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Exigência mexicana causa indignação em Madri

27 de março de 2019

Presidente López Obrador gera revolta entre a classe política espanhola ao enviar uma carta ao rei exigindo pedido de desculpas pelos abusos cometidos durante a colonização.

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O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, à esquerda, e o presidente da Espanha, Pedro Sánchez
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, à esquerda, e o premiê da Espanha, Pedro Sánchez

A exigência do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, de que o Estado espanhol peça desculpas pelos crimes cometidos durante a conquista e a colonização foi recebida com indignação em Madri.

O pedido foi enviado pelo presidente pessoalmente, por carta, ao rei da Espanha, Felipe 6º, e também ao Vaticano, segundo explicou o próprio López Obrador num vídeo divulgado no Facebook na segunda-feira (25/03).

"O chefe do Estado, o rei Felipe 6º, não tem que pedir perdão a nenhum país, e isso não vai ocorrer", disse a vice-presidente do governo espanhol (vice-premiê), Carmen Calvo.

"Ele que se desculpe, ele que tem sobrenomes espanhóis e vive lá. Se esse indivíduo acredita mesmo no que diz, é um imbecil. Se não acredita, é um sem-vergonha", escreveu horas antes o romancista e jornalista espanhol Arturo Pérez-Reverte, conhecedor de assuntos ligados ao México.

O autor havia dito há duas semanas, na apresentação do seu livro Una história de España (Uma história da Espanha, em tradução livre) que há uma tentativa de "demolição" do que seu país natal representa e no que diz respeito a sua história, seu passado e sua monarquia.

Ele voltou a esse argumento nesta terça-feira, declarando-se "farto de que a história da Espanha, com tantas luzes e sombras como a de qualquer outro país, tenha se convertido em um jogo de tiro ao alvo de todos os demagogos e oportunistas de dentro e de fora".

Em um gesto sem precedentes na história recente do México, López Obrador, neto de um espanhol, disse na segunda-feira que havia enviado "uma carta ao rei de Espanha e outra carta ao papa (Francisco) para que se faça um relato dos prejuízos e se peça perdão aos povos originários pelas violações do que, hoje, se conhece como direitos humanos".

O mandatário de esquerda fez o pedido ao lembrar os 500 anos da batalha de Centla, considerada o primeiro enfrentamento do conquistador espanhol Hernán Cortés contra os povos originários do México - no caso, os maias chontal do atual estado de Tabasco, origem de López Obrador.

O governo espanhol anunciou pouco depois que rechaçava "com toda a firmeza" a exigência de desculpas. Além disso, o governo do premiê Pedro Sánchez, do Partido Socialista Operário Espanhol, ressaltou que "a chegada, há 500 anos, dos espanhóis às atuais terras mexicanas não pode ser julgada a luz de considerações contemporâneas”.

A posição foi reforçada por boa parte da classe política espanhola. "É uma autêntica afronta contra a Espanha e contra a sua história (...) eu não creio na história negra da Espanha", que a "esquerda complexada tenta agora escrever", disse Pablo Casado, líder da legenda conservadora Partido Popular.

"A carta de López Obrador é uma ofensa intolerável ao povo espanhol. Assim atua o populismo: falseando a história e buscando o enfrentamento", disse seu rival liberal Albert Rivera, líder do partido Cidadãos. A esquerda radical do Podemos adotou a posição contrária e disse que López Obrador "tem muita razão em exigir ao rei que peça perdão pelos abusos na época da 'conquista'".

O presidente mexicano, que assumiu o cargo em dezembro, defende que depois da chegada dos espanhóis ao novo continente "houve matanças, imposições". "Milhares de pessoas foram assassinadas durante todo esse período, uma cultura foi imposta, uma civilização sobre outra (...) houve um saque colonial de nossos recursos naturais", disse López Obrador em um evento público em Centla.

No entanto, o dirigente disse esperar que em 2021 ocorra uma "reconciliação histórica” entre a Espanha e México, no ano em que se completarão 200 anos da consumação da independência mexicana e 500 anos da queda da Grande Tenochtitlán, antiga cidade do império asteca e hoje Cidade do México.

López Obrador assegurou que também pedirá perdão, pois no México independente se cometeu um "extermínio” contra povos originários, como os yaquis no norte do país e os maias no sul. Além disso, durante a revolução mexicana, houve perseguição a imigrantes chineses.

A conquista espanhola do antigo México ocorreu de 1519 a 1521, quando caiu a Grande Tenochtitlán e se deu início à colonização.

No fim de janeiro, o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, realizou uma visita oficial ao México na qual ambos os países referendaram seus laços de amizade e cooperação.

Fiel a seu costume de fazer uma cortesia a seus anfitriões, Sánchez levou a ele a certidão de nascimento do avô do atual presidente mexicano, José Obrador, que nasceu na região espanhola de Cantabria, em 1893.

Segundo um estudo de um órgão científico governamental, 98% da população mexicana são descendentes da miscigenação de populações originárias, europeias – sobretudo espanholas – e africanas.

JOV/afp/efe

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