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Escola de Frankfurt

11 de dezembro de 2009

Eles denominavam seu trabalho Teoria Crítica, mas ficaram conhecidos pelo nome de Escola de Frankfurt. Exposição enfoca os sociólogos que marcaram a Alemanha do pós-guerra.

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Horkheimer retorna do exílioFoto: Jüdisches Museum Frankfurt

Até janeiro de 2010, o Museu Judaico de Frankfurt realiza a exposição "A Escola de Frankfurt e Frankfurt – Um retorno à Alemanha".

A mostra enfoca os pensadores da Escola de Frankfurt, denominação dada ao grupo de sociólogos e intelectuais que desenvolveram grande parte de seus trabalhos no Instituto de Pesquisas Sociais em Frankfurt do Meno. Entre seus representantes de maior renome estavam Theodor W. Adorno e Max Horkheimer.

O instituto, fundado em 1923, foi fechado posteriormente pelos nazistas. Os pesquisadores fugiram para o exterior. Uma parte deles retornou à Alemanha após a Segunda Guerra Mundial, dando continuidade às atividades da instituição.

Tais intelectuais transformaram a Escola de Frankfurt no maior catalisador de ideias da República Federal da Alemanha, como também em uma espécie de instituição inspetora do desenvolvimento democrático da Alemanha.

Troca de correspondência

Para que a exposição não se tornasse um livro monótono na parede, os curadores se concentraram nas personalidades, nos protagonistas do instituto. No exílio, eles estabeleceram uma complexa rede de comunicação e deram continuidade ao desenvolvimento da pesquisa social, principalmente nos Estados Unidos.

Na época, a principal forma de comunicação eram cartas. A correspondência postal tinha caráter tanto particular quanto profissional. Centenas ou até mesmo milhares de quilômetros distantes uns dos outros, eles dialogavam tanto sobre o que tinham visto no cinema quanto sobre suas ideias sociológicas.

Esse círculo de intelectuais não era formado somente por pesquisadores sociais. Um dos integrantes desse grupo era, por exemplo, o diretor Wilhelm Dieterle, um dos vizinhos de Adorno no exílio californiano. Além disso, Dieterle pertencia ao conselho administrativo do instituto de pesquisas de Frankfurt.

Prevendo a catástrofe

O motivo de essa exposição se realizar justamente no Museu Judaico de Frankfurt é fácil de explicar. Quase todos os pesquisadores obrigados a fugir durante os anos 1930 eram de origem judaica. Eles já haviam realizado importantes estudos no instituto, bem antes da Segunda Guerra. Isso também está documentado na exposição.

Adorno im Rundfunk
Theodor Adorno era presença assídua na TVFoto: Jüdisches Museum Frankfurt

Entre as peças da mostra, pode-se ouvir a gravação de uma entrevista que o sociólogo e economista Friedrich Pollock deu à emissora Deutschlandfunk em 1963. "Inspirado pela pesquisa social norte-americana, o instituto iniciou em 1931 um estudo abrangente sobre a postura dos trabalhadores e funcionários alemães em relação à República de Weimar, ao socialismo e à vida em geral. Os primeiros resultados mostraram com uma clareza amedrontadora a pouca capacidade de resistência intelectual que o movimento trabalhista dispunha para se opor à crescente opressão do regime totalitário".

O estudo nunca foi terminado, completou Pollock. Pouco depois de Hitler assumir o poder, o instituto foi fechado devido às suas atividades "subversivas", os funcionários foram demitidos e seu extraordinário arquivo, que também continha diversos documentos da história do nacional-socialismo, foi confiscado.

A atitude alemã após 1945

Os membros da Escola de Frankfurt, principalmente Theodor W. Adorno, ficaram conhecidos como mentores intelectuais das revoltas estudantis de 1968. De forma proposital, a exposição em Frankfurt deixou de lado tal aspecto e se concentrou no período de reconstrução da Escola após a Segunda Guerra Mundial, no qual surgiram importantes trabalhos.

Em 1951, pesquisadores do instituto iniciaram um estudo que procurava traçar uma espécie de perfil psicológico da sociedade alemã do pós-guerra. A pesquisa convocou 1.600 pessoas a discutirem em grupo uma carta forjada, onde um suposto oficial norte-americano dava sua opinião sobre os alemães.

Os resultados não deram margem a ilusões. Para a maioria dos alemães que participaram do estudo, Hitler continuava sendo o maior personagem da história do país após Otto von Bismarck. A pesquisa poderia ter desencadeado grande discussão pública, mas acabou sendo publicada apenas em 1955, recebendo então uma atenção mínima.

Segundo o curador Erik Riedel, na época houve uma tentativa de abrandar o conteúdo da pesquisa, pois a Alemanha se encontrava em pleno boom econômico e o "resgate da memória deixara de ser um tema importante de discussão".

Sociólogos na mídia

Mesmo que o estudo de grupo não tenha conquistado muita atenção, os pesquisadores logo se tornaram personalidades conhecidas. Max Horkheimer, diretor do instituto, tornou-se primeiramente diretor da Faculdade de Filosofia. Em 1951, foi nomeado reitor da universidade. Em 1960, Horkheimer recebeu o título de cidadão honorário de Frankfurt.

Tanto Horkheimer como Adorno tinham uma forte presença na mídia, dedicando-se a comentar inúmeras questões sociais. Como teórico de música, por exemplo, Adorno condenou duramente a comercialização da música e da cultura. Além disso, tais teóricos impulsionaram uma mudança na pesquisa sobre o totalitarismo, algo que já se anunciara durante o regime nazista.

Instância científica e moral

Durante muito tempo, diversos pesquisadores, historiadores e psicólogos acreditaram que o antissemitismo era somente um detalhe na compreensão do fascismo. Através dos pesquisadores de Frankfurt, o ódio aos judeus se tornou o principal foco da análise. Por muito tempo, isso também foi motivo de grande controvérsia entre sociólogos.

Somente alguns poucos intelectuais exilados retornaram realmente a Frankfurt. Eles também o fizeram por responsabilidade social – para não permitir que a Alemanha acabasse sob a sombra Hitler, algo que teria ocorrido se a expulsão dos judeus tivesse sido aceita como fato consumado.

Com o seu trabalho, a Escola de Frankfurt tornou-se uma das instâncias científicas e morais mais importantes da jovem República Federal da Alemanha.

Autor: Günther Birkenstock (ca)

Revisão: Simone Lopes