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Encontro a três em Berlim desperta desconfiança na UE

Neusa Soliz18 de fevereiro de 2004

Temendo a formação de um núcleo de liderança na Europa, países pequenos e novos na União Européia protestam contra o encontro de Schröder, Chirac e Blair em Berlim.

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Chirac e Blair, pré-acertos com Schröder na capital alemãFoto: AP

Um ano atrás, quando se tratava de mandar tropas ao Iraque, Tony Blair estava de um lado e seus colegas Gerhard Schröder e Jacques Chirac, de outro. Hoje, as divergências estão esquecidas e os chefes de governo britânico e alemão e o de Estado francês se reúnem em plena harmonia em Berlim. Parte da imprensa alemã acha que o intuito é demonstrar quem pretende assumir a liderança na União Européia.

Um núcleo para manobrar o pesado gigante UE

A idéia é criar um núcleo de iniciativas. Elas seriam concretizadas por alguns países, e tais estruturas estariam abertas a adesões posteriores. Isso parte do pressuposto que a União Européia com 25 membros a partir de 1º de maio será um gigante sem capacidade de ação. Principalmente porque não se chegou a um acordo para reformar e agilizar o processo de decisões. Em dezembro, fracassou a aprovação do projeto de uma Constituição da UE que regulamentasse tudo isso. As negociações permanecem em impasse.

Tal núcleo se apóia no eixo Paris-Berlim, que tem sido o motor da integração européia nas últimas décadas. Com a adesão britânica, ele seria ampliado, agora para um trio. Os excluídos não gostaram da idéia. A resistência parte de três frentes: da Espanha e Itália, dos países pequenos e dos novos membros, a maioria do Leste Europeu.

Resistência à ampliação do eixo teuto-francês

Todos se sentiram passados para trás. Eles temem uma maior influência do trio, uma cisão na UE e que o núcleo crie "uma Europa de duas velocidades". A dos pioneiros que dão os primeiros passos, e a dos demais que tratam de acompanhá-los.

Dois dias antes do encontro Blair-Schröder-Chirac, Espanha, Itália, Portugal, Holanda, Polônia e Estônia agruparam-se para o contra-ataque. Assinaram uma carta exigindo o cumprimento estrito do Pacto de Estabilidade. Seu alvo: Alemanha e França com seus altos déficits orçamentários.

Der italienische Ministerpräsident Silvio Berlusconi, Porträt
O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, não quer saber de uma "diretoria" formada por Blair, Schröder e ChiracFoto: AP

O abaixo-assinado reuniu países das três frentes de oposição ao "núcleo" – expressão cunhada pelo alemão Gerhard Schröder. O premiê italiano, Silvio Berlusconi, usou uma outra, nesta quarta-feira, ao protestar: "A União Européia não precisa de uma diretoria."

Londres, o Leste Europeu e o novo centro da UE

Toni Blair, pressionado em casa por uma forte oposição à UE, nega com veemência que esteja se formando uma diretoria de três. Mas ele não quer ver a Grã-Bretanha isolada: "Eu creio firmemente que a Grã-Bretanha deve desempenhar um papel de liderança no centro da Europa, e não ficar à margem."

Mas Blair vê seu papel no trio como o de porta-voz dos novos membros, que são pró-britânicos e pró-americanos, na sua opinião. Depois do domínio soviético, os países do Leste Europeu são zelosos de sua soberania e querem participar em pé de igualdade da nova União Européia.

Segundo manifestou um diplomata tcheco em Bruxelas, Alemanha, França e Grã-Bretanha são países importantes, mas com a ampliação da UE em maio, o centro geográfico se desloca para o Leste.

Londres já se aproximou de Paris e Berlim em novembro do ano passado, quando se aprovou a criação de uma política de defesa comum européia. Ela foi de iniciativa da França e Alemanha, apoiadas pela Bélgica e Luxemburgo, ou seja do "núcleo".

De pioneiros e diferentes marchas de velocidade

Bundeskanzler Gerhard Schröder und Jacques Chirac
Jacques Chirac e Gerhard Schröder, eixo Paris-Berlim tem tradição de 50 anosFoto: AP

O presidente francês explica sua leitura do processo: "Esses países saem na frente com medidas, como aconteceu com o euro e o Acordo de Schengen. Sob duas premissas: não se pode violar o direito comunitário e a porta tem que estar aberta para os que preencham certas condições."

Isso implicaria necessariamente em duas velocidades no andamento da UE. "A Alemanha vai tratar que isso não aconteça", diz o chanceler federal Gerhard Schröder. "Mas a Alemanha também está disposta a aproveitar a chance de uma cooperação mais intensa com a França, a Grã-Bretanha, com outros membros fundadores da UE ou ainda com os novos. Não há dúvida quanto isso."

Bruxelas não tem como impedir essa intensa cooperação sob a forma de contratos bilaterais ou multilaterais. Oficialmente, o encontro a três em Berlim é para apresentar novas propostas no tocante à economia, mercado de trabalho, sistemas sociais e inovações.

Consta que Schröder irá propor um "supercomissário" da UE que concentre as políticas industrial, comercial, de mercado interno, livre concorrência, pesquisa e meio ambiente.