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Esquerda lidera disputa para presidência do Peru

7 de junho de 2021

Com mais de 94% das urnas apuradas, sindicalista Pedro Castillo ultrapassa Keiko Fujimori em disputa voto a voto pela presidência peruana. Em meio a forte polarização, analistas alertam para distúrbios sociais.

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Pedro Castillo
Pedro Castillo foi o candidato mais votado no pulverizado primeiro turnoFoto: Martin Mejia/AP Photo/picture alliance

O esquerdista Pedro Castillo lidera por pequena margem a disputa pela presidência do Peru com 50,10%, contra 49,89% da candidata direitista Keiko Fujimori, após contagem de mais de 94% dos votos do segundo turno das eleições, realizado neste domingo (06/06). Os números foram divulgados pelo Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE, na sigla em espanhol) nesta segunda-feira (07/06).

O socialista Castillo é um professor de escola primária sem experiência de governo. Ele venceu o primeiro turno das eleições, em abril. Por sua vez, a ex-congressista Fujimori concorre pela terceira vez à presidência. Filha do ex-presidente autoritário preso Alberto Fujimori, ela mesma enfrenta ameaça de ser condenada a 30 anos de prisão por lavagem de dinheiro e financiamento ilegal de campanha.

"Um segundo turno nunca foi dividido tão claramente quanto as eleições atuais", tuitou o analista político peruano Fernando Tuesta, em meio à divulgação dos resultados parciais.

Eleitores se dirigiram aos locais de votação neste domingo pelo país, onde o voto é obrigatório, mediante um esquema planejado para evitar longas filas. Apesar da polarização, não foram registrados distúrbios ao longo do dia.

Polarização

Pesquisas eleitorais haviam indicado uma disputa acirrada. No pulverizado primeiro turno, com 18 candidatos, nem Fujimori nem Castillo haviam recebido mais de 20% dos votos, e ambos eram alvo de forte rejeição de setores da sociedade peruana. Muitos pensam que os dois são os piores candidatos que o Peru viu desde que se tornou independente, há 200 anos.

"Acho que em ambos os casos [se Fujimori ou Castillo vencer] o risco de distúrbios sociais é grande. É uma bomba-relógio", disse Claudia Navas, analista da consultoria Control Risks. "Acho que se Castillo vencer, as pessoas que apoiam Fujimori ou a continuação do atual modelo econômico podem protestar."

Mas, para a analista, "um cenário mais complexo se desenvolverá se Fujimori vencer, porque Castillo conseguiu criar um discurso acolhido de forma positiva em algumas comunidades rurais com relação à divisão social e afirmando que as elites econômica e política orquestraram as coisas para permanecer no poder e manter as desigualdades sociais".

A ascensão de um desconhecido 

A pandemia não apenas levou a infraestrutura médica e de cemitérios do Peru ao colapso, deixou milhões de desempregados e ressaltou desigualdades no país, como também aprofundou a desconfiança da população na política, após o governo gerir mal a resposta à covid-19 e um escândalo de vacinação secreta vir à tona. O segundo turno ocorreu depois de uma revisão estatística pelo governo do país mais do que dobrar o número de mortos por covid-19.

Apesar de ser até então desconhecido na política, Castillo se tornou o candidato mais votado no primeiro turno, com 18,9%. Fujimori havia obtido 13,4% dos votos.

Filho de camponeses analfabetos, Castillo, do partido Peru Livre, entrou para a política ao liderar uma greve de professores. Castillo propôs abolir o Tribunal Constitucional, controlar a mídia e nacionalizar a indústria de petróleo e gás, com intuito de criar um Estado socialista. Seu discurso ficou cada vez mais moderado nas últimas semanas, mas ele prometeu reescrever a Constituição aprovada sob o regime de Alberto Fujimori.

Entre os apoiadores de Castillo estão o ex-presidente boliviano Evo Morales e o ex-presidente uruguaio José Mujica.

Direita unida em torno de Fujimori

Após o primeiro turno, toda a direita do país se aliou a Fujimori para tentar impedir a eleição do líder sindicalista. Na campanha, Fujimori falou numa eleição entre a liberdade e o comunismo, classificando Castillo de radical.

Fujimori, do partido Força Popular, é muito franca quanto a querer ocupar o lugar do pai. O autoritário Alberto Fujimori esteve no poder de 1990 a 2000, durante o qual obrigou dezenas de milhares de mulheres indígenas a serem esterilizadas. Atualmente, cumpre pena de 25 anos por autorizar sequestros e assassinatos por esquadrões da morte.

Fujimori disse que perdoará seu pai se ganhar a eleição, saudando o retorno a uma época que muitos peruanos não desejam. "Fujimori anunciou que vai introduzir uma 'demodura' ou 'democracia com mão dura', governo autoritário com instituições democráticas, exatamente o que seu pai fez", explica a cientista política peruana Mayte Dongo.

Os apoiadores de Fujimori incluem jogadores da seleção peruana de futebol e o Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa. O escritor, que perdeu uma disputa presidencial contra Alberto Fujimori há três décadas e chamou Keiko Fujimori de "a filha do ditador" em 2016, agora a classificou como representante "da liberdade e do progresso". 

Para confirmar o vencedor, faltam ainda contabilizar votos do interior do país, de zonas rurais e os de peruanos que vivem no exterior. O resultado final não deve ser conhecido antes de terça-feira.

"Ainda está tudo muito confuso, a diferença é muito estreita, e é preciso esperar o resultado oficial", ressaltou a cientista política Jessica Smith à agência de notícias AFP.

Ambos os candidatos pediram paciência e tranquilidade enquanto se esperam os resultados oficiais definitivos.

lf/ek (AFP, Efe, AP, DW)