óleo, em vermelho e preto, está pendurado em sua sede federal, em Berlim. Mas o retrato está virado de cabeça para baixo. Isso mostra que os jovens verdes lidam com essa personagem de forma crítica, explicou o porta-voz à imprensa alemã.

Entre os ícones da esquerda revolucionária – Mao Tsé Tung, Fidel Castro e Che Guevara – talvez realmente este último seja o único a sobreviver. Mao, falecido aos 82 anos, e Fidel, adoecido, mas ainda no poder, talvez tenham vivido demais para se manterem ícones. Tudo o que fizeram em nome da revolução pôde ser apurado ao longo de sua trajetória, o que certamente confere um gosto amargo demais para uma marca registrada comercializável. Che morreu jovem, com muito a fazer, e por isso "vive".

Che Guevara, Havanna, 1962
Che Guevara, Havana, 1962Foto: Studienzentrum Che Guevara Kuba

Na Alemanha, Che Guevara era leitura obrigatória dos integrantes da Fração do Exército Vermelho (RAF). Mas talvez o fato de ter atuado na bem sucedida Revolução Cubana, na paisagem exótica do Congo e no jungle boliviano, ou seja, bem longe do continente europeu, contribua para a livre circulação de sua marca revolucionária. Um pôster com símbolo da RAF dificilmente estaria nos corredores de uma Câmara Estadual.