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SaúdeÍndia

Em meio à pandemia, Índia enfrenta surto de "fungo negro"

21 de maio de 2021

Explosão de casos de infecção grave leva à escassez de antifúngico usado no tratamento da doença. Uso desenfreado de esteroides contra a covid-19 pode ter contribuído para propagação da mucormicose.

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Médico com máscara segura um exame e conversa com um paciente deitado em uma cama. Ele tem curativo nos olhos. A sala é grande e tem muitos pacientes.
Em casos graves da doença, olhos precisam ser retirados para salvar a vida dos pacientes. Foto: Uma Shankar Mishra/AFP/Getty Images

Além da covid-19, a Índia enfrenta um surto de mucormicose, uma uma doença fúngica rara que está atacando pacientes debilitados pelo coronavírus. A doença aumenta ainda mais a pressão sobre os hospitais indianos, já superlotados.

Em meio ao surto, o governo da Índia ordenou uma vigilância mais rigorosa da mucormicose e disse nesta sexta-feira (21/05) que está empenhado em aliviar a escassez de um medicamento usado para tratar a doença fúngica rara.

Pelo menos 7.250 desses casos foram reportados em toda a Índia até 19 de maio, informou a mídia local. Até 2020, apenas cerca de 20 casos de mucormicose eram registrados no país por ano. Nove estados já declararam epidemia da doença.

A mucormicose foi apelidada de "fungo negro" porque causa escurecimento ou descoloração nas áreas próximas ao nariz. Ela se propaga pelo corpo, destruindo pele, músculos, ossos e órgãos. Alguns dos sintomas são visão turva ou dupla, dor no peito, dificuldades respiratórias e tosse com sangue.

A doença mata mais de 50% dos pacientes em poucos dias e, em alguns casos, os cirurgiões removeram os olhos e a mandíbula superior para prevenir a propagação da doença.

"Nesta nossa batalha, agora temos um outro novo desafio, o fungo negro", escreveu no Twitter o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.

Para tentar aprimorar a resposta à doença, o secretário adjunto do Ministério da Saúde indiano, Lav Agarwal, pediu a autoridades estaduais que a enfermidade seja declarada como "doença notificável" sob a Lei de Epidemias, o que significa que os governos locais devem identificar e rastrear todos os casos.

Na capital, Nova Délhi, serão ainda criadas enfermarias hospitalares especiais para o tratamento da mucormicose.

Com o aumento das infecções, o Ministério da Saúde indiano disse que está tentando ampliar o número de empresas que produzem o medicamento antifúngico anfotericina B, usado para tratá-la. Além disso, o país pretende aumentar as importações do fármaco. Segundo a pasta, o plano é aumentar em 250% o fornecimento do medicamento.

Somente no estado de Maharashtra, onde fica a metrópole financeira Mumbai, foram relatados 1.500 casos de mucormicose e 850 pacientes estão em tratamento.

"Um paciente precisa de 60 a 100 injeções [de anfotericina B] dependendo da gravidade da doença. Com o número atual de casos, precisamos de mais de 150.000 injeções", disse o secretário da saúde de Maharashtra, Rajesh Tope.

Uso de esteroides está ligado à alta de casos

Pacientes infectados com o coronavírus e com o sistema imunológico enfraquecido, além de diabéticos são particularmente propensos à mucormicose. Médicos acreditam ainda que esteroides fortes usados ​​para tratar casos graves de covid-19 podem reduzir a imunidade e aumentar os níveis de açúcar, ajudando na propagação do fungo.

Um agravante é o uso desenfreado de esteroides no país, que podem ser comprados facilmente, no tratamento da covid-19. "As pessoas começaram a usar [esteróides] liberada, excessiva e inadequadamente", disse o professor K. Srinath Reddy, da Fundação de Saúde Pública da Índia.

Para Reddy, a água contaminada em cilindros de oxigênio ou em umidificadores de ar também facilita que o fungo se espalhe rapidamente.

A mucormicose ocorre quando os extremamente comuns fungos mucorales (presentes, por exemplo, no bolor do pão) atacam os sinos nasais ou o pulmão de indivíduos com o sistema imunológico debilitado – entre eles, pacientes ou recém-recuperados de uma infecção com o novo coronavírus. 

Antes da pandemia, a doença costumava ser vista apenas em pessoas com imunidade gravemente comprometida, como pacientes com HIV ou transplantados.

le (reuters, dpa, afp)