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Em São Paulo, mostra Ecofalante destaca produções do cinema ambiental

Marco Sanchez20 de março de 2014

Maioria dos filmes da terceira edição é inédita no Brasil. Festival se consolida como espaço para ver produções que dificilmente chegam ao circuito comercial brasileiro.

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Foto: Divulgação/Press

Fugir de clichês como "politicamente correto" é uma das propostas da 3ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental, que acontece a partir desta quinta-feira (20/03) em São Paulo. Com variadas abordagens e formatos, o festival apresenta 60 filmes, entre longas, médias e curtas-metragens de mais de 30 países, todos com temática ambiental.

A maioria dos documentários e filmes de ficção que compõem a mostra é inédita no Brasil. Entre os destaques estão Terra da Esperança, de Sion Sono, primeiro longa de ficção japonês inspirado no desastre nuclear de Fukushima, e o polêmico Blackfish – Fúria Animal, de Gabriela Cowperthwaite, sobre Tilikum, a principal baleia orca do parque SeaWorld, em Orlando, nos EUA, responsável pela morte de três pessoas.

Em sua terceira edição, a Ecofalante se consolida como um espaço para ver filmes que dificilmente chegam ao circuito comercial brasileiro. Segundo o diretor da mostra, Chico Guariba, o evento também é "um espaço para promover o debate e a reflexão sobre questões do nosso dia a dia".

Filmstill Black Fish
"Blackfish – Fúria Animal" mostra a baleia orca responsável pela morte de três pessoasFoto: Divulgação/Press

Passado e futuro

Este ano, o Ecofalante traz duas novidades – a premiação para o melhor filme latino-americano, escolhido por um júri de especialistas e pelo voto popular, e um circuito universitário, que levará filmes e debates a diferentes instituições de ensino, com o objetivo de discutir os temas do festival com futuros formadores de opinião.

O grande homenageado da edição 2014 da mostra é o repórter, editor, diretor e colunista Washington Novaes, vencedor do Prêmio Unesco de Meio Ambiente 2004. Como editor-chefe do Globo Repórter, da Rede Globo, Novaes dirigiu documentários como Amazonas – a pátria da água e As crianças do reino do Porantim. Como diretor independente, é o autor de Kuarup, Pantanal e Xingu - A terra mágica, que será exibido em São Paulo.

Outro homenageado pela sessão Panorama Histórico é o diretor e roteirista japonês Kaneto Shindo, morto em 2012. Nascido em Hiroshima em 1912, Shindo escreveu mais de 200 roteiros e dirigiu 49 filmes, com destaque para Filhos de Hiroshima, que conta a história de uma professora que retorna à cidade após o bombardeio atômico. O filme foi exibido no Festival de Cannes de 1953.

Os diversos filmes da Ecofalante abordam temas como energia nuclear, uso de animais como cobaias, organismos geneticamente modificados, urbanismo, extração de recursos naturais e as dificuldades que comunidades remotas enfrentam para manter suas tradições. Os filmes são classificados em temas como campo, economia, energia, povos, lugares e cidades.

Filmstill The Venice Syndrome
Tema de "A síndrome de Veneza" é o turismo de massa e suas consequênciasFoto: Divulgação/Press

Cidades não singulares

Um dos filmes da mostra temática "cidades" é A síndrome de Veneza, do diretor alemão Andreas Pichler. A mostra apresenta obras que refletem sobre os efeitos da perversa lógica de transformação e eliminação das singularidades de cada cidade em nome do capital mundial, um modelo que já dá sinais de exaustão, mas que segue em voga.

Veneza, na Itália, sofre enorme pressão do turismo de massa, ao mesmo tempo em que necessita desse turismo. "Estava interessado em investigar o que acontece com uma cidade, com um lugar, quando ele se entrega totalmente ao turismo. Cresci a três horas de Veneza e tenho uma relação muito próxima com a cidade", diz Pichler, em entrevista à DW Brasil.

"Ainda acho que Veneza é um lugar maravilhoso, que vale a pena a visita, mas acredito que a mentalidade das pessoas da cidade é muito fraca, e ela não poderá continuar a mesma se nada for feito. Veneza vai se tornar cada vez mais uma cidade invadida pelo turismo de massa", explica o diretor.

Ele afirma que festivais como a Ecofalante são uma oportunidade para sensibilizar o público. "O filme já criou uma grande discussão na Itália e na Alemanha. Acho importante o Brasil também se conscientizar sobre as consequências do turismo de massa."

Filmstill Redemtion Impossible
"Os Sub-humanos" aborda o uso de animais pela indústria farmacêuticaFoto: Divulgação/Press

Questões da nossa civilização

Os Sub-humanos, dos diretores Claus Strigel e Christian Rost, será exibido ao lado de filmes que mostram os desdobramento da economia e suas drásticas consequências para o planeta.

"A ideia para o filme nasceu de uma reportagem de jornal que falava sobre uma espécie de santuário ao ar livre que estava sendo planejado na Áustria para chimpanzés traumatizados. Ficamos fascinados com a ideia da convivência desses 40 animais e as quatro pessoas responsáveis por eles", diz Strigel.

O filme explora a convivência social entre esses chimpanzés, que sobreviveram a experimentos com HIV. "Duas das supervisoras já tinham envolvimento com os animais, pois trabalhavam na indústria farmacêutica", completa. O documentário também aborda a forma ilegal que esses animais chegaram à Áustria, em 1986.

"Queríamos fazer um filme que tratasse de questões da nossa civilização: a culpa, a responsabilidade, a reparação. Aquelas pessoas nunca tinham falado de seu passado, foi um processo doloroso, mas também corajoso e ousado. O filme mostra que o homem é capaz de fazer o mal, mas também o bem", afirma o diretor.

O alemão se diz surpreso com o interesse internacional pelo filme, que já foi exibido em mais de 20 festivais. "Ganhamos dois prêmios na China, um feito interessante, pois hoje grande parte dos experimentos com animais são terceirizados na Ásia", comenta Strigel.

Presença alemã

"Para documentários e filmes de baixo orçamento, festivais como a Ecofalante são a única maneira de chegar ao público internacional. Esses filmes só farão alguma diferença se forem vistos", diz Claus Strigel.

Além de Os sub-humanos e de A síndrome de Veneza, a Alemanha participa da mostra com mais um título e duas co-produções. Ecumenópolis: A cidade sem limites, de Imre Azem, é uma co-produção com a Turquia e conta história de Istambul e outras megacidades. O teuto-espanhol A Revolução do Lítio, de Andreas Pichler e Julio Weiss, trata da escassez de recursos naturais.

O tema da energia também é o mote de Metamorphosen, de Sebastian Mez, que mostra a vida de pessoas que moram na região do Ural, no sul da Rússia, uma das mais contaminadas por radiação.

A terceira edição da "Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental" acontece até o dia 27/03 em diversos cinemas de São Paulo. As sessões têm entrada gratuita.