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Cinema

17 de dezembro de 2010

Depois da fulminante estreia no cinema com "A Vida dos Outros", o diretor alemão Florian Henckel von Donnersmarck apresenta seu primeiro filme hollywoodiano – "O Turista" – elogiado e criticado ao mesmo tempo.

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Johnny Depp e Angelina JolieFoto: Kinowelt

Quando Florian Henckel von Donnersmarck exibiu pela primeira vez A Vida dos Outros, seu filme de estreia na direção, no ano de 2006, o longa já levou de cara todos as premiações possíveis que podem ser concedidas a um filme, entre estas, quatro no Prêmio de Cinema da Baviera e sete no Prêmio do Cinema Alemão.

Além disso, o longa levou o César de melhor filme estrangeiro na França, o Bafta no Reino Unido, e, de quebra, ainda um Oscar. Com isso, as portas de Hollywood se abriram imediatamente para Florian Henckel von Donnersmarck, o diretor de 37 anos, que aceitou sem pudores as ofertas norte-americanas.

Johnny Depp foi decisivo

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Florian Henckel von Donnersmarck e os atores no set de filmagemFoto: AP/Sony Pictures

O cineasta mudou então para Los Angeles e envolveu-se com novos roteiros, embora nada o tenha fascinado de verdade. Ao mesmo tempo, começou ele próprio a escrever um roteiro, que quer filmar em breve. No entanto, até que isso aconteça, Donnersmarck não queria perder tempo.

O policial O Turista, que chegou às suas mãos, oferecia ao diretor exatamente aquilo que mais o fascinava em Hollywood: o brilho e o glamour, aliados a um orçamento gigantesco de produção, em torno de 100 milhões de dólares. "Quero apresentar pessoas atraentes, com charme, nos cenários mais lindos e com grande leveza", diz ele.

O Turista é, diga-se de passagem, um remake do francês Anthony Zimmer - A Caçada, filme de Jérôme Salle, de 2005, com Sophie Marceau no elenco. Uma obra de sucesso contido. Há de se dizer que Donnersmarck só se convenceu a dirigir esse filme depois de saber da confirmação de Johnny Depp no elenco. Ao lado dele, Angelina Jolie é o outro ícone de Hollywood que aparece na frente das câmeras.

Ritmo lento de representar

O filme começa com uma mulher de chapéu e casaco brancos, que passeia tranquilamente por Paris: os acessórios requintados encaixam-se perfeitamente e as joias reluzem com discrição e estilo. Trata-se de uma francesa por excelência, poderia-se pensar, mas as aparências enganam, já que a mulher é norte-americana: Elise Ward, representada por Angelina Jolie.

A beldade está sendo, porém, perseguida por uma unidade especial da polícia. Para Angelina Jolie, esse é um papel incomum. "Sua identidade real é mantida em segredo e só revelada no decorrer do filme. Ela é uma mulher que vive no mundo do luxo discreto. Já atuei com frequência em filmes nos quais os personagens eram mais ásperos, fortes, trazendo consigo algo mundano, mas Florian me desafiava sempre mais: atue mais lentamente, devagar! Acalme-se! Pois meu ritmo natural é, na verdade, mais rápido e contundente", conta Jolie.

Sobre os telhados de Veneza

Elise recebe uma carta de seu amante Alexander Pearce: "Pegue um trem para Veneza! Procure um homem estranho, que tenha minha altura e meu peso, e faça com que todos acreditem que esse estranho é Pearce!". No trem, Elise encontra o discreto norte-americano Frank (Johnny Depp). Ela detesta seu nome, mas se sente atraída por seu charme – uma mistura de contenção, inteligência e ingenuidade.

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Donnersmarck e Depp: Veneza de cenárioFoto: Kinowelt

Aqui fica pela primeira vez claro que Elise percebe, com certeza, que está sendo espionada. Embora Frank reconheça um certo perigo, a aura de Elise faz com que ele ignore essa sensação. "Frank é um homem pouco comum, que é atraído por aquele ser atraente, belo, interessante e culto. E ele vivencia a viagem de sua vida". E essa viagem o leva não apenas a Veneza, ao quarto de hotel de Elise, mas também aos telhados da cidade, quando ele tenta salvar sua vida em fuga da máfia russa.

Lembrando Hitchcock

A forma de encenar de Florian Henckel von Donnersmark lembra não por acaso os filmes de Alfred Hitchcock (especialmente Ladrão de Casaca). Os diálogos são colocados de forma semelhante, com bastante humor e sempre ambíguos. E a composição da imagem é clara e bela de se observar.

Para o diretor, não havia somente Angelina Jolie e Johnny Depp como personagens principais. "Tinha os atores, os figurinos e então Veneza. E tudo isso tinha que dar certo. A aparência, a estética, a forma perfeita, isso era muito importante para esse filme", diz Donnersmarck. Com a escolha de Veneza o cineasta optou certamente por um lugar espetacular para seu filme.

Modelos conhecidos, sem surpresas

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Johnny Depp e Angelina Jolie em 'O Turista'Foto: AP/Sony Pictures

No entanto, as aparências não enganam e o espectador de alguma forma percebe que conhece essa história de algum lugar – e não apenas porque se trata de um remake. Alexander Pearce é o grande desconhecido, que tirou muito dinheiro de outro gangster. Em consequência disso, tem muita gente atrás dele: britânicos e franceses, o serviço secreto e o fisco, gângsteres e, há de lembrar, também Elise.

Ela, como sempre, apaixona-se de maneira imprevisível. A história do cinema está cheia de obras calcadas nesse modelo, o que faz com que a criação de mais um filme do gênero seja, de fato, supérflua. Mas pelo menos O Turista conta com a eficaz trilha sonora assinada por James Newton Howard, outro vencedor do Oscar.

Decepcionante, contudo, é o fato de Donnersmarck nem ao menos ter tentado conceder um mínimo de atualidade ou originalidade ao enredo, atendo-se única e exclusivamente aos efeitos de brilho e glamour. O Turista acaba sendo, assim, apenas um filme que quer divertir, nada mais que isso. Mesmo que Angelina Jolie e Johnny Depp consigam dissimular os conteúdos vazios.

Autor: Bernd Sobolla (sv)

Revisão: Carlos Albuquerque