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EUA não freiam Coreia do Norte

Wesley Rahn md
7 de julho de 2018

Apesar da retórica otimista de Trump, surgem indícios de aumento da produção bélica no país asiático. Dúvidas sobre intenção de Pyongyang crescem, em meio às primeiras negociações após a cúpula de Cingapura.

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Líder norte-coreano Kim Jong-un
Líder norte-coreano Kim Jong-un: expansão da capacidade bélica continua, segundo fontes de inteligênciaFoto: picture-alliance/AP/Korean Central News Agency

Avaliações de agências de inteligência dos Estados Unidos e vários relatórios de analistas de imagens de satélite desta semana fornecem evidências de que Pyongyang continua a expandir a capacidade de produção de armas, o que Washington diz representar uma ameaça a si e seus aliados na Ásia.

Alguns dos relatórios sugeriram que o regime de Kim Jong-um está expandindo as instalações de produção de armas, mesmo após ter prometido "desnuclearizar" durante a cúpula do dia 12 de junho em Cingapura, entre o líder norte-coreano e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Uma reportagem recente da NBC News afirmou, baseada em informações de autoridades americanas, que as agências de inteligência dos EUA "acreditam que a Coreia do Norte aumentou a produção de combustível para armas nucleares em vários locais secretos nos últimos meses e pode tentar escondê-las enquanto busca concessões nas negociações com os EUA".

Outro funcionário do governo americano foi citado dizendo que há "evidências absolutamente inequívocas" de que a Coreia do Norte está tentando "enganar" os EUA.

"A avaliação da comunidade de inteligência de que a Coreia do Norte está tomando medidas para enganar os Estados Unidos seria consistente com o comportamento do regime durante todas as negociações diplomáticas anteriores", frisa Bruce Klinger, ex-chefe da divisão da CIA para a Coreia e pesquisador sênior para o Nordeste Asiático do think tank  Heritage Foundation, em Washington.

No entanto, Klinger enfatiza que isso não viola a declaração conjunta EUA-Coreia do Norte assinada em Cingapura. "Nenhum acordo real de desnuclearização foi ainda alcançado", ressalta. "Se os EUA pretendem colocar carne no esqueleto do comunicado de Cingapura, precisam emular o longo e detalhado texto e os robustos regimes de verificação dos tratados de controle de armas com a União Soviética, ao invés dos falhos acordos norte-coreanos do passado", acrescenta.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, foi à Coreia do Norte na quinta-feira (05/07) para a primeira rodada de negociações após a cúpula de junho. De acordo com uma coletiva de imprensa do Departamento de Estado dos EUA, a visita foi centrada em "consultas com o governo norte-coreano" sobre o que Trump e Kim "concordaram" em Cingapura.

As declarações do presidente Trump desde a cúpula de Cingapura indicam que o governo quer capitalizar o significado político da reunião. Embora o diálogo em si seja um avanço, ainda não há qualquer indicação de que a Coreia do Norte esteja reduzindo seu programa de armas, apesar das concessões dos EUA.

Um recente relatório divulgado pelo 38 North, um site de pesquisa e análise dirigido pelo centro de estudos Stimson Center, em Washington, conclui que Pyongyang está realizando melhorias no Centro de Pesquisa Científica Nuclear Yongbyon da Coreia do Norte. O texto afirma que "imagens de satélite comerciais de 21 de junho" indicaram que "melhorias na infraestrutura" em Yongbyon estavam "continuando em um ritmo acelerado". Isso incluiu a conclusão de um sistema de resfriamento para o reator de produção de plutônio.

Jenny Town, editora-chefe da 38 North, disse à DW que seria incorreto supor que Pyongyang retardaria sua capacidade de produção de armas antes de qualquer acordo com os EUA. O ritmo da redução da produção de armas da Coreia do Norte dependerá do conteúdo e do resultado das negociações, que permanecem incertas.

"A única afirmação definitiva a partir das imagens é que o trabalho, que havia começado nesses locais antes da cúpula, não parou imediatamente. Teria sido realmente surpreendente se tivesse ocorrido", sublinha Town, acrescentando que novas imagens inéditas adquiridas pela 38 North parecem mostrar que o trabalho no local havia sido diminuído.

"Esperamos que essa tendência continue e que nenhum projeto novo seja iniciado", afirma, acrescentando que o trabalho nas principais instalações deve "começar a desacelerar ou parar à medida que as negociações progridam".

Outra análise de imagem, divulgada em 2 de julho pelo Instituto Middlebury de Estudos Internacionais, mostra que a Coreia do Norte está expandindo um importante local de produção de mísseis no Instituto de Material Químico em Hamhung. De acordo com o texto, a instalação produz peças essenciais para mísseis de combustível sólido, incluindo os da série Pukgugsong.

No domingo, o assessor de Segurança Nacional do presidente Trump, John Bolton, disse à CBS que os EUA poderiam "agir muito rapidamente" e que o secretário Pompeo discutiria com os norte-coreanos "como desmantelar todas as suas armas de destruição em massa e programas de mísseis balísticos em um ano".

Especialistas dizem que essa avaliação subestima muito o estado da capacidade da Coreia do Norte. "O programa nuclear da Coreia do Norte e a infraestrutura do programa são bastante extensos, com muitas incógnitas", diz Jenny Town

Segundo ele, especialistas técnicos com profundo conhecimento do programa nuclear da Coreia do Norte estimam serem necessários entre cinco e dez anos para "implementar o desmantelamento completo e verificável da infraestrutura nuclear e de mísseis balísticos".

"Politicamente, não há confiança alguma entre os EUA e a Coreia do Norte. Pyongyang estaria relutante em desmantelar suas capacidades nucleares e se tornar vulnerável às mudanças políticas dos EUA (e de sul-coreanos) no futuro, especialmente quando as administrações mudarem", pondera a especialista. "A afirmação de Trump de que o problema nuclear representado pela Coreia do Norte está resolvido é, no mínimo, prematura.”

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