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Fim da luta do ETA?

21 de outubro de 2011

O grupo separatista ETA anunciou o fim de sua luta armada, que se perpetuou por aproximadamente 40 anos. Em um vídeo, três supostos membros da organização terrorista proclamaram o fim de suas atividades.

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ETA abdica do uso da violência
ETA abdica do uso da violênciaFoto: dapd

O anúncio não surpreendeu. Diversas perseguições policiais enfraqueceram muito o poder militar do ETA e o apoio ao grupo dentro da sociedade basca foi também diminuindo. Forças separatistas apostam, hoje, mais nas negociações políticas que na luta armada, tendo exigido do ETA, já há meses, o fim da violência. Uma conferência pela paz, realizada na última terça-feira (18/10), sem a participação do governo espanhol, possibilitou aos terroristas anunciar o fim da luta, sem, contudo, perder a dignidade perante seus simpatizantes.

Momento histórico ou encenação

Na Espanha, há consenso de que a mensagem veiculada em vídeo pelo ETA é, a princípio, uma boa notícia. No entanto, nem todos estão certos de que a declaração terá sido realmente um momento "histórico" ou se é apenas o ápice de um grande teatro, que vem sendo há muito preparado. E com uma equipe de coadjuvantes de primeiro escalão: o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan; Gerry Adams, ex-líder do partido irlandês Sinn Fein; e Gro Harlem Brundtland, ex-premiê norueguesa.

Eles estiveram presentes durante a Conferência Internacional pela Paz, organizada em San Sebastian, sem o aval do governo espanhol. O resultado do encontro foi um plano de cinco pontos, anunciado pelo ex-premiê irlandês Bertie Ahern. "Conclamamos o ETA a anunciar o fim definitivo de todas as suas ações militares, e a pedir aos governos espanhol e francês negociações a respeito das consequências deste conflito", declarou Ahern.

Militantes prometem fim de atos violentos e pedem concessões ao Estado
Militantes prometem fim de atos violentos e pedem concessões ao EstadoFoto: dapd

O teor da declaração não parece ter sido esboçado durante a conferência, mas sim formulado anteriormente, de acordo com observadores presentes em San Sebastian. Tanto o governo espanhol quanto os principais partidos de oposição no país afirmam que o plano, apresentado pelos mediadores internacionais, não é aceitável.

Para Madri, o plano contém concessões ao ETA, o que não poderia ocorrer, já que o grupo deveria declarar trégua e ser dissolvido, de acordo com a vontade do governo. Mesmo assim, já era de se esperar que a organização viesse a declarar o fim da luta armada. O que de fato ocorreu. "O ETA decidiu abdicar completamente de suas atividades armadas e conclama os governos da Espanha e da França a iniciarem negociações de imediato", declarou um membro da organização.

Sem concessões

O premiê Zapatero fez uma declaração oficial à imprensa por volta de uma hora após a divulgação do vídeo do ETA. "Todos os partidos democráticos da Espanha e do País Basco defendiam com determinação que esta seria a solução a ser alcançada", declarou Zapatero. Segundo ele, tanto o governo quanto a oposição festejam juntos e publicamente a vitória sobre o terrorismo, embora, acentuou Zapatero, não tenha havido nehuma concessão política ao ETA.

Ao mesmo tempo, o ETA, graças a San Sebastian, conseguiu manter sua dignidade frente aos poucos seguidores que lhe restam. Ou pelo menos pode manter as aparências. Do ponto de vista militar, a organização já estava enfraquecida há meses. No decorrer dos últimos anos, tanto a política francesa quanto a espanhola se esmeraram na detenção regular dos principais líderes do grupo.

Zapatero saudou anúncio do ETA
Zapatero saudou anúncio do ETAFoto: dapd

"Está na hora de agradecer aos juízes e advogados e a todos os países que nos apioaram na luta contra o terrorismo, especialmente à França e a seu presidente Nicolas Sarkozy", afirmou o ex-ministro espanhol do Interior Rubalcaba. Enquanto ocupava a pasta do Interior, ocorreram as mais espetaculares detenções e apreensões de armas no País Basco.

Isolamento político

O fim do ETA não chegou somente no sentido militar, mas também político. Por fim, os terroristas ficaram completamente isolados. Seus atentados serviram aos diversos governos em Madri como pretexto para proibir os partidos extremistas e separatistas no País Basco.

O Batasuna e há pouco também o Sortu – partidos nacionalistas de esquerda – vêm forçando o ETA a abdicar de suas ações. A trégua proclamada, contudo, não é suficiente para abrir o espaço necessário para que a meta de um País Basco independente seja atingida através do caminho político. Foi por isso que, se de um lado fez-se pressão sobre o ETA, por outro tentou-se apresentar o teatro da conferência de paz em San Sebastian, a fim de mediar a questão frente aos terroristas, algo que os representantes do Estado, por razões óbvias, não podem fazer.

A declaração histórica deixou, portanto, todos satisfeitos. Associações de vítimas do terrorismo do ETA temem que agora, quando todos podem manter suas posições sem se sentirem derrotados, o Estado faça, sim, concessões ao grupo separatista, para que os terroristas também entreguem suas armas. Pois depois do fim da ditadura franquista, a Espanha decretou até mesmo uma anistia para crimes de motivação política.

Autor: Reinhard Spiegelhauer (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque