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Com Wim Wenders, Karim Aïnouz lança documentário na Berlinale

Carlos Albuquerque21 de janeiro de 2014

Depois de o novo longa do cineasta brasileiro, "Praia do Futuro", ter sido indicado ao Urso de Ouro, Aïnouz participa do projeto de documentários "Catedrais da Cultura" sobre a alma de edifícios internacionais.

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Centre Georges-Pompidou
Detalhe do Centre Georges Pompidou, em Paris, que Karim Aïnouz filmou em 3DFoto: cc by sa Aldrik

Neste ano, o cineasta cearense Karim Aïnouz é uma forte presença na 64ª edição da Berlinale, o Festival Internacional de Cinema de Berlim. Além do longa Praia do Futuro, estrelado por Wagner Moura, ter sido selecionado como único representante do Brasil na competição oficial do Festival, Aïnouz estreia, na seção Berlinale Special, um filme em 3D. Produzido pelo premiado diretor alemão Wim Wenders, o documentário enfoca a arquitetura do Centro Georges Pompidou, também conhecido como Beaubourg, em Paris.

O anúncio foi feito na última quinta-feira (16/01) pela organização do Festival. No total, a seção Berlinale Special está trazendo nove estreias mundiais para Berlim. Em entrevista à DW Brasil, o cineasta cearense afirmou que "trabalhar com o Wenders foi um prazer. Foi a primeira vez que eu filmei em 3D. Escolhi o Centro Georges Pompidou por ser um prédio do qual eu tenho muitas memórias."

Trata-se do projeto Catedrais da Cultura, no qual Wenders dá continuidade às suas pesquisas cinematográficas em três dimensões, junto a cinco outros renomados diretores de cinema. Além de ser o produtor executivo do projeto, Wenders também assumiu a direção do documentário sobre o prédio da Filarmônica de Berlim, projetado pelo arquiteto alemão Hans Scharoun e inaugurado em 1963.

O ator e diretor americano Robert Redford também participa do projeto com um filme sobre o edifício do Instituto Salk para Estudos Biológicos, localizado em La Jolla, nos arredores de San Diego, na California. O projeto do Instituto Salk é assinado por Louis Kahn, uma das grandes estrelas da arquitetura americana do século 20.

Wim Wenders
Projeto do cineasta alemão Wim Wenders quer retratar "alma de edifícios"Foto: dapd

Além de Wenders, Redford e Aïnouz, Catedrais da Cultura conta ainda com um documentário do austríaco Michael Glawogger sobre o prédio da Biblioteca Nacional da Rússia, em São Petersburgo e com um filme em 3D sobre a Ópera de Oslo, dirigido pela cineasta norueguesa Margreth Olin. Completando o sexteto, o diretor e artista conceitual dinamarquês Michael Madsen traz para a Berlinale um filme sobre a prisão de Halden, na Noruega, considerada uma das prisões mais humanas da Europa.

Lembranças de Paris

Karim Aïnouz foi um dos seis aclamados diretores que trouxeram seu próprio estilo visual e sua própria abordagem artística para a série de documentários. Para Aïnouz, que antes de estudar cinema formou-se em arquitetura na Universidade de Brasília, trabalhar no projeto de Wenders foi também uma forma de revisitar uma antiga paixão.

"Quando mudei para Paris na minha adolescência, [o Centro Georges Pompidou] era o lugar da cidade que abrigava uma diversidade enorme de pessoas – ali tinha gente de tudo que é lugar do mundo. Tenho uma relação sentimental com o prédio, com o lugar. Era um lugar onde eu me sentia abraçado pela cidade. Fazer um documentário sobre o Beaubourg é também um jeito bonito de revisitar uma paixão antiga: a arquitetura, minha primeira profissão", disse o diretor à DW Brasil.

Karim Ainouz
Aïnouz estudou arquitetura antes de fazer cinemaFoto: Karim Ainouz

Justificando a escolha pelo Centro Georges Pompidou a partir da perspectiva de um arquiteto, Aïnouz explicou em entrevista exclusiva à DW Brasil que, "como arquiteto, vejo o espaço, a estrutura, enfim, as formas de uma maneira própria. E o Beaubourg é um prédio muito interessante para ser retratado em 3D – volumes livres e transparência são muito férteis para serem capturados em três dimensões."

Quanto às peculiaridades do prédio, o diretor salientou ainda que "apesar de todas as tubulações e cores, a estrutura do bloco é mantida, e em frente a ele, há uma praça, ou seja, o caráter do prédio varia entre a liberdade e o tradicional, e isso releva qualquer apreensão artística."

Explorando a alma dos edifícios

De acordo com o site do projeto, a pergunta feita em Catedrais da Cultura é: "Se os edifícios pudessem falar, o que eles diriam sobre nós? Este projeto de filme em 3D sobre a alma dos edifícios permite que seis prédios muito diferentes e icônicos falem por eles mesmos, examinando a vida humana a partir da perspectiva impassível de uma estrutura produzida pelo ser humano."

Considerando que os edifícios "nos mostram que são manifestações materiais do pensamento e da ação humanas", Catedrais da Cultura explora como cada um desses marcos arquitetônicos – uma sala de concertos, uma biblioteca, um instituto de pesquisa, uma prisão, um centro cultural e uma casa de ópera – reflete nossa cultura e guarda nossa memória coletiva, segundo diz o texto no site de Wenders.

O nome da empreitada – Catedrais da Cultura – também relembra os primórdios do modernismo no início do século 20 na Alemanha, quando os artistas da Bauhaus elegeram a construção da "catedral do futuro" como lema da famosa escola de arquitetura e artes aplicadas. Inspirada na ideia da construção das catedrais medievais, inicialmente, a Bauhaus procurava reunir artes e ofícios para atender à sociedade do futuro, pacífica e sem contradições.

Adepto do 3D

Com Catedrais da Cultura, o premiado diretor de Asas do Desejo (1987) dá continuidade ao desenvolvimento de sua obra em 3D. Em 2010, na Bienal de Veneza, Wenders apresentou uma videoinstalação de 26 minutos em 3D sobre um projeto do escritório japonês de arquitetura Sanaa.

No ano seguinte, Wim Wenders estreou o premiado Pina, também em 3D, um documentário sem precedentes sobre o trabalho da coreógrafa alemã Pina Bausch, que faleceu pouco antes do início das filmagens. Na época, Wenders afirmou que as peças de Pina Bausch eram uma experiência corporal, que só poderia ser transportada para a tela em 3D.

O próximo filme de Wenders também será em 3D: Everything Will be fine. Com James Franco e Charlotte Gainsbourg no elenco, o filme se encontra atualmente em produção e conta a história de um homem que, após um duro choque, passa a ver o mundo com outros olhos, aprendendo a aceitar o que não pode mais ser mudado. Sobre o filme, Wenders disse estar convencido de que a tecnologia 3D "possibilita uma dimensão completamente nova da proximidade emocional em relação à história e seus protagonistas".