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O outro lado do muro

6 de agosto de 2011

Mostra na capital alemã marca o cinquentenário da construção do muro que dividia a cidade. As fotos, encontradas por acaso em um arquivo militar, documentam toda a extensão do muro no lado oriental.

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Mostra registra Muro de Berlim visto a partir do lado orientalFoto: BArch/DVH 60 Bild-GR 35-08-73/BArch/DVH 60

Para muitos jovens ainda é difícil entender que entre 1961 e 1989 Berlim Ocidental era uma ilha: um pedaço de cidade, cercado por um muro e Alemanha Oriental por todos os lados. Na memória coletiva, o Muro de Berlim é uma estrutura de concreto coberta por pintura e grafite, mas esse é só um lado da história.

Para comemorar os 50 anos da construção do muro, a exposição e o livro Aus anderer Sicht – Die frühe Berliner Mauer ( De outro ponto de vista – O início do Muro de Berlim) mostram o muro de um ponto de vista inédito: o de Berlim Oriental para Berlim Ocidental. As fotos mapeiam toda a extensão do muro que cortava a cidade a partir da perspectiva de quem o construiu.

História esquecida

A exposição é resultado de uma descoberta que a curadora Annett Gröschner, nascida em Magdeburg, na antiga Alemanha Oriental, e o fotógrafo Arwed Messmer, nascido no lado ocidental, fizeram nos arquivos militares em Potsdam, cidade situada nas proximidades de Berlim, durante os anos 1990, enquanto trabalhavam em um projeto para o Museu do bairro berlinense Prezlauer Berg. “Estava à procura de fotos da Gleimstrasse, uma rua cortada pelo muro, e me deparei com uma caixa cheia de negativos. Usamos algumas das fotos e não percebemos o tesouro que havíamos achado” declarou o fotógrafo.

Deutschland Ausstellung Aus anderer Sicht Die frühe Berliner Mauer in Berlin
Fotos em grande formato acompanham os 43,7km do muro que cortava a cidade

Em 2008, Messmer trabalhou em uma exposição na Berlinische Galerie, que exibia fotos em grande formato da cidade, feitas após o fim da Segunda Guerra, com o intuito de planejar a reconstrução da cidade destruída. “Comecei a perceber paralelos entre as fotos da exposição e as que havíamos encontrado em Potsdam. Fiquei fascinado com a ideia de essas fotos terem sido feitas por fotógrafos desconhecidos e seu uso ser de caráter administrativo e militar” completou.

Os negativos foram digitalizados e restaurados por Messmer. O resultado são as 340 reproduções em grande formato que compõem a exposição. Algumas das fotos são acompanhadas pelos registros feitos pelos guardas do lado oriental, que protocolavam tudo o que era dito pelos moradores do lado ocidental durante o período de construção do muro. "Aí do seu lado está tão frio quanto aqui?" ou "passem para o lado de cá. Temos belas mulheres para vocês. E vocês ainda ganham um carro" são alguns dos exemplos daquilo que os organizadores da mostra descrevem como "comunicação unilateral".

Imagens guardadas

Em 1966, os soldados que patrulhavam o lado oriental da fronteira fotografaram os 43,7 km do muro que cortavam a cidade, do bairro de Treptow no sul até Pankow no norte, com o objetivo de documentar a má condição em alguns pontos da divisa com o ocidente. As mais de mil fotografias foram reveladas na época e os negativos provavelmente mantidos em segredo até o fim do regime comunista. Fotografar o muro era extremamente proibido do lado oriental e quem se arriscasse estava sujeito a severas punições. Com o fim do regime os negativos foram provavelmente esquecidos.

Deutschland Ausstellung Aus anderer Sicht Die frühe Berliner Mauer in Berlin
Fotografar o muro era extremamente proibido na antiga Berlim Oriental

Das áreas mais afastadas até o centro, na Potsdamerplatz, pode-se observar que o muro ainda era irregular e em muitos lugares quase provisório. Em determinadas áreas era formado por cercas, tapumes de madeira e antigas ruínas e isolado por longas extensões de arame ou valas. Do outro lado é possível ver, às vezes sem muita nitidez, Berlim Ocidental, com seus antigos prédios ainda deteriorados e novos recém-construídos.

Para completar as informações sobre o universo do muro no lado oriental a exposição conta não só com as imagens panorâmicas, mas também com outras fotos, textos e desenhos encontrados nos arquivos. Algumas das fotografias registram fugas ou tentativas de fuga que acabaram em morte, além de soldados condecorados pelo seu trabalho na fronteira e fotos das torres de controle, construídas aleatoriamente com diversos materiais e quase sem nenhum planejamento, o que tornava cada uma delas única.

Para Annett Gröschner e Arwed Messmer o objetivo central da exposição é oferecer outra perspectiva sobre o Muro de Berlim, esta obra arquitetônica que representa uma cicatriz na história do século 20.

A exposição Aus anderer Sicht – Die frühe Berliner Mauer fica aberta ao público em Berlim até o dia 3 de outubro próximo.

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Soraia Vilela