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Escândalo de abuso sexual infantil em massa abala Paquistão

Manasi Gopalakrishnan (av)9 de agosto de 2015

Número de casos pode chegar a 280, com crianças pobres como grandes vítimas. Quadrilha vendia vídeos também para os EUA e a Europa. Autoridades locais ridicularizam acusadores, polícia reage de má vontade.

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Foto: Fotolia/Gina Sanders

O Paquistão enfrenta os efeitos de um gigantesco escândalo de pornografia infantil, que veio à tona alguns dias atrás, quando manifestantes entraram em choque com a polícia da cidade de Kasur, próximo a Lahore, capital da província de Punjab, no leste do país.

Segundo o jornal paquistanês Dawn, motivo dos protestos foi a falha das forças de segurança em prender os integrantes de uma quadrilha suspeita de violentar pelo menos 280 crianças, filmá-las e chantagear suas famílias. A maioria das vítimas seria menor de 14 anos e residente na localidade de Husain Khanwala, vizinha a Kasur.

Ainda de acordo com o periódico, apesar de as autoridades de Kasur terem ordenado um inquérito, o delegado de polícia responsável, Rai Babbar, teria minimizado o caso, alegando que apenas sete queixas haviam chegado a ele, até então, com "fundamentação inconvincente".

Ceticismo de políticos e polícia

Consta que a quadrilha começou a filmar seus atos de abuso sexual em 2006, continuando a fazê-lo até o ano passado. Depois de forçar as crianças a terem relações sexuais, os criminosos faziam circular os vídeos por 50 rúpias (0,36 euro), além de exportá-los para os Estados Unidos e países europeus, relatou a mídia local.

Em sua queixa policial, os pais citam os nomes de mais dez supostos perpetradores. No entanto, cerca da metade já foi liberada sob caução, e seis estão em prisão preventiva por 14 dias. Após os protestos, o governador da província de Punjab, Shahbaz Sharif, ordenou a prisão dos acusados.

Jornalistas e ativistas dos direitos humanos criticam severamente a atuação das autoridades governamentais no caso, sobretudo depois que o secretário do Interior de Punjab, Rana Sanaullah, negou os casos de abuso, atribuindo as acusações a disputas de terra entre os habitantes da localidade. A polícia, por sua vez, questiona que o número das vítimas chegue mesmo a centenas, como alegado.

Mero show para mídia

Para o paquistanês militante dos direitos infantis Rana Asif Habib, porém, essas cifras não passam da "ponta do iceberg". O número real das vítimas deve ser bem maior, levando-se em consideração a proximidade de Kasur com a capital provincial Lahore, onde as crianças das favelas atraem grande número de pedófilos.

"O Paquistão não é signatário da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança", observa Habib, portanto os menores não têm nenhuma autoridade a que recorrer em caso de exploração sexual.

O advogado recorda o pedófilo Javed Iqbal, que em 1999 se entregou à polícia, admitindo ter abusado sexualmente de 100 garotos de Lahore, entre seis e 16 anos de idade, para em seguida assassiná-los e dissolver seus corpos em ácido clorídrico.

Com base em sua experiência, Rana Habib reage com cinismo ao escândalo de Kasur. Segundo ele, as autoridades provavelmente vão fazer um grande espetáculo das investigações, enquanto o foco da mídia estiver nelas. "Depois disso, geralmente não há seguimento, e aí a coisa é varrida para debaixo do tapete."