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Música

3 de outubro de 2011

Cantora faz shows na Alemanha, três meses após cirurgia na coluna. Em Colônia, ela falou à Deutsche Welle sobre o Brasil, direitos dos homossexuais e projetos sociais.

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Elza Soares em ColôniaFoto: DW/Tadeu

Conhecida por sempre ter dado provas de força e determinação em momentos de adversidade, ao longo de toda uma vida repleta de conquistas e tragédias pessoais, Elza Soares se apresenta mais uma vez na Alemanha.

Em Colônia, ela participou da terceira edição do festival Cinema conta Música, trazendo canções de Jorge Ben Jor, Chico Buarque, Ataulfo Alves e Jorge Aragão, entre outros, e de Dindi (composição de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira), ápice de uma apresentação impecável.

A cantora ficou todo o tempo sentada no palco, devido a uma cirurgia na coluna, realizada há três meses no Brasil. Após o espetáculo, Elza Soares falou à Deutsche Welle.

Deutsche Welle: Você tem uma antiga gravação de "Mack the Knife", parceria de Bertolt Brecht e Kurt Weill. O que a  levou a gravar esse clássico alemão?

Elza Soares: Se eu soubesse que essa música é um clássico aqui na Alemanha, a teria cantado hoje aqui. Acho maravilhosa essa canção, que tem versão de Alberto Ribeiro, que é a que eu canto. Foi a minha gravadora na época que veio com a ideia de que eu a gravasse. Adorei!

Pouca gente sabe que você chegou a estudar saxofone com o maestro Moacir Santos nos Estados Unidos, nos anos 80. Que lembranças você guarda dessa época e o que foi feito da Elza saxofonista?

O meu sax está guardado em casa, não estou podendo tocar agora por causa da minha operação. Foi o próprio Moacir que me presenteou esse sax, que é uma relíquia para mim. Foi um presente que ele me deu na época em que eu tinha perdido o meu filho (N.R.: Garrinchinha, filho do jogador Garrincha, de nove anos, morto em acidente de automóvel em 1986), e eu saí feito louca e fui morar nos Estados Unidos, em Los Angeles. O Moacir morava em Pasadena e, quando soube que eu também estava por lá, veio me ver e disse: "Elza, tem que chorar, tem que sentir. E para que você chore, tome o  'sexofone'".

Você realizou há poucos meses uma delicada operação na coluna. A intervenção médica foi decorrência do acidente que você sofreu em 1999, ao cair do palco de uma casa noturna do Rio de Janeiro?

 Sim, foi por causa daquele tombo no Metropolitan. Tive que fazer o show de hoje sentada. Ainda estou me recuperando dessa operação, com essa coisa toda minha que dizem ser bravura, mas que nem eu sei se é isso mesmo, ou se é falta de discernimento meu. Eu às vezes me pergunto se não estou ficando louca. Três meses depois da operação e olha eu aqui fazendo show.

Você declarou certa vez à imprensa brasileira que Elza Soares deve muito ao mundo gay. Você se surpreendeu com a recente legalização do casamento entre homossexuais no Brasil? O que você acha das marchas pelo orgulho gay que vêm sendo feitas no Brasil?

Acho muito bom, é um momento importante. Mas acho também que, para os gays no Brasil fazerem valer os seus direitos, eles deveriam se manifestar sem fazer muita festa, para que fossem respeitados de verdade. Que se fizesse uma passeata, mas com muita seriedade. A gente sabe que todos ali estão lutando pelo seu lugar. É sair buscando que se encontra.

O que foi feito da Fundação Elza Soares? Quais eram os objetivos da entidade que você concebeu?

Eu tinha em minha casa um trabalho voltado para os gays que trabalhavam com Brigitte Blair, que quando eles ficavam doentes, no "meio da rua", eu tinha como ampará-los com remédios, dando encaminhamento para eles e tal. Mas a fundação acabou não se concretizando.

Agora eu tenho ideia de fazer algo com as mulheres, porque nós, mulheres, somos muito desunidas. Meu objetivo seria de fazer um trabalho que envolvesse prostitutas, professores, donas de casa, intelectuais, cada uma com a sua experiência. Seriam reuniões a cada 15 dias, um chá para mulheres. O desejo de fazer isso continua.

Você é uma artista que sempre teve coragem de dizer o que pensa e que não ignora a grave questão social no Brasil. Qual sua opinião sobre as UPP's, as Unidades de Polícia Pacificadoras, que vêm sendo instaladas nas favelas do Rio de Janeiro?

A minha opinião sempre foi muito aberta, mas eu paguei muito caro por isso. Fui expulsa do Brasil com Mané Garrincha, com quem fui casada. Um verdadeiro absurdo. Expulsar o Mané foi uma coisa muito bruta, um cara que só gostava de passarinho. Fomos expulsos, fomos viver em Roma, onde estava Chico Buarque, enquanto Gil e Caetano estavam em Londres. Mas eu sempre dou minha opinião, não quero saber, a vida é minha, o trabalho é meu. Eu trabalho para ganhar o meu pão de cada dia e não é possível que me calem à toa.

As UPP’s te agradam?

As UPP’s são… as UPP’s. Eu acho que o Rio de Janeiro continua lindo. É triste quando chove, mas ele continua lindo. Eu acho que tudo vai dar certo no Brasil. Seja com pedra ou sem pedra, pulando ou saltitando. No final dá certo.

Entrevista: Felipe Tadeu
Revisão: Roselaine Wandscheer