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Eventos climáticos extremos devem ser cada vez mais fatais

Shay Meinecke av
14 de julho de 2018

Recentes enchentes no Japão e onda de calor no Canadá mataram centenas. Segundo especialistas, tendência é crescente, e vítimas podem chegar a mais de 150 mil por ano na Europa. Acordo de Paris segue como esperança.

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Enchentes no Japão
Enchentes no Japão deixaram 200 mortos: mudanças climáticas agravam riscosFoto: picture alliance/AP Photo

Recentemente, chuvas pesadas e inundações fizeram 200 vítimas no oeste do Japão, enquanto no Canadá uma onda de calor sem precedentes deixou cerca de 70 mortos. Em meio a esse cenário, climatologistas advertem que mortes provocadas por condições meteorológicas extremas podem se multiplicar, caso as emissões de gases do efeito estufa não sejam controladas.

O número de eventos atmosféricos extremos aumentou nas últimas décadas, aponta Stefan Rahmstorf, copresidente do setor de pesquisa Análise do Sistema Terrestre no Instituto de Potsdam de Pesquisa do Impacto Climático (PIK).

"Nossa Terra está mais uma vez sendo atingida por fenômenos meteorológicos extremos, incluindo calor e incêndios incontroláveis na Califórnia e enchentes pluviais devastadoras no Japão. Com base nas leis da física, em face do aquecimento global nós temos que contar com eventos mais frequentes e piores."

Tais fenômenos extremos – que incluem tempestades severas, inundações inesperadas e imprevisíveis, ondas de calor e ondas de frio fora de época – já mataram centenas de milhares e prejudicaram milhões nos últimos 20 anos, aponta um relatório conjunto de 2015, da Organização Meteorológica Mundial (WMO) e da Organização das Nações Unidas (ONU).

Cientistas apontam que as mudanças clima´ticas estão aumentando a frequência e a intensidade de eventos extremos do tipo, fazendo com que seja mais difícil que governos se preparem e respondam a desastres. Isso significa um custo de bilhões de dólares para governos mundo afora, e um impacto incalculável sobre vidas humanas.

Europa na mira do clima

Segundo um estudo de 2017 publicado na revista especializada The Lancet  Planetary Health, entre 2071 e 2100, cerca de 152 mil pessoas na Europa poderiam morrer por ano em consequência direta de intempéries – número 50 vezes superior ao registrado de 1981 a 2010.

Empregando métodos ultramodernos para analisar os desastres meteorológicos dos anos recentes e projetando os padrões detectados sobre populações futuras, os autores atribuem 99% das mortes estimadas a ondas de calor.

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Giovanni Forzieri, coautor de um estudo do Centro Conjunto de Pesquisa da União Europeia na Itália, afirmou que as projeções poderiam ser ainda mais drásticas.

"Essas estimativas são realmente alarmantes, mas nosso cenário não é o pior que poderíamos escolher: é o cenário médio de emissões de gases do efeito estufa", disse.

Os europeus enfrentam um aumento de riscos de mais de 90%, devido às mudanças climáticas, acrescentou. As mudanças projetadas são dominadas pelo aquecimento global e pelo incremento de riscos de fundo meteorológico, como frentes frias e ondas de calor.

Dados simplificados demais?

Por sua vez, Clare Nullis, encarregada de imprensa da WMO, alerta contra correlações diretas demais.

"Precisamos ser cuidadosos com os dados, porque há cenários demais a se considerar. O ano passado foi um dos mais caros já registrados, devido às perdas econômicas relacionadas à temporada de furacões. No entanto, o número de mortes nem chegou perto dos níveis vistos algumas décadas atrás", afirma.

Também segundo Ovais Sarmad, vice-diretor da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, em Bonn, Alemanha, é possível que os resultados sejam supersimplificados, considerando-se diversos fatores durante a coleta de dados.

"Embora haja tentativas de fixar esses dados, isso se tem provado extremamente difícil, devido a imprecisões, registros insuficientes e dados pouco confiáveis", aponta.

Sarmad também ressalta que a metade das vidas perdidas se deve a impactos secundários, como deslizamentos de terra em seguida a chuvas torrenciais, sendo extremamente difíceis de registrar.

Forzieri já antecipara as ressalvas: "Apesar do fato de nossas estimativas estarem sujeitas a incerteza, elas não deixam de ressaltar tendências importantes. Aquecimento global, transformações demográficas e expansão urbana podem resultar num rápido aumento dos efeitos dos perigos relacionados às intempéries sobre os seres humanos da Europa."

Acordo de Paris segue valendo

Os especialistas concordam que, apesar da variação das cifras, para contrapor essa dinâmica preocupante o mundo precisa adotar e implementar o Acordo do Clima de Paris – "rápida e integralmente", a fim de "estabilizar nosso clima", diz Rahmstorf.

Igualmente enfatizando a importância do pacto internacional, Sarmad lembra que a ONU tem atuado junto a governos e empresas, em todos os níveis: 178 países ratificaram o Acordo de Paris, e o setor privado tem investido mais tempo e esforços para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, frisa o funcionário das Nações Unidas.

"A ONU tem colaborado com grupos de interesse não partidários e com governos para reduzir os gases do efeito estufa, de forma a darmos fim ao número preocupante de mortes relacionadas a desastres meteorológicos. Isso é encorajador e mostra a importância de deixar um meio ambiente melhor para a próxima geração."

Algumas dessas colaborações incluem melhores métodos de prevenção, os quais, segundo Nullis, são outro aspecto-chave no combate à alarmante tendência.

"As mudanças climáticas estão certamente tendo um forte impacto em diversos aspectos de nossa vida, incluindo segurança alimentar, saúde, gestão hídrica e deslocamentos demográficos. Porém melhores previsões e redução dos riscos de desastres têm ajudado a salvar vidas."

Apesar de um certo sentimento de desânimo quanto a metas de proteção do clima, muitos governos seguem comprometidos com a limitação dos impactos das mudanças climáticas. Num relatório divulgado em 2017, dois anos após a adoção do Acordo de Paris, a União Europeia afirmou que reduziria suas emissões em no mínimo 40% até 2030.

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