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Fenômeno da aurora boreal pode explicar encalhe de baleias

Priscila Jordão
5 de setembro de 2017

Tempestades solares, que afetam sistemas de comunicação e provocam a aurora boreal, podem também ter desorientado 29 cachalotes que morreram encalhados em praias europeias em 2016.

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Cachalote encalhado em praia britânica próxima da cidade de SkegnessFoto: Reuters/A. Yates

O encalhe de 29 baleias cachalotes em praias da Alemanha, da Holanda, do Reino Unido e da França em menos de um mês intrigou cientistas no início de 2016. O mistério aumentou ainda mais quando se descobriu que os animais eram jovens e estavam bem nutridos. Agora, uma equipe de cientistas da Universidade de Kiel, na Alemanha, acredita ter encontrado uma explicação, ligada ao mesmo fenômeno que causa a aurora boreal.

O estudo, publicado no Jornal Internacional de Astrobiologia, afirma que os cachalotes podem ter encalhado porque ficaram desorientados durante a sua rota de migração por conta dos efeitos de tempestades solares, também chamadas de tempestades geomagnéticas.

Essas tempestades são perturbações temporárias no campo magnético que envolve a Terra. Elas têm origem, por exemplo, em erupções na superfície do Sol que resultam em vento solar. O campo magnético do vento solar interage com o campo magnético da Terra, e o resultado é uma tempestade solar, que afeta sistemas de comunicação e satélites e produz o espetáculo natural de luzes no Ártico conhecido como aurora boreal.

Os cachalotes foram encontrados encalhados no início de 2016, e tempestades solares ocorreram em 20 e 21 de dezembro de 2015 e 31 de dezembro e 1° de janeiro de 2016, causando as auroras boreais no norte da Europa e deslocando o campo magnético da Terra em até 460 quilômetros, o que pode ter interferido no senso de orientação dos cetáceos.

Norwegen  Nordlichter
O fenômeno da aurora boreal também resulta das tempestades solaresFoto: Getty Images/AFP/O. Morin

As cachalotes fêmeas passam toda a vida em latitudes mais baixas, onde crescem seus filhotes, mas os cachalotes machos migram para latitudes mais altas, como o Mar da Noruega, quando crescem, em busca de comida. A hipótese dos cientistas é que, por terem se criado em latitudes mais baixas, onde distorções magnéticas causadas pelo Sol são fracas, os cachalotes machos jovens foram surpreendidos pelos efeitos das tempestades geomagnéticas em latitudes mais altas.

De acordo com o estudo, os cetáceos podem ter ficado desorientados numa área entre a Escócia e a Noruega, encalhando nas costas mais rasas do Mar do Norte após nadar por engano para o sul por uma semana ou mais. Os cientistas da Universidade de Kiel lembram que já existem evidências da influência de tempestades solares na orientação de pássaros e abelhas.

Os cachalotes são popularmente conhecidos como baleias cachalotes devido ao tamanho que atingem como adultos. Porém, formalmente, pertencem ao grupo dos odontocetos, que agrupa os golfinhos e os botos, porque têm dentes na boca e não cerdas ou barbatanas para filtrar o alimento como as "verdadeiras" baleias.

Resgate mais ágil

Cientistas da Nasa também estão estudando como alterações no campo magnético terrestre por tempestades solares podem causar o encalhe de baleias e golfinhos. Uma equipe vai comparar dados de observação espacial da Nasa e dados de encalhe fornecidos pelo governo americano e pelo Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal para determinar se existe uma correlação entre os fenômenos.

O estudo, a primeira pesquisa ampla para verificar a validade da hipótese, deve ser concluído até o fim de setembro e publicado logo em seguida. Na prática, o estudo pode contribuir para que a observação de tempestades solares sirva de alerta para potenciais encalhes, permitindo que equipes de resgate estejam melhor preparadas para salvar mais animais, afirmou a Nasa.