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Fechar ou não os olhos à xenofobia?

(sv)18 de maio de 2006

Ex-porta-voz do governo alerta estrangeiros a tomar cuidado em determinadas regiões da Alemanha, desencadeando polêmica no país a três semanas da Copa do Mundo.

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Estrangeiros no país: "saber onde ir"Foto: dpa

Em fins de abril, o jornal suíço Neue Zürcher Zeitung observava: "O extremismo de direita coloca a mídia e opinião pública alemãs com freqüência em estado de alerta". Um caso atual ilustra bem a situação: Uwe-Karsten Heye, ex-porta-voz do governo de Gerhard Schröder, acaba de desencadear uma verdadeira avalanche de reações, após ter feito declarações sobre o perigo iminente a que estão expostas no país pessoas com aparência de estrangeiros.

"Outra" cor da pele

Uwe-Karsten Heye
Uwe-Karsten HeyeFoto: picture-alliance / dpa/dpaweb

Em entrevista à emissora Deutschlandradio, Heye afirmou abertamente que "há cidades pequenas e médias no país, no Estado de Brandemburgo e em outras regiões, que deveriam ser evitadas por pessoas que têm outra cor da pele".

A "outra" cor da pele no caso é qualquer uma que não seja a "branca". E Heye ainda terminou suas observações com um alerta concreto: "Estas pessoas podem não sair vivas destas regiões".

Os primeiros protestos de indignação vieram do governador de Brandemburgo, Matthias Platzeck, que definiu as palavras de Heye como "difamação" desnecessária, enquanto o secretário do Interior do mesmo Estado, o linha-dura Jörg Schönbohm, falou de um "descarrilhamento inacreditável".

"No-go-areas"

Glatzen vor Platten
Manifestação de extremistas de direitaFoto: AP

O assunto já havia sacudido os ânimos no país há pouco, quando um guia turístico publicou uma lista de no-go-areas, ou seja, de áreas a serem evitadas por negros na Alemanha. Um tipo de alerta que não surge por acaso: segundo a polícia de Berlim, a cidade registrou este ano 18 ataques xenófobos. Na vizinha Potsdam, capital de Brandemburgo, foram 97 atos ilícitos provocados por extremistas de direita, 31 dos quais por motivos nitidamente xenófobos.

Organizações de defesa das vítimas apontam para um total de 128 registros no ano até agora. Há poucas semanas, um alemão de origem etíope foi espancado no ponto de um ônibus na cidade até entrar em estado de coma.

Regiões onde "é chique ser racista"

Daniel Cohn-Bendit
Daniel Cohn-BenditFoto: AP

O parlamentar social-democrata Sebastian Edathy demonstrou em entrevista ao diário Tagesspiegel seu apoio às declarações de Heye, acentuando que ele próprio, por ter pele escura, evita circular à noite em determinadas regiões de Berlim.

Também o deputado verde no Parlamento Europeu, Daniel Cohn-Bendit, se posicionou em defesa de Heye: "A realidade é que escolas alemãs que possuem muitos alunos descendentes de migrantes pensam duas vezes antes de organizar uma excursão para acampar em Brandemburgo ou Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental". Segundo Cohn-Bendit, há regiões no país "onde é chique ser racista. É preciso fazer alguma coisa contra isso", conclui o parlamentar.

Verdade incontestável

Saufen für das Reich
Neonazistas em marchaFoto: AP

Sociólogos e cientistas políticos foram chamados a dar suas opiniões em vários jornais, lembrando que "nenhum negro que vive no país iria escolher Brandemburgo para fazer um passeio com a família". Opinião reafirmada por um editorial da edição alemã do diário Financial Times, que estampou nesta quinta-feira (18/05) a manchete: "Xenofobia – A verdade é concreta".

O jornal acentua que o conselho dado por Heye "dói e tem que doer em todo cidadão na Alemanha. A frase toca na ferida, não somente porque Heye é uma personalidade pública e conhecida, ex-porta-voz do governo Schröder e, assim, uma espécie de voz oficial da Alemanha. Seu conselho atinge a opinião pública, porque exprime uma verdade concreta e incontestável. Pois toda pessoa mais ou menos atenta sabe que há no-go-areas neste país. Regiões a respeito das quais qualquer um alertaria seus amigos ou hóspedes a não freqüentar".

Enquanto os políticos de Brandemburgo continuam insistindo que o número de delitos xenófobos caiu no Estado nos últimos meses, o diário berlinense Tagesspiegel resume: "O número de ataques pode ter diminuído, mas cada um deles que continua acontecendo já passa dos limites. E deveria ser evitado".