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Energia nuclear: eliminar ou expandir?

12 de abril de 2023

A Alemanha vai fechar suas últimas três usinas nucleares nesta semana, coroando um antigo sonho de ativistas ambientais. Mas nem todos os países desejam seguir o exemplo alemão. Na Ásia, energia nuclear está em expansão.

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Usina de Isar em Essenbach
Primeiro plano para abandonar energia nuclear na Alemanha foi divulgado em 2002Foto: Christof Stache/AFP

No final de março, a ministra do Meio Ambiente da Alemanha, Steffi Lemke, do Partido Verde, foi enfática sobre o que pensa da energia nuclear durante um evento Berlim: "Os riscos da energia nuclear são incontroláveis ​​e, portanto, a eliminação da energia atômica torna nosso país mais seguro e evita mais lixo nuclear."

Curta extensão nuclear na Alemanha até 15 de abril

Antes disso, já havia ocorrido outra discussão sobre a energia nuclear. Quando assumiu o governo, a coalizão formada pelo Partido Social-Democrata (SPD), Verdes e Liberais-democratas (FDP) havia concordado em manter um plano de eliminação da energia nuclear alemã elaborado em 2011.

As últimas usinas nucleares deveriam ter fechado até o final de 2022. No entanto, a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia mudou o cenário - pelo menos temporariamente, já que havia temores de que o corte de gás russo à Alemanha provocaria uma emergência energética. Na ocasião, prevaleceu o chanceler federal Olaf Scholz, que determinou a prorrogação do funcionamento das últimas usinas até 15 abril de 2023.

Décadas de disputa

Dificilmente algum tema polarizou o público, especialmente na Alemanha Ocidental, por tantas décadas quanto a energia nuclear. O dia 17 de junho de 1961 marcou o início da era nuclear alemã, quando a usina de Kahl, na Baviera, forneceu eletricidade à rede pública pela primeira vez.

As três usinas alemãs que ainda permanecem em operação finalmente encerrarão suas atividades em 15 de abril. Passaram-se 22.596 dias entre a inauguração da primeira usina e o fechamento das últimas - e foram muitos os debates acalorados. Pouco mais de 20 anos atrás, 19 reatores de usinas nucleares alemãs forneciam até um terço da eletricidade do país. Especialmente na antiga Alemanha Ocidental, antes da Reunificação, a oposição à energia nuclear levou centenas de milhares de jovens às ruas nas décadas de 1970 e 1980.

Então, em 1986, a catástrofe do reator de Chernobyl, na então União Soviética, pareceu confirmar as advertências sobre os perigos da energia nuclear. Mas os partidos que dominavam o cenário político - CDU, CSU, SPD e FDP - continuaram a apoiar firmemente o uso da energia nuclear pelos anos seguintes.

E a energia nuclear na Europa?

Outros países europeus foram mais rápidos em abandonar a energia nuclear. A pioneira foi a Suécia, que decidiu acabar com essa fonte logo após Chernobyl. A Itália também decidiu na mesma época fechar as duas últimas usinas nucleares. Na Itália a decisão ainda perdura, nas na Suécia o abandono foi revertido em 1996. Hoje, seis usinas nucleares produzem cerca de 30% da eletricidade no país escandinavo.

Outros países europeus, como Holanda e Polônia, estão planejando expandir suas usinas, enquanto a Bélgica passou a adiar um plano de abandono. Com 57 reatores, a França sempre foi o país líder em energia nuclear na Europa e pretende continuar assim. No momento, 13 dos 27 países da UE planejam continuar a usar a energia nuclear pelos próximos anos ou até mesmo expandir sua capacidade. No entanto, muitos especialistas duvidam que isso venha a ocorrer.

Usina de Neckarwestheim
Primeira usina nuclear da Alemanha foi inaugurada em 1961Foto: Michael Probst/AP Photo/picture alliance

Plano alemão de abandono apareceu em 2002

Em 2002, na Alemanha, o então ministro do Meio Ambiente, Jürgen Trittin, do Partido Verde, aprovou o primeiro cronograma de abandono da energia nuclear. O plano foi inicialmente postergado e minimizado por governos posteriores, mas o desastre da usina em Fukushima, no Japão, em 2011, finalmente selou o destino das usinas nucleares alemãs.

A então chanceler Angela Merkel (CDU) usou o episódio para selar o fim da energia nuclear na Alemanha. Hoje deputado, falando à DW, o ex-ministro Trittin disse sobre o fechamento final das usinas, previsto para ocorrer nesta semana. "Sim, é um dia importante, porque uma história chega ao fim, ou seja, a do uso civil da energia nuclear. Mas este não é o fim da energia nuclear na Alemanha, ainda estamos lidando com o fato de que teremos que armazenar o lixo mais perigoso do mundo com segurança por um milhão de anos."

Jürgen Trittin
Jürgen Trittin (no centro) durante um protesto antinuclear em 2009Foto: Ronald Wittek/dpa/picture-alliance

O que dizem os defensores da energia nuclear?

Será que esse é o fim da história para a energia nuclear na Alemanha? O grupo industrial Kerntechnik Deutschland (KernD), que reúne fabricantes e empresas do setor, declarou à DW que o adeus definitivo à energia nuclear não é uma boa ideia, levando em conta a crise energética.

"Também tendo em vista a política climática e o desenvolvimento muito desfavorável na geração de eletricidade no ano passado devido ao forte aumento na geração de energia a carvão, o fechamento de três usinas nucleares de baixa emissão em funcionamento é incompreensível", declarou o grupo. "Se você levar em conta a segurança do abastecimento, a proteção ambiental e climática, bem como a competitividade, mais energia nuclear faria mais sentido do que nenhuma."

A energia nuclear no mundo

Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), 422 reatores nucleares seguem em operação no mundo, com idade média de 31 anos. O relatório mais recente do World Nuclear Industry Status Report, elaborado por um grupo independente, afirma que não se pode falar em renascimento da energia nuclear.

Sobre a geração de eletricidade em todo o mundo por usinas nucleares, o documento aponta: "Em 1996 atingiu seu nível mais alto de 17,5%. Em 2021, esse valor caiu abaixo de 10% pela primeira vez em quatro décadas".

E o ex-ministro Jürgen Trittin observa que ninguém quer investir em energia nuclear em grande escala "porque a energia nuclear não é competitiva". Construir novas usinas nucleares é muito caro; e muitas vezes precisam ser financiadas por impostos. Além disso, repetidas vezes há atrasos e resistência a novos projetos.

Apesar de Fukushima, energia nuclear avança na Ásia

No entanto, China, Rússia e Índia, em particular, querem construir novas usinas nucleares. A China, onde praticamente não há sociedade civil lutando contra novos projetos, planeja construir 47 novas usinas. O país asiático já produz mais energia nuclear do que a França. Rússia e Índia também estão na vanguarda com seus planos de expansão. Argumenta-se repetidamente que a expansão da energia nuclear protege o clima porque quase nenhum dióxido de carbono é produzido durante a produção.

Até o Japão quer voltar a usar mais energia nuclear; apesar do terremoto e subsequente tsunami que provocou um desastre nuclear em 2011. Logo após o desastre, todas as usinas nucleares foram inicialmente fechadas. Mas, pouco a pouco, alguns reatores voltaram a funcionar. Agora, o governo japonês decidiu: o país, que tem poucas matérias-primas, quer construir novos reatores e deixar os antigos funcionando por até 70 anos. "Temos que fazer pleno uso da energia nuclear", disse o primeiro-ministro, Fumio Kishida.