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Entidades de assistência alemãs cobram mais investimentos sociais

Sabine Kinkartz (md)16 de agosto de 2013

Federação de entidades assistenciais acusa déficit de 35 bilhões anuais em investimentos no setor social no país. Entidade cobra melhor distribuição de renda, a ser financiada com aumento de impostos.

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Foto: picture-alliance/dpa

A Alemanha é um Estado de bem-estar social, como define a Lei Fundamental alemã em seus artigos 20 e 28. Para se saber o que isso significa, basta um olhar sobre o orçamento federal alemão. Com cerca de 145 bilhões de euros (R$ 456 bilhões), neste ano quase metade do orçamento será direcionada para as áreas de seguridade social, família, juventude e políticas de mercado de trabalho. No futuro, no entanto, este montante não será mais suficiente, na opinião da Paritätischer Gesamtverband, Associação Nacional de Entidades Assistenciais.

Em um estudo, a organização, que reúne mais de 10 mil organizações e instituições nas áreas social e de saúde, estabeleceu um modelo de cálculo e encontrou uma demanda adicional de 35 bilhões de euros (R$ 110 bilhões) por ano. "Sem investimentos específicos e significativos, o Estado de bem-estar social de hoje não vai mais funcionar no futuro", adverte Rolf Rosenbrock, presidente da entidade.

Carências existenciais

A federação vê necessidades urgentes para cobrir lacunas em oito áreas de política social. "Estamos falando apenas do mínimo necessário e não de um catálogo de desejos", ressaltou Rosenbrock. De acordo com o estudo, o benefício básico para quem vive de ajuda social – conhecido na Alemanha como Hartz IV – deve ser aumentado dos atuais 382 euros para 464 euros mensais, o equivalente a cerca de R$ 1.450.

A entidade calcula que serão necessários mais 6,1 bilhões de euros anuais (R$ 20 bilhões) para a manutenção da subsistência mínima dos favorecidos e para evitar a pobreza na velhice dos beneficiários.

Para pagar moradias e custos de energia, devem ser disponibilizados anualmente 5,2 bilhões de euros adicionais, conforme a organização. Para a área de assistência – incluindo pacientes, idosos e pessoas com deficiência, por exemplo –, a associação estima a necessidade de mais 8,7 bilhões anuais. "A questão aqui não é cobrar mais benefícios, mas manter o básico necessário para garantir a manutenção do padrão de vida das pessoas e da própria economia alemã", sublinhou Rosenbrock.

Deutschland Armut Bettler in München
"Ajude, por favor!": estudo cobra mais 35 bilhões de euros por ano na área socialFoto: picture-alliance/dpa

Partidos apontam necessidade de reforma

Com suas demandas, a associação parece estar alinhada com os programas eleitorais dos partidos representados no Parlamento alemão. Todos os campos citados no estudo também são abordados em praticamente todos os programas partidários.

"Mas o que chama a atenção é que são mencionados muitos tópicos, mas poucos números. Consequentemente, vemos que os programas, em sua condição atual, não atendem, em nossa opinião, o critério da honestidade", avaliou Rosenbrock, acrescentando que quem pede reformas ou faz promessas eleitorais deve "estar consciente de que elas custam dinheiro. É preciso quantificar os custos e dizer de onde virá o dinheiro para financiar as reformas", elucida.

Ricos devem pagar

Para a Paritätische Gesamtverband, não há dúvida de que as reformas sociais devem ser financiadas exclusivamente por meio de aumentos de impostos. "Os recursos estão à disposição? Podemos distribuir renda neste país sem comprometer seriamente o bem-estar dos mais abastados? A resposta a esta pergunta é um sonoro sim!", argumenta Rosenbrock.

Segundo Rosenbrock, o Partido Social-Democrata (SPD) e o Partido Verde (die Grünen) mostraram que receitas adicionais de centenas de bilhões de euros são possíveis, com suas propostas de introdução de uma taxação do patrimônio, de aumento do imposto sobre herança e da elevação da alíquota máxima para contribuintes de maior renda, além da introdução de um imposto sobre as transações no mercado de ações. "Há alguns anos, não era possível imaginar a facilidade com que esses valores podem ser arrecadados hoje em dia."

Ele observa, ainda, que poderia haver uma arrecadação ainda maior, caso a fraude fiscal fosse combatida com maior empenho na Alemanha. Segundo estimativas da Deutsche Steuergewerkschaft, entidade de classe representativa dos funcionários do fisco alemão, o país perde cerca de 40 bilhões de euros anualmente devido *a sonegação de impostos. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), esse prejuízo chega a 168 bilhões de euros anuais – o equivalente a R$ 529 bilhões.