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Laguna Verde

14 de julho de 2011

Reatores da usina de Laguna Verde, em Veracruz, utilizam tecnologia antiga e não oferece segurança mínima, afirmam especialistas. Eles também criticam a política de informação das autoridades mexicanas.

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Das Kernkraftwerk Laguna Verde (span. Central Nuclear Laguna Verde, Abkürzung LVNPP) ist das einzige mexikanische Kernkraftwerk. Es liegt in der Gemeinde Alto Lucero, Veracruz. Quelle: Wikipedia Link: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Laguna_Verde_Nuclear_Power_Plant.j
Reatores de Laguna Verde são parecidos com os de FukushimaFoto: cc-by-sa/Exarkunmx

A usina nuclear de Laguna Verde, localizada na costa de Veracruz, no Golfo do México, conta com reatores muito parecidos com os de Fukushima, no Japão. O fato de usar tecnologia antiga e de estar numa zona sísmica de alta densidade demográfica preocupa especialistas, que ainda denunciam condições deficitárias de segurança.

A história de Laguna Verde começou em 1972. "Devido a uma série de atrasos, a central nuclear foi concluída apenas em 1986, após mais de 12 anos em construção", conta o físico Rubén Dorantes, pesquisador da Universidade Autônoma Metropolitana (UAM), em conversa com a Deutsche Welle. Segundo ele, os reatores de Laguna Verde possuem uma tecnologia muito antiga, que utiliza água em ebulição.

Ainda que não tenha ocorrido até agora nenhum acidente grave, o físico diz que ocorreram vários incidentes na usina durante a última década. "As autoridades não falaram nada a respeito. O lobby da energia nuclear é muito forte e muito cauteloso com as informações que divulga. Apesar do acidente de Fukushima, o México quer continuar com sua estratégia nuclear", diz o especialista.

Pouco segura

Vários estudiosos vêm denunciando as condições deficitárias de segurança na usina desde que foram iniciadas suas operações comerciais, em 1991. Entre eles está o engenheiro nuclear britânico John Large, que em 2000 fez um relatório a pedido da Associação Mundial de Operadores Nucleares (WANO, sigla em inglês).

"A associação queria fazer esta investigação nas centrais nucleares de seus países-membros e enviou uma equipe para a usina de Laguna Verde, que me entregou um relatório de 200 páginas muito alarmante", afirma Large. "Todos os problemas detectados demonstram que, quando foi inspecionada, a organização de Laguna Verde era caótica. O país não contava com infraestrutura adequada, com pessoal capacitado nem com a expertise necessária para operar uma central nucleoelétrica como essa", destaca o especialista.

Fishermen try to secure their boats as tropical storm Karl arrives in the town of Mahahual, southern Mexico, Wednesday, Sept. 15, 2010. Karl is expected to quickly weaken into a tropical depression as it slogs across the flat peninsula before heading back out over the Gulf of Mexico, where it could turn into a hurricane by the end of the week and threaten the central Mexican coast. (AP Photo/Israel Leal)
O furacão Karl passou pela costa do México no ano passadoFoto: AP

Large afirma ainda que, durante os últimos cinco ou seis anos, a unidade tem funcionado bem – ainda que a um custo muito alto, pela necessidade de se contratar especialistas estrangeiros.

Os perigos naturais

Ainda que Laguna Verde encontre-se numa zona sísmica de alta densidade demográfica, especialistas alertam que o maior perigo não é o de um terremoto ou tsunami, mas sim de um furacão. Até agora o mais próximo a passar por lá foi o furacão Karl, que atingiu a costa do Golfo do México no ano passado, mas não alcançou a usina.

"Preocupa-nos muito que um furacão possa ocasionar um acidente grave em Laguna Verde", afirma Claudia Gutierrez de Vivanco, porta-voz do grupo antinuclear Madres Veracruzanas. A organização foi fundada em Xalapa, Veracruz, logo após o acidente de Tchernobyl, em 1986, e mantém-se ativa desde então.

"É preciso lembrar que o sistema de resfriamento dos reatores é à base de água. Além disso, para poder ativar o sistema de segurança é necessária eletricidade. Em Fukushima, o sistema de fornecimento elétrico foi interrompido e por isso não conseguiam deter os reatores. Aqui no México, um furacão poderia ter consequências semelhantes."

Gutiérrez de Vivanco destaca o trabalho de campo realizado pela Associação Mundial de Operações Nucleares de 1999, que foi a base do estudo de John Large. "Fizeram mais de 200 recomendações no quesito segurança. Esse foi o único estudo que pudemos ter em mãos porque as autoridades nos negam informações. Não há transparência, embora esteja em jogo a segurança da população."

A ativista mantém contato com trabalhadores da usina, que a informam sobre o que acontece por lá. "Sabemos que há problemas. Em 2006 estivemos a ponto de ter um acidente grave, até mesmo o plano de emergência radiológico foi ativado. Houve uma falha e quiseram acionar os sistemas de segurança, mas eles não funcionaram em nenhuma das unidades, até que finalmente conseguiram desligá-las", lembra.

Greenpeace activists protest against nuclear energy in front of Mexico's Energy Secretariat (Sener) in Mexico City, Thursday March 31, 2011. The sign reads in Spanish, "Nuclear? No, Thanks!" (AP Photo/Alexandre Meneghini)
Ativistas do Greenpeace protestam contra o uso de energia nuclear no MéxicoFoto: AP

Consequências irreversíveis

Quando acontece algo de errado numa usina nuclear, o dano pode ser muito grave devido à dispersão de radiação. "Se um país como o Japão, altamente industrializado e com excelência em engenharia e altos controles de qualidade, não esteve em condições de operar uma usina nuclear de maneira segura, com todo respeito, mas não sei como seria no México", argumenta Large.

A ativista Beatriz Olivera, coordenadora da campanha energética do Greenpeace no México, ressalta que a usina se encontra numa das áreas mais povoadas do país. "Por conta do acidente em Fukushima, o governo lançou uma campanha midiática a favor da energia nuclear, e tem se falado até mesmo na construção de novos reatores em Sonora e Veracruz."

Dorantes é contundente: "O México não tem nenhuma necessidade de apostar na energia nuclear tendo tantas fontes de energia. Além disso, sofre de uma dependência energética e tecnológica muito alta, pois nem ao menos tem o combustível nuclear assegurado, é preciso importá-lo", afirma. O pesquisador diz não acreditar que a atual administração ou a seguinte se aventurem a construir uma nova usina.

"É um negócio de longo prazo", opina Large. "Diante dos padrões atuais com reatores de terceira geração, que operarão por uns 60 ou 70 anos, a construção de uma usina toma uns seis anos, mas seu desmantelamento pode demorar até 150 anos. E continua existindo o problema do lixo radioativo, particularmente os resíduos do combustível, que requerem um manejo institucional, pois sua vida se prolongará por 10 mil anos. Não podemos deixar o problema para a próxima geração e dizer: 'daí nós tiramos nossa eletricidade, agora se virem com os resíduos'."

O especialista britânico teme que, com o apagão nuclear de países como Alemanha, Suíça e Itália, os grandes operadores nucleares tentem vender sua tecnologia aos países em desenvolvimento.

Autora: Eva Usi (ms)
Revisão: Alexandre Schossler