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Especialistas dizem que multilinguismo é subestimado na Alemanha

20 de março de 2012

O alemão falado pelos migrantes no país é visto com frequência apenas como deficiência, embora sobretudo os jovens de origem estrangeira sejam bastante criativos em relação ao idioma.

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Foto: picture-alliance/dpa

A migração transforma a sociedade alemã de forma duradoura, tanto do ponto de vista social quanto cultural. O idioma, nesse contexto, exerce um papel fundamental, pois falar a língua de um país é necessário para a integração à sociedade, incluindo tarefas simples do cotidiano como ir à padaria ou ao cinema. Além disso, o sucesso profissional é impossível sem conhecimentos suficientes da língua do novo país.

O Instituto da Língua Alemã organizou recentemente um congresso na cidade de Mannheim, voltado à análise das diversas formas de abordagem e uso do idioma. Sob o título O Alemão dos Migrantes, o evento tratou não apenas do alemão falado pelos imigrantes, mas também dos efeitos da convivência entre pessoas de diversas nacionalidades no país. O congresso reuniu aproximadamente 400 participantes de 28 países.

Enriquecimento e não decadência

A filóloga Heike Wiese, da Universidade de Potsdam, pesquisa há muito tempo os hábitos idiomáticos no espaço urbano. Ela acentua o potencial existente em comunidades multiétnicas. O instituto onde ela trabalha criou até mesmo um portal com informações sobre Kiezdeutsch, o alemão falado por jovens de origem estrangeira que vivem em determinados bairros das grandes cidades. Esse linguajar é fruto do contato entre a língua do país com idiomas e culturas de diversas partes do mundo.

Um exemplo conhecido é o bairro Kreuzberg, em Berlim. Wiese alerta para o fato de que há desenvolvimentos semelhantes em outras grandes cidades europeias, ou seja, não se trata de um fenômeno alemão. A redução das frases e o abandono de artigos e preposições são algumas das características dessa variante jovem e urbana da língua.

Screenshot der Internetseite von kiezdeutsch
Screenshot do portal 'kiezdeutsch'

Quem observa de fora, simplesmente considera errada essa forma de falar. No entanto, nos dialetos falados em diversas regiões do país, ocorrem reduções semelhantes, sem que isso seja visto como algo errôneo.

Para a pesquisadora Wiese, o Kiezdeutsch não é uma língua truncada, mas uma prova de criatividade, com o uso de uma gramática mais simples. Além disso, essa linguagem jovem é usada por pessoas de diversas origens e não apenas por aqueles de ascendência turca, como muitos pensam.

Troca de códigos

A professora aposentada Imken Keim estudou em seus projetos de longo prazo o universo linguístico principalmente de jovens de origem turca na Alemanha. Os resultados a que ela chegou mostram uma alternância nítida: os jovens alternam com facilidade, no dia a dia, o uso do alemão e do turco. Além disso, eles escolhem o idioma de imediato, de acordo com o tema e o interlocutor, usando expressões idiomáticas irônicas e diferenciadas.

Este ir e vir e a alternância entre as duas línguas, vista por muitos como "mistureba", mostra de fato a sensibilidade do falante e uma alta competência linguística através da capacidade de alternar os idiomas, aponta Keim, já que esses jovens podem escolher livremente, não estando atrelados a apenas uma língua.

Crianças que crescem com mais de um idioma, segundo a pesquisadora, demonstram uma diferenciação também no ritmo e no conteúdo da fala. Como exemplo, ela tomou dois bairros de Mannheim, com respectivamente 12 e 15 mil habitantes, onde as escolas e jardins-de-infância têm uma percentagem de imigrantes de 80 a 90%.

Antigamente, os filólogos davam às pessoas que cresciam bilíngues o título de "dupla meia competência", em referência ao domínio não completo de dois idiomas. Segundo Keim, essa postura de difamação não condiz com a realidade, pois nada entre esses jovens bilíngues é "pela metade ou incompleto".

Migranten helfen / beraten ehrenamtlich Freiwillige Bildungslotsen
Apoio voluntário a imigrantes no paísFoto: picture-alliance/dpa

Alguma deficiência, diz ela, existe na linguagem escrita. Nas Hauptschulen, escolas alemãs que não capacitam para o ingresso em uma universidade, a competência na linguagem escrita é com frequência baixa, salienta Keim. Isso, contudo, em sua opinião, tem a ver com o ensino escolar e não necessariamente com a origem migratória dos alunos.

Quanto mais cedo, melhor

Para o filólogo Arnulf Deppermann, do IDS de Mannheim, o aprendizado de uma língua deve começar o mais cedo possível. Ele apela aos políticos do país para que ajudem creches e jardins-de-infância se empenharem mais neste sentido. Em alguns bairros com alto percentual de imigrantes, essas instituições são os únicos lugares nos quais crianças têm contato com a língua alemã.

O que não se aprende em tenra idade, dificilmente é compensado pela escola. Mas para um incentivo maior e melhor, é necessário dispor de recursos humanos. "As crianças precisam de impulsos", diz Deppermann. O tema do congresso realizado em Mannheim, de acordo com o pesquisador, não foi escolhido por acaso, pois é clara a ligação entre a fluência em um idioma, a formação da identidade e a integração na sociedade. E melhorar essa ligação é um dos maiores desafios da política alemã atualmente, afirma Deppermann.

Valorizar o bilinguismo para incentivar o aprendizado

Para Imken Keim, para um aprendizado bem-sucedido, é necessário ensinar à criança desde muito cedo que sua língua materna é algo de valor. E que o multilinguismo é um capital cultural e também econômico precioso.

É preciso mostrar às crianças: "Você sabe muita coisa". Até hoje, o desempenho linguístico dessas crianças vem sendo medido somente com base em padrões de outras crianças monolíngues. Com isso, as de origem estrangeira acabam desenvolvendo problemas de auto-estima. Dar a elas um retorno positivo é necessário, sendo, por fim, a melhor motivação para o aprendizado.

Autor: Günther Birkenstock (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer