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De volta às manchetes

31 de julho de 2009

Embora não haja autoria oficial, atentados a bomba em Burgos e Maiorca são atribuídos ao grupo separatista basco. Em seu 50º "aniversário", embora enfraquecida, a ETA não é inofensiva, avaliam especialistas em segurança.

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Turismo e terrorismo em MaiorcaFoto: AP

Em plena alta estação turística, um atentado a bomba abalou a ilha de férias espanhola de Maiorca, nesta quinta-feira (30/07). Um carro estacionado diante de uma caserna da paramilitar guardia civil, em Palmanova, explodiu, matando dois policiais. Há notícias de numerosos feridos. As autoridades bloquearam imediatamente todos os aeroportos e portos marítimos da ilha.

Pouco após a explosão, as forças de segurança maiorquinas desativaram uma segunda bomba, igualmente armada sob um automóvel parado diante da caserna. Na véspera, um atentado semelhante ocorrera em Burgos, no norte da Espanha. Dessa vez o alvo foi a área residencial da caserna da guarda civil: a detonação de uma bomba de 200 quilos feriu 65 pessoas, entre as quais, crianças que dormiam.

Atribuído à ETA

Nach Anschlag auf Mallorca
Premiê Zapatero (d) durante funeral de policiais mortos no atentadoFoto: AP

A polícia de toda a Espanha encontra-se em alerta máximo. Embora os atos não tenham sido reivindicados, eles foram imediatamente atribuídos à organização separatista basca ETA. O grupo completa exatamente 50 anos desde sua fundação, em 31 de julho de 1959.

Seu nome completo é Euskadi te Askatasuna – "Pátria Basca e sua liberdade", no idioma regional. Ele foi criado durante a ditadura do general Francisco Franco, com o fim de preservar a cultura basca contra a repressão do regime militar. Reivindicando a independência da região situada no norte da Espanha e sudoeste da França, em 1968 a ETA começou a cometer atentados terroristas. Desde então, fez 830 vítimas fatais.

O jornal italiano liberal de esquerda La Repubblica afirma que o governo, polícia e serviço secreto espanhóis já temiam que a organização clandestina "quisesse comemorar seu 50º 'aniversário' com uma série de atentados". E explica assim a escolha dos alvos: "Enquanto em Burgos transcorreu o primeiro grande processo sob a ditadura de Franco, a principal das Ilhas Baleares representa a Casa Real, mas também o turismo".

Palmanova, na costa oeste de Maiorca, é local de grande afluência de turistas britânicos. O Palácio Marivent, tradicional residência de verão da família real espanhola, encontra-se a poucos quilômetros do local da explosão.

Condenação generalizada

O primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero, classificou o atentado em Maiorca como um "ato vergonhoso" perpetrado por "assassinos abomináveis". O chefe da diplomacia alemã, Frank-Walter Steinmeier, também condenou o "ataque covarde da forma mais rigorosa". Para o representante do governo espanhol em Maiorca, Ramón Socias, a ETA não passaria de "um monte de assassinos loucos", que se tornam cada vez mais perigosos.

Segundo declarou Henning Riecke, especialista em segurança da Associação Alemã de Política Externa (DGAP), em entrevista à Deutsche Welle, de início o grupo haveria angariado "simpatias", tanto no país como no exterior. "Contudo, desde que a Espanha se tornou uma democracia, a maioria da população não entende mais por que a ETA procede com violência."

Sinais de fraqueza

Jurdan Martitegi
Jurdan Martitegi foi capturado em 18/04/2009 na FrançaFoto: picture-alliance/ dpa

Assim, "mesmo dentro da ETA há muitos que exigem negociações e uma aproximação com o governo". Riecke classifica o momento como "de fraqueza" para a organização terrorista. Por um lado, há dois meses o País Basco deixou de ter um governo nacionalista, sendo agora regido por socialistas.

"Nos últimos anos, foram presos cinco líderes da ETA. Politicamente a organização perdeu a força. Porém o fato de estar fraca não significa que seja inofensiva, pois suas lutas internas podem redespertar a o desejo de retornar às manchetes através de atentados", analisa o perito em segurança.

Além disso, o braço político da ETA, Herri Batasuna (Comunidade do povo), foi proibido em 2004. Trata-se do único caso de proibição de um partido político na Espanha desde o fim da ditadura Franco, em 1975.

Apoio de parte dos bascos

Spanien ETA erklärt Waffenruhe
Em março de 2006, ETA anunciara cessar-fogoFoto: AP

O País Basco possui 2,1 milhões de habitantes e tornou-se região autônoma em 1979. No início da década de 80, calculava-se em mil o número dos membros da ETA. Atualmente, quase mil deles estão confinados em presídios espanhóis e franceses, e a polícia estima que apenas algumas dezenas de ativistas permanecem em liberdade.

Nos últimos anos, a liderança dos separatistas iniciou uma série de negociações frustradas com o governo espanhol, a última das quais em 2006, suspensa após o atentado contra o aeroporto de Madri.

Após um "processo de reflexão" sobre sua estratégia futura, a ETA decidiu que manteria os métodos terroristas. A organização ainda conta com o apoio de parte da população basca: cerca de 15% dos jovens entre 12 e 16 anos de idade da região consideram o terrorismo justificado.

AV/dw/rtr/dpa/ap
Revisão: Simone Lopes