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Energia nuclear

14 de julho de 2011

O acidente na usina do Japão foi a gota d'água para a Alemanha decidir a desativação de todas as suas centrais nucleares até 2022. Segundo especialistas, energia nuclear é questão de prestígio na América Latina.

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Cartaz do Greenpeace na Cidade do MéxicoFoto: AP

A Alemanha ratificou recentemente a intenção de desativar todas as suas centrais nucleares até 2022 – uma decisão que divide opiniões. Há quem considere tal medida imprescindível e interprete o passo como um exemplo a ser seguido por outros países, inclusive latino-americanos. Alguns críticos, no entanto, classificam a decisão como irresponsável e desnecessária.

Após o anúncio da Alemanha, a França, por exemplo, declarou que não vai desativar suas centrais. "A energia nuclear representa 75% de seu consumo energético. De onde vão tirar agora ou a médio prazo energia para abastecer 75% da energia de um país?", disse à Deutsche Welle Mariana Carpes, pesquisadora do Instituto Alemão para Estudos Globais e Locais (GIGA, na sigla em inglês).

Na América Latina, a energia nuclear representa, em média, apenas 2% do consumo energético. Apesar disso e dos debates sobre o perigo que representa, a maioria dos países não pretende dispensá-la. "O Brasil está construindo com a França um submarino nuclear, cujo combustível é urânio. A Argentina quer começar a enriquecer urânio e o fará em um projeto único no mundo, junto com o Brasil. A energia nuclear será usada nesses países na agricultura e na medicina. E eles não vão recuar", avalia Carpes, falando sobre um renascimento da energia atômica.

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Na França, 75% da energia consumida tem origem nuclearFoto: picture alliance/dpa

"A Argentina e o Brasil utilizam a energia atômica para pesquisa e para energia em si. No passado, também tinham objetivos militares. No Chile, é utilizada apenas para fins científicos", pontua a pesquisadora, especialista em América Latina. A Colômbia e a Venezuela também pretendem obter benefícios semelhantes para a sociedade civil.

Tecnologia cômoda, mas perigosa

Já o caso mexicano seria diferente, segundo Jorge Villareal, coordenador de programas da Fundação Heinrich Böll no México. "O governo se pronunciou dizendo que não ampliará sua capacidade instalada, mas não fechará a usina atual", diz Villareal.

Ele acredita ser "bem cômodo" para o governo mexicano – que detém o monopólio sobre a energia – manter o projeto, apesar de a usina produzir apenas 5% da energia do país e dos questionamentos sobre riscos que ela poderia representar.

"Uma usina que gera eletricidade constantemente encaixa-se muito bem em seus interesses monopolistas. Uma vez que não existe um modelo de diversificação energética, as redes centralizadas precisam desse abastecimento contínuo", avalia.

Para Villareal, porém, Fukushima demonstrou o alto risco desse tipo de tecnologia. "O México tem uma atividade sísmica alta e, na verdade, não precisa dos 1200 MW da central nuclear, já que possui uma capacidade em energias renováveis de 30 mil MW. Além disso, não se sabe qual é o destino final do lixo nuclear", diz o colaborador da Fundação Böll, ligada ao Partido Verde alemão. A legenda defende o fim do uso da energia nuclear.

Mariana Carpes contra-argumenta: "O que aconteceu no Japão, cujo nível de segurança é muito alto, é algo muito raro".

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Usina de Angra: Brasil quer energia nuclear para uso civilFoto: Picture-Alliance/dpa

Questão de prestígio e de estratégia

Para a pesquisadora do GIGA, em países como o Brasil, a Argentina, a Colômbia, a Venezuela e o Chile, a capacidade de oferecer a tecnologia nuclear e beneficiar a sociedade civil mostraria um alto nível tecnológico. Seria uma questão de prestígio.

"Na América Latina, devido a todos os outros recursos, o tema nuclear não está tão voltado para a produção de energia como na Europa. Tampouco tem objetivos militares, como na China, Estados Unidos e França. Provar do que é capaz e mostrar ao mundo que o país desenvolve a própria pesquisa e gestão dessa tecnologia é o que importa", considera.

Por outro lado, Villareal ressalta que o México é um país essencialmente petrolífero. Cerca de 90% da energia produzida no país vem do óleo combustível. Segundo ele, nem a energia atômica nem as renováveis desempenham algum papel na discussão energética no país.

"O México não é líder em renováveis nem em diversificação, tampouco em energia nuclear. E como os países da América Central não têm capacidade para investir nelas, optaram por tecnologias como a geotérmica e a hidrelétrica para diminuir a dependência do petróleo", diz Villareal.

Já o Brasil e a Argentina teriam razões estratégicas para manter o programa nuclear. Para Mariana Carpes, os dois países não querem ser totalmente dependentes de apenas um tipo de energia, como acontece na França.

No terreno político, a pesquisadora brasileira afirma que o Brasil, assim como a África do Sul, inicialmente estava de olho em armas atômicas, mas acabou desistindo. "Agora eles querem programas nucleares para uso civil, como sustentam em seu discurso político internacional. São países em crescimento e maduros, podendo lidar com materiais sensíveis sem colocar o mundo em risco", afirma. "E não haverá Fukushima que os faça voltar atrás", conclui.

Autora: Mirra Banchón (lf)
Revisão: Roselaine Wandscheer