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Estudo alerta para danos cerebrais da covid-19

9 de julho de 2020

Neurologistas britânicos dizem que novo coronavírus pode deixar graves sequelas no cérebro, gerando delírios, derrames e inflamações. Eles podem aparecer mesmo em casos leves e se manifestar apenas bem mais tarde.

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Foto: Colourbox

Diversos estudos já haviam indicado que o novo coronavírus Sars-Cov-2 ataca não apenas o pulmão e as vias respiratórias, mas também outros órgãos do corpo humano, incluindo o coração, os vasos sanguíneos, os nervos, os rins e a pele.

Mas neurologistas britânicos apresentaram esta semana detalhes impressionantes na revista Brain. Segundo eles, o Sars-Cov-2 pode causar graves danos cerebrais mesmo em pessoas com sintomas leves ou já curadas. Muitas vezes esses danos somente são identificados bem mais tarde.

Os médicos da University College London (UCL) analisaram 43 pacientes de covid-19, alguns com sintomas graves. Em 9 casos eles diagnosticaram uma encefalomielite disseminada aguda (EMDA), uma inflamação do sistema nervoso central que afeta a mielina (o revestimento dos neurônios que permite que os impulsos nervosos percorram as células) no cérebro e na medula.

Entre os 43 pacientes analisados, 12 sofriam de inflamação do sistema nervoso central (sendo 9 com EMDA), outros 10 de uma encefalopatia transitória com delírio ou psicose, 8 tiveram AVCs e outros 8 tiveram problemas nos nervos periféricos, em geral com o diagnóstico síndrome de Guillain-Barré. Uma mulher de 59 anos morreu em decorrência de complicações dessa síndrome.

"A maneira como a covid-19 ataca o cérebro ainda não tínhamos visto em outros vírus", disse o médico Michael Zandi, que liderou a pesquisa. Ele disse que os graves danos cerebrais verificados também em pacientes com sintomas leves são inusitados.

Os casos divulgados confirmam o temor de que a covid-19 pode causar problemas de saúde duradouros em alguns pacientes. Vários deles relatam sintomas como cansaço e falta de ar mesmo já curados. Outros falam em dormência, fraqueza e perda de memória.

"Do ponto de vista biológico, a EMDA tem semelhanças com a esclerose múltipla, mas a evolução é mais grave e, em geral, ocorre apenas uma vez. Alguns pacientes ficarão com uma sequela duradoura, outros vão se recuperar bem", disse Zandi.

Segundo ele, é provável que ainda não se saiba quais são todas as doenças cerebrais e sequelas causadas pelo novo coronavírus. Muitos pacientes estão em estado tão grave que não é possível submetê-los a exames.

"Queremos chamar a atenção de médicos do mundo todo para essas complicações do coronavírus", disse Zandi. Ele acrescentou que neurologistas devem ser consultados quando os pacientes apresentam sintomas cognitivos, problemas de memória, cansaço, dormência ou fraqueza.

Os médicos também relataram alguns casos, como o de uma mulher de 47 anos que, depois de uma semana com febre e tosse, de repente passou a ter dor de cabeça e dormência na mão direita.

No hospital ela apresentou sonolência e parou de reagir. Foi necessária uma operação de emergência pare remover uma parte do crânio e assim aliviar a pressão sobre o cérebro inchado.

Uma mulher de 55 anos que já tinha uma doença psíquica começou a se comportar de maneira estranha no dia em que teve alta do hospital. Ela vestia e tirava o casaco repetidamente e começou a ter alucinações, vendo macacos e leões dentro de casa. De volta ao hospital, passou a receber medicamentos antipsicóticos.

Os neurologistas britânicos temem que os casos de covid-19 possam deixar lesões cerebrais em alguns pacientes. Elas poderão vir a ser percebidas só daqui a alguns anos.

Segundo o estudo, a gripe espanhola de 1918 também deixou sequelas tardias no cérebro de até 1 milhão de pessoas.

"Esperamos, é claro, que isso não aconteça, mas quando há uma pandemia tão grande, que afeta uma grande parte da população, temos de permanecer alertas", diz Zandi.

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