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ConflitosEtiópia

Etiópia diz que tomou controle da capital do Tigré

28 de novembro de 2020

Primeiro-ministro anuncia "controle total" do exército sobre Mekele, sinalizando fim do conflito armado entre governo federal e região rebelde do Tigré. Crise deixou vários mortos e deslocou um milhão de pessoas.

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Militares etíopes
Foto: Ethiopian News Agency/AP/picture alliance

O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, anunciou neste sábado (28/11) que o exército federal assumiu o controle total de Mekele, capital da região dissidente do Tigré, o que pode significar o fim do conflito que atinge o país africano desde o início deste mês.

O anúncio do premiê – ganhador do Prêmio Nobel da Paz no ano passado por um acordo de paz de 2018 com a Eritreia – ocorre dois dias após as autoridades etíopes terem ordenado um ataque final aos rebeldes da região, aos quais declarou guerra em 4 de novembro.

"O governo federal agora tem o controle total da cidade de Mekele, o que marca o encerramento da última fase da ENDF [Força de Defesa Nacional Etíope, nome das Forças Armadas do país]. A polícia federal continuará agora sua tarefa de prender os criminosos da Frente de Libertação dos Povos do Tigré (TPLF) e levá-los a tribunal", declarou Abiy em sua conta no Twitter.

O primeiro-ministro disse ainda que, depois de o exército federal ter "concluído com sucesso a operação", a missão do governo agora será "reconstruir o que foi destruído, reparar o que foi danificado, devolver para as suas casas aqueles que fugiram, com a prioridade máxima de devolver a normalidade ao povo da região do Tigré".

Na manhã deste sábado, o governo regional do Tigré informou que, desde o dia anterior, as forças do premiê Abiy e da Eritreia vinham bombardeando a região com artilharia pesada, denunciando ainda que civis e infraestrutura foram alvos dos ataques.

O primeiro-ministro, por sua vez, afirmou no Twitter que a operação na capital regional, uma cidade densamente povoada com meio milhão de pessoas, foi concluída "sem ferir civis e sem danificar a estrutura ou patrimônio histórico".

Com as comunicações cortadas na região, porém, é difícil verificar as informações dadas pelo governo da Etiópia e os líderes regionais. Organizações humanitárias confirmaram os bombardeios em Mekele, o que suscitou imediatamente preocupações sobre mortes de civis.

A operação militar em Mekele foi lançada neste sábado, tendo como alvo líderes da Frente de Libertação dos Povos do Tigré (TPLF, na sigla em inglês), que governa a região montanhosa. O premiê Abiy acusa o grupo de traição e terrorismo.

As Nações Unidas disseram que alguns residentes fugiram quando os militares chegaram às portas da cidade.

Abiy havia se reunido na sexta-feira com os ex-presidentes africanos Joaquim Chissano, de Moçambique, Ellen Johnson-Sirleaf, da Libéria, e Kgalema Motlanthe, da África do Sul, enviados pela União Africana para mediar nesta guerra.

Contudo, desde o começo o líder etíope descartou o diálogo com "partidos políticos que operam ilegalmente na região", referindo-se à TPFL, que chegou a dominar a coalizão governamental do país mas foi posta de lado por Abiy. Cada governo considera o outro como ilegal.

A região do Tigré tem estado quase inteiramente isolada do mundo desde 4 de novembro, quando o primeiro-ministro anunciou uma ofensiva militar em resposta a um ataque da TPLF a uma base militar. As organizações humanitárias disseram que centenas de pessoas foram mortas.

Os combates ameaçaram desestabilizar a Etiópia, que tem sido descrita como o elemento-chave na estratégia do Chife da África.

Com as vias de transporte cortadas, os alimentos e outros abastecimentos estão prestes a esgotar no Tigré, região onde habitam seis milhões de pessoas, e as Nações Unidas pediram acesso imediato e sem entraves para ajuda.

Cerca de um milhão de pessoas foram deslocadas na região, informou a ONU neste sábado, citando as autoridades locais.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, "expressou a sua grande preocupação com as consequências do conflito etíope para a população civil e com a propagação do discurso do ódio e dos relatos de perfil étnico", segundo seu gabinete.

As crises múltiplas estão crescendo. Mais de 43.000 refugiados já fugiram para o Sudão, onde as pessoas lutam para obter comida, abrigo e cuidados. 

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha diz que os hospitais do Tigré estão ficando sem medicamentos. E os combates, perto dos campos que abrigam 96.000 refugiados eritreus, no norte da Etiópia, colocaram-nos na linha de fogo.

EK/afp/dpa/efe/lusa/rtr