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Polêmicas em bienal de arte Manifesta da Rússia

Anastassia Boutsko (rc)27 de junho de 2014

Décima edição acontece no museu Hermitage, em São Petersburgo, superando ameaças de boicote e causando controvérsia, devdo a recente lei russa contra homossexuais.

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O arco do triunfo do Palácio do Estado Maior, um dos prédios do HermitageFoto: picture-alliance/Arco

A Manifesta é uma bienal de arte contemporânea sem local fixo. Desde 1996, a exposição viaja pela Europa, tematizando turbulências sociais e econômicas no continente. Em 2010, por exemplo, a mostra foi realizada na cidade de Múrcia, em meio à grave crise econômica da Espanha, com reflexos sobretudo na oferta de emprego.

Agora, pela primeira vez, a Manifesta será realizada em território da antiga União Soviética. A partir de 28 de junho, a cidade de São Petersburgo, na Rússia, receberá a décima edição do evento.

Convite ao Hermitage

O local da exposição é o mais importante templo de arte da Rússia: o museu Hermitage. Com a Manifesta, o museu não apenas comemora seu 250º aniversário, mas também pode fazer jus à fama de ter um acervo atual.

Há cinco anos foi lançado o programa Hermitage 20/21. O departamento de arte moderna do museu é encabeçado pelo ousado curador Dmitri Ozerkov, que estudou por um ano na Alemanha como bolsista do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) e já organizou exposições que fizeram parte da Bienal de Veneza.

Sob o lema "Hermitage: Arte Moderna – há 250 anos", Ozerkov tem o objetivo de dar uma grande contribuição ao aniversário do museu. Ele teve o apoio do influente diretor do Hermitage, Michail Piotrovskiy, o que resultou no convite à Manifesta para ir a São Petersburgo.

Kasper König
O curador da Manifesta em São Petersburgo, Kasper KönigFoto: picture-alliance/dpa

Para ser o curador da exposição foi chamado o alemão Kasper König, uma importante figura no cenário artístico internacional. Por 12 anos, ele administrou o Museu Lüdwig, em Colônia, na Alemanha. "É um homem experiente, que sabe que se deve agir com diplomacia num organismo tão complexo como o Hermitage", observou Ozerkov.

Logo após König assinar o contrato, a atmosfera política na Rússia mudou, com a nova lei contra os homossexuais no país. "Foi aí que me dei conta de que trabalhava num país onde não há sociedade civil", afirma König à DW.

Por duas vezes, artistas cogitaram boicotar a exposição. No ano passado, um grupo de jovens artistas europeus se manifestou em carta aberta ao curador. Eles estavam preocupados que uma exposição de prestígio internacional como a Manifesta pudesse transmitir uma imagem liberal a um estado "ditatorial" como a Rússia.

Logo após o início da crise na Crimeia, o coletivo de artistas russos Chto delat? (O que fazer?), que já havia confirmado participação, chamou um boicote à Manifesta. No entanto, eles acabaram mudando de ideia e vão participar com uma performance no âmbito da exposição.

"Um boicote só faz sentido se puder fazer alguma diferença", observa Ekaterina Degot, renomada crítica de arte russa, em entrevista à DW. No entanto, a Manifesta é um evento pequeno, e o presidente russo Vladimir Putin não está nem aí se ele vai ocorrer ou não.

Grandes expectativas, apesar dos problemas

O tema do evento, definido pelo Hermitage, é o diálogo entre o antigo e o novo. Cinquenta artistas clássicos, como Gerhard Richter, Joseph Beuys e Ilia Kabakov, estão representados com seus trabalhos. Mas Kasper König também convidou artistas das gerações mais jovens, como Wolfgang Tillmans, Katharina Fritsch, Francis Alys e Erik van Lieshout, para contribuir com suas obras.

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Obra de Francis Alÿs, que integra a Bienal ManifestaFoto: Francis Alÿs - courtesy of the artist and David Zwirner Gallery.

Um desafio adicional para o curador foi interligar os dois espaços da exposição: o edifício principal do Hermitage e as novas dependências localizada no Palácio do Estado Maior, que fica em frente ao prédio principal.

Para isso, König passou alguns dos grandes trabalhos de Henri Matisse do edifício principal para o Palácio do Estado Maior. Na sala Matisse, a artista africana Marlene Dumas expõe retratos de intelectuais homossexuais, como Oscar Wilde, Peter Tchaikovsky e Jean Genet.

A contribuição é considerada um protesto contra a polêmica lei contra os homossexuais. Um dos retratos é de um herói local, morto no ano passado em São Petersburgo, o transformista e ator performático Vladislav Mamyshev-Monroe, que encarnava celebridades famosas, como a atriz Marilyn Monroe.

O fotógrafo ucraniano radicado em Berlim Boris Mikhailov apresenta seu último projeto, constituído de uma série de fotos da Maidan – a Praça da Independência de Kiev, epicentro dos protestos que resultaram na queda do ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovytch.

A ucraniana Alevtina Kahidze, considerada um símbolo da arte do leste da Ucrânia, também estará presente à exposição. De São Peterburgo, ela vai telefonar todos os dias com a mãe, que está na região dos conflitos em Donetsk.

Uma coisa é certa: a décima edição da Manifesta escolheu um local audacioso. Esta poderá ser a mais complicada bienal nos 20 anos de história da Manifesta.