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Timochenko inicia tratamento médico na Alemanha

9 de março de 2014

Enquanto prosseguem as especulações sobre sua candidatura à presidência da Ucrânia, Yulia Timochenko viaja a Berlim para tratar de hérnia de disco grave. Médicos estão otimistas..

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Foto: Peter Muhly/AFP/Getty Images

A ex-primeira-ministra da Ucrânia, Yulia Timochenko, recentemente libertada, após mais de dois anos de prisão, se encontra na capital alemã, para tratamento médico. Ela sofre de hérnias de disco graves na região lombar.

Após os primeiros exames, o diretor do Hospital Charité de Berlim, Karl Max Einhäupl, anunciou neste sábado (08/03) estar otimista: ela possivelmente voltará a andar sem o auxílio de dispositivos, embora não seja possível predizer a duração da terapia.

Atualmente, Timochenko só se locomove apoiada num andador, e sob fortes dores. Três vértebras suas estão deslocadas, cabendo localizar o principal foco das dores que descem até a perna direita, explicou Einhäupl. No momento, a política de 53 anos recebe tratamento conservador, com fisioterapia e ginástica terapêutica. Na segunda-feira, a equipe médica decide se será ou não submetida a cirurgia.

Julia Timoschenko mit Ärzten in der Charite
Timochenko (c) e equipe do Hospital Charité em BerlimFoto: picture-alliance/dpa

Recusa de tratamento na prisão

Em outubro de 2011, Timochenko foi condenada a sete anos de prisão, acusada de desvio de verbas e abuso de poder. Com o fim do regime de Viktor Yanukovitch, recentemente deposto após meses de protestos de massa, ela foi libertada. As acusações contra a política do Partido Pátria permanecem controversas: tanto oposicionistas ucranianos quanto líderes e organizações ocidentais atribuem ao processo pura motivação política.

Apesar da gravidade de sua condição, durante os mais de dois anos em que ficou encarcerada, lhe foi negada permissão de deixar o país para tratamento médico. Por sua vez, a ex-premiê se recusava a receber assistência médica na prisão, na forma de injeções ou de uma cirurgia, alegando não confiar nas autoridades ucranianas. Uma equipe do Charité chegou a visitá-la na prisão em 2012. No entanto, sublinha Einhäupl, suas possibilidades para diagnóstico e tratamento eram extremamente limitadas.

A ex-detenta toma analgésicos quase diariamente. Mesmo de cadeira de rodas, vinha participando das manifestações políticas em seu país. Segundo o neurologista Matthias Endres, ela demonstra "uma forte vontade de se submeter à terapia". O diretor Einhäupl acredita que a ex-premiê "vai empregar uma enorme energia para poder retornar à Ucrânia o mais rápido possível". Segundo a os médicos, o tratamento é inteiramente financiado pela própria paciente.

"Mãe da pátria" ou candidata à presidência

Ícone da "Revolução Laranja", Timochenko ainda não definiu seu futuro político, e seu papel na política ucraniana é incerto. Contudo, há sinais de que cogita seriamente concorrer à presidência da Ucrânia – e, de acordo com alguns especialistas, teria chances reais de se eleger, no pleito marcado para 25 de maio.

Após sua libertação, ela emergiu como porta-voz do movimento de oposição que derrubou Yanukovitch. Stephan Meuser, diretor da sede em Kiev da alemã Fundação Friedrich Ebert, diz que a líder teria duas possibilidades.

Deutschland Friedrich-Ebert-Stiftung Stephan Meuser
Stephan Meuser vê política como presidente ou "máe da pátria"Foto: Kerstin Richter

A primeira seria tornar uma espécie de "'mãe da pátria", que, com sua experiência política, tentará influenciar o futuro governo e o presidente, a partir de sua posição de líder partidária. A segunda opção seria concorrer à presidência da Ucrânia.

Embora sem confirmá-la, Timochenko não descartou definitivamente uma candidatura. Um de seus potenciais rivais, o ex-campeão de boxe e fundador Aliança Democrática Ucraniana pela Reforma (Udar), Vitali Klitschko, revelou que, numa conversa, ela manifestou intenção de concorrer.

"Único homem na política ucraniana"

Alguns observadores creem que a ex-premiê retarda o anúncio de sua candidatura até assegurar-se que esteja em boa forma física para assumir o cargo. "Há muita desconfiança em relação a ela", observou Steffen Halling, do Instituto Alemão de Relações Internacionais e Segurança (SWP).

Nos anos 90, Timochenko ganhou muito dinheiro em negócios com gás, considerados suspeitos por alguns críticos. Ainda assim, Halling observa que, caso a crise política na Ucrânia se agrave, alguns deixarão de lado suas ressalvas, pois "haverá necessidade de figuras políticas experientes, que tenham boas conexões com o Ocidente e também com a elite russa".

Steffen Halling Stiftung Wissenschaft und Politik
Steffen Halling, do SWP: boas chances para Timochenko na eleição presidencial, apesar de desconfiançaFoto: SWP

A ex-premiê se enquadra nessa descrição. O próprio presidente russo, Vladimir Putin, declarou em mais de uma ocasião que "trabalha melhor com ela do que com qualquer outro representante da elite ucraniana", conta Halling, acrescentando que certa vez Putin declarou que Timochenko era "o único homem na política ucraniana".

Mas se a líder da Revolução Laranja confirmar sua candidatura, seu retorno ao poder não deverá ser fácil. Um levantamento do Centro de Pesquisa Social e de Mercado de Kiev lhe aponta o terceiro lugar nas intenções de voto: a dianteira cabe ao ex-ministro do Exterior, Petro Porochenko, seguido de Vitali Klitschko.

RC/dw/dpa/afp