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Novo cinema brasileiro

20 de maio de 2011

Os diretores dos dois longas-metragens brasileiros selecionados para o Festival de Cannes deste ano falaram à Deutsche Welle sobre seus filmes e a renovação no cinema contemporâneo brasileiro.

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Cena de 'Trabalhar Cansa'
Cena de 'Trabalhar Cansa'Foto: Hard Labor

Neste ano, o Brasil foi representado no Festival de Cinema de Cannes por dois longas, um curta e um média-metragem. O curta Duelo antes da noite, de Alice Furtado, foi apresentado na mostra paralela Cinéfondation. Já o média-metragem Permanências, de Ricardo Alves Júnior, foi exibido na Semana da Crítica.

Os longas O abismo prateado, de Karim Aïnouz, e Trabalhar cansa, da dupla de diretores Juliana Rojas e Marco Dutra, também estrearam na Croisette em 2011. Nem o cearense Karim Aïnouz nem a dupla de cineastas paulistas são iniciantes na maior vitrine do cinema mundial.

Em 2002, o filme Madame Satã de Aïnouz concorreu na seção da mostra oficial Um Certo Olhar, dedicada a diretores de primeiros longas-metragens. Em 2007, o curta Um ramo da dupla paulista ganhou o prêmio do júri na mostra paralela Semana da Crítica. Em 2011, o novo filme do diretor cearense foi selecionado para a mostra paralela Quinzena dos Realizadores, e o filme da dupla paulista competiu em Um Certo Olhar.

Nova geração

Em entrevista à Deutsche Welle, Karim Aïnouz disse ver um aspecto muito positivo na seleção de filmes brasileiros nos recentes festivais de Cannes: "Neste ano, o Marco Dutra está em Um Certo Olhar, no ano passado foi o Felipe Bragança, que estava na Quinzena dos Realizadores com Alegria. E há dois anos, houve o filme do Eduardo Valente No meu lugar, cujo roteiro foi escrito pelo Marco Dutra e pelo Felipe Bragança".

Alessandra Negrini em 'O abismo prateado'
Alessandra Negrini em 'O abismo prateado'Foto: 2011 RT Features

O diretor acredita que esteja acontecendo uma renovação muito importante no cinema contemporâneo brasileiro. "Há a emergência de uma nova geração, que é uma geração após a minha e que tem uma erudição cinematográfica muito grande."

Segundo Aïnouz, são pessoas que vieram da crítica ou de escolas de cinema e que têm uma prática bem diferente da sua geração, "que começou num momento onde não havia cinema, quando as coisas estavam se reorganizando." O diretor falou ainda do resgate do gênero no cinema brasileiro.

O cineasta explicou que tanto seu filme quanto Trabalhar cansa teriam elementos de filme de terror e que a importância do cinema de gênero no Brasil vem do fato de o público estar acostumado a vê-lo na televisão. E, como código estabelecido, o público se relaciona com o gênero de maneira muito mais familiar. Além disso, ambos os filmes tratariam de temas de classe média, uma experiência também bastante comum na televisão, acrescentou.

Trabalhar cansa

Em 2011, o filme de Marco Dutra e Juliana Rojas foi o único representante brasileiro selecionado para competir em uma mostra oficial em Cannes. A trama da película gira em torno de uma dona de casa que concretiza um antigo sonho de abrir uma venda no bairro, para a qual aluga um lugar abandonado. Ao mesmo tempo, seu marido é despedido, um acontecimento que traz mudanças importantes em sua relação. No entanto, o mais aterrorizante não é o desemprego, mas os misteriosos acontecimentos na loja e o aparecimento de restos de animais pré-históricos que inquietam a proprietária.

Drama social encontra cinema de horror
Drama social encontra cinema de horrorFoto: Hard Labor

O diretor Marco Dutra disse à Deutsche Welle que espera que, em Cannes, o filme tenha chamado suficientemente a atenção para conseguir distribuidores ao redor do mundo. "Cannes pode ajudar o Trabalhar cansa a ser visto em outros países e isso nos dá muita alegria", explicou Dutra.

Ele explicou que o filme veio da observação do proprietário de um verdadeiro armazém em São Paulo e que a dupla sentiu intuitivamente que um filme que conta a história da transformação de uma dona de casa em chefe poderia ser algo interessante.

"Os temas do trabalho e desemprego são universais e isso também nos recorda nossa própria infância, especialmente quando nossas famílias passaram por tempos duros quando, por exemplo, nossos pais perderam seus empregos. Isso nos marcou e nos pareceu um ambiente natural para tratar o tema na película", sublinhou.

Processo criativo

A mescla de filme de terror e drama social veio do fato de a dupla adorar filmes de horror, disse o diretor paulista. "Quando começamos a fazer curtas-metragens, queríamos sempre fazer filmes de horror. Com o tempo, percebemos que alguns projetos que fizemos não eram 100% de terror, mas não podíamos abandonar o gênero, porque era parte importante do nosso processo criativo."

A inspiração da dupla de jovens diretores vem de todas as partes, mas principalmente dos escritores Edgar Allan Poe, Stephen King e da maneira em que mesclam o horror e a vida cotidiana. "Também nos agradam Romero, Carpenter, M. Night Shyamalan, Wes Craven, Mojica e outros diretores que exploram o cinema de horror", explicou Dutra.

Em Cannes, Marco Dutra e Juliana Rojas já começaram a planejar o próximo projeto cinematográfico: As Boas Maneiras, uma história de horror sobre bebês monstros.

Autor: Carlos Albuquerque / Pamela Schulz
Revisão: Roselaine Wandscheer