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Crítica ao sistema americano

Trinity Hartman (av)4 de janeiro de 2008

As prévias de Iowa deram a partida para uma longa e dispendiosa primeira fase das eleições presidenciais dos EUA. Especialistas da Europa consideram ultrapassado o sistema eleitoral norte-americano.

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Republicanos versus democratasFoto: APTN
Bildcombo Obama Huckabee
Barack Obama (e) e Mike Huckabee saíram vitoriosos em IowaFoto: AP/DW

Dentro de pouco mais de dez meses, os eleitores norte-americanos escolherão seu novo presidente. Até lá, a política eleitoral será o foco das atenções no país. Muito do discurso será civilizado: debates televisivos, conferências e jantares para angariar fundos. Porém é igualmente provável que campanhas de difamação e escândalos venham a competir por um lugar na ribalta eleitoral.

Neste momento, o campo continua totalmente aberto, tanto do lado democrático quanto republicano. Na quinta-feira (03/01), os membros dos dois partidos opinaram em Iowa sobre quem deverá ser o próximo presidente, escolhendo Barack Obama (democratas) e Mike Huckabee (republicanos). Até o dia 5 de fevereiro, a maioria dos demais estados também haverá realizado suas prévias.

Questão de dinheiro

Na Europa, as eleições nacionais geralmente duram apenas seis semanas e são financiadas pelos cofres públicos. Assim, para os europeus é difícil compreender os detalhes da prolongada primary season nos Estados Unidos, ou o colégio eleitoral em que "o vencedor leva tudo" e os diferentes grupos patrocinadores da campanha.

"Francamente, o sistema democrático norte-americano é atávico", critica Frank Unger, especialista em política dos EUA e professor do Instituto John F. Kennedy, que faz parte da Universidade Livre de Berlim. "É obsoleto, não reflete realmente a democracia no sentido moderno."

Em Iowa, um pequeno círculo de votantes foi cortejado durante meses pelos candidatos. Todo este circo político traz dezenas de milhões de dólares ao Estado. O fato de tanto dinheiro e energia serem gastos com tão poucos eleitores demonstra quão comerciais as eleições nos EUA são, comentou Thomas Greven, do Instituto Alemão de Relações Internacionais, sediado em Berlim.

Nas últimas eleições presidenciais, George W. Bush e seu antagonista John Kerry levantaram mais de 300 milhões de dólares, cada um, para suas respectivas campanhas. Calcula-se que o total empregado pelos comitês de ação política, partidos e candidatos alcançou 1 bilhão de dólares.

Sob a mira da OSCE

Tentou-se limitar a influência do dinheiro sobre a política, através de uma tentativa de reformar os sistema de financiamento das campanhas. Porém pouco progresso se fez, afirma a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Os esforços foram em grande parte anulados por grupos especiais de interesse, não ligados aos candidatos.

A OSCE monitorou o último pleito presidencial em 2004, convidada pelo governo estadunidense. Este ano é provável que envie novamente seus observadores, embora só se deva esperar um convite poucos meses antes das eleições, antecipou o porta-voz da organização, Urdur Gunnardottir.

Escapando da batalha de personalidades

Além de ser movida a dinheiro, a política norte-americana tornou-se excessivamente personalizada, observou Unger. "De um modo geral, diria que, julgando objetivamente, o modo como a democracia dos EUA se desenvolveu não é mais adequado ao século 21."

Segundo o especialista do Instituto Kennedy, as eleições mais recentes se tornaram "batalhas de personalidades", onde tudo se concentrava no candidato, enquanto tópicos importantes eram ignorados. Ele tem esperanças de que a situação mudará um pouco nestas eleições, embora o sistema resista a um deslocamento do foco, dos candidatos para os temas.

Nos sistemas parlamentares, as pessoas votam nos partidos, os quais, por sua vez, decidem quem preencherá os postos de liderança. Unger acha que seria melhor para os EUA passar para um sistema proporcional de voto, semelhante ao adotado pela Alemanha, nos quais os partidos recebem um número de assentos no parlamento de acordo com os votos conquistados. Tal permite que uma gama partidária mais ampla seja representada no governo, aspecto importante para uma democracia viva, insiste Unger.

Os EUA como parte do mundo

Os europeus estão acompanhando este pleito presidencial nos EUA com grande interesse. Sua esperança é que os candidatos – quem quer que sejam – compreendam que mesmo assuntos domésticos, como a segurança interna, possuem componentes e impacto internacional. Este ponto de vista é defendido por Thomas Bauer, do Centro de Pesquisa Política Aplicada da Universidade de Munique.

Os políticos precisam entender que "tudo está realmente conectado a tudo", disse Bauer. "Não existe mais a opção de ser isolacionista." A abordagem internacional dependerá inteiramente de quais candidatos avançarão até as eleições gerais. Os europeus torcem para que os selecionados nas prévias partidárias tenham consciência da importância da política norte-americana num contexto global, comentou o cientista político.

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