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Festival cultural alternativo movimenta Edimburgo

(sv)7 de agosto de 2002

Primo pobre do Festival Internacional de Teatro, que acontece anualmente na cidade escocesa, o “Fringe” traz 1491 produções e registra quase 20 mil espetáculos nas áreas de teatro, dança, música e literatura.

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"The Ladyboys of Bangkok", que participam do Fringe, em EdimburgoFoto: http://www.edfringe.com

Em princípio, qualquer pessoa está apta a participar, contanto que pague uma taxa à organização do festival e encontre um local para a apresentação, que pode ser até mesmo a rua. A tônica da versão 2002 é dada por referências ao 11 de setembro. "Até hoje nunca tínhamos tido uma tendência tão forte no programa", comenta Paul Gudgin, diretor do festival.

Entre as peças que trazem os atentados terroristas como tema, destaca-se Projeto 9/11, encenado por estudantes da Universidade de Nova York, que apresenta ao público destinos individuais relacionados ao ocorrido. Já Jumpers tem como protagonistas as pessoas que pularam das torres gêmeas, em um ato de desespero em meio à catástrofe.

Alemanha -

Entre os alemães presentes, destaca-se Hopeless Games (Jogos Sem Esperança), uma co-produção da fabrik Companie, de Postdam, e do Do-Theatre St. Petersburg. Vencedor do prêmio de melhor espetáculo em 1999, a companhia mista volta a Edimburgo com sua produção mais recente, uma mistura inusitada que une clown a tanztheater, teatro do absurdo a dança contemporânea.

Hopeless Games

, segundo o diário alemão Kölner Stadtanzeiger, traz "imagens de movimentos, que remetem a textos de Beckett dançados". Cinco pessoas – quatro homens e uma mulher – esperam no palco como em Beckett, mas definitivamente não por Godot. As figuras lembram os clowns brancos da commedia dell‘ arte, enquanto suas piruetas em direção à morte são absolutamente negras.

Dirigidos pelo russo Eugeni Koslov, o Do-Theatre St.Petersburg foi fundado em 1987 como uma companhia dedicada ao teatro experimental e se tornou um dos grupos mais influentes na Rússia pós-comunismo, tendo criado uma linha própria e única de trabalho com o corpo, hoje conhecida como "russo moderno".

Brasil -

Entre os brasileiros presentes no Fringe, destaca-se Aquilo de Que Somos Feitos (2000), da coreógrafa Lia Rodrigues. Na performance, oito bailarinos questionam o significado da nudez, propondo ao público novas formas de ver um corpo despido. Clichês e slogans "modelam" o corpo dos bailarinos, questionando assim as interferências sofridas pelo "corpo social e político" na sociedade atual.

Primórdios -

Considerado hoje o maior festival cultural do mundo, o Fringe foi criado em 1947, como alternativa ao Festival Internacional de Teatro de Edimburgo, voltado a produções oficiais. No idos da década de 40, oito companhias teatrais, que não haviam sido convidadas para o festival, resolveram apresentar seus espetáculos em palcos menores, longe dos grandes teatros da cidade.

Nesta primeira edição, o festival não contava com um escritório central, não dispunha de um programa oficial e nenhuma publicidade era feita em torno. As pessoas simplesmente vinham. Hoje, como evento de enormes proporções, o Fringe ainda mantém uma tradição: ingressos mais baratos, o que força a concorrência entre os participantes. Quem cobra caro, corre o risco de perder o espectador para o próximo palco, que pode estar a poucos metros de distância.

Em média, o Fringe atrai um milhão de pessoas a Edimburgo – o dobro da população local. Nos últimos tempos, o evento recebeu críticas de que teria "se expandido além dos limites". Em sua versão de 2001, estiveram presentes 600 companhias, vindas de 49 países. Para Paul Gudgin, diretor do festival, no entanto, "o tamanho não importa, contanto que a qualidade continue alta. 25% dos espetáculos este ano são estréias (mundiais, européias ou na Inglaterra) e isso é realmente muito raro".

Novos Rumos -

O Fringe 2002 tem a vantagem de acontecer em um ano, em que o circuito teatral britânico respira aliviado. Depois dos pálidos anos 80 e das dificuldades financeiras dos 90, foi liberada pelo governo uma verba extra em torno de 25 milhões de euros para o setor. Isso significa o maior crescimento dos subsídios anuais destinados ao teatro na história do Reino Unido. "Tudo é agora possível", estampou em tom de euforia o diário The Guardian.

Além disso, praticamente todos os cargos de direção nos teatros ingleses estão sofrendo uma "reciclagem", anunciando uma verdadeira troca de geração no comando das grandes casas. No Teatro Nacional em Londres, pensa-se inclusive em colocar em prática reformas radicais, como por exemplo oferecer entradas mais baratas. Tudo isso leva a crer que uma mudança de valores vem por aí, reduzindo assim o abismo que separa o teatrão oficial do Fringe-Theater no país.