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Filme sobre resistência alemã ao nazismo estreia em Berlim

Courtney Tenz (mp)15 de fevereiro de 2016

"Sozinho em Berlim" leva para as telas o último livro escrito por Hans Fallada e que conta a história de um casal que apoiava Hitler, mas mudou de lado após a morte do filho.

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Filmstill Alone in Berlin
Foto: X Filme Creative Pool/Marcel Hartmann

A vida do escritor alemão Hans Fallada tem todos os ingredientes de um livro ou filme fascinante.

Ao longo de sua vida, o autor – nascido Rudolf Ditzen em 1893, na cidade alemã de Greifswald – lutou contra o vício do álcool e da morfina.

O sucesso como escritor veio em 1932, com a novela Kleiner Mann – was nun? (traduzida por Érico Veríssimo com o título E agora, seu moço?), publicada pouco antes de Adolf Hitler chegar ao poder.

Fallada conta entre os escritores que não deixaram a Alemanha durante a era nazista, e sua relação com o regime foi marcada pela ambiguidade – chegou a ser perseguido e até preso, mas sempre pôde publicar e teve um livro elogiado por Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Hitler.

Em 1944, o escritor se envolveu num incidente com a mulher, também viciada em morfina, e disparou um tiro contra uma mesa. Em seguida, foi internado numa clínica psiquiátrica.

Depois do final da Segunda Guerra, Fallada relatou a história de Otto e Elise Hampel, um casal da classe operária de Berlim cuja resistência aos nazistas após a morte do filho, em 1940, foi bem documentada nos arquivos da Gestapo.

O conteúdo dos arquivos, combinado com as histórias vividas pelo próprio Fallada na Berlim sob domínio nazista, resultou no livro Jeder stirbt für sich allein (Cada um morre para si, em tradução livre), adaptado para o cinema e com estreia marcada para esta segunda-feira (15/2) no Festival Internacional de Cinema de Berlim.

O filme não poderia ter surgido em melhor momento, afirma a protagonista Emma Thompson em Berlim. "O filme é sobre coragem. E esse sentimento de que algumas pessoas estão virando as costas para aqueles que necessitam de ajuda é bem atual."

Outro integrante do elenco, o ator alemão Daniel Brühl, também alerta para uma guinada política à direita. "Nós temos que ser muito cuidadosos para não sermos envenenados por ideologias racistas e fascistas. Essa doença ainda não foi curada."

Dreharbeiten Jeder stirbt für sich allein
Cidade de Görlitz, no leste da Alemanha, serviu de cenário para o filmeFoto: picture-alliance/dpa/J. Trenkler

Pequenos atos de resistência

Baseada em fatos reais envolvendo do casal Hampel, a novela apresenta a história de Otto e Anna, um casal que apoia o regime nazista, mas acaba mudando de lado após a morte do filho no campo de batalha, na França, em 1940.

Tomados de profunda tristeza, os dois iniciam uma pequena campanha contra os nazistas, escrevendo panfletos e cartões postais condenando Hitler. Eles deixam esse material em caixas de correspondência e escadarias pela vizinhança, no bairro berlinense de Wedding.

Estes pequenos atos de resistência eram extraordinariamente ousados para a época, especialmente considerando a lealdade ao regime dos vizinhos e amigos do casal.

A ousadia do casal e seu relacionamento com as pessoas mais próximas criam um clima de suspense na história, que aborda como o luto e a guerra podem transformar o cotidiano das pessoas.

A obra só obteve reconhecimento e sucesso internacionais depois de 2009, quando foi publicada em inglês pela editora independente americana Melvill House.

Lançada sob o título Every Man Dies Alone (Todo homem morre sozinho) nos Estados Unidos e como Alone in Berlin (Sozinho em Berlim) no Reino Unido, o livro chegou rapidamente ao topo da lista de best-sellers, com mais de 400 mil cópias impressas em 2010.

História de pessoas comuns

O sucesso fez com que a história fosse adaptada para o cinema, numa co-produção alemã, francesa e britânica e com o título Sozinho em Berlim. Falado em inglês, o filme é dirigido pelo suíço Vincent Perez.

O diretor, filho de pai espanhol e mãe alemã, afirma que precisava contar a história dos heróis da guerra – são pessoas como o avô dele, que foi morto resistindo ao fascismo na Espanha.

Como Perez disse ao jornal britânico The Guardian, "são pessoas comuns, de quem ninguém fala. Pessoas que contribuíram com pequenas coisas e perderam suas vidas".

O filme teve locações em Berlim, Colônia e Görlitz – cidade do leste da Alemanha que passou pela guerra praticamente ilesa – e consegue reproduzir bem a estética dos tempos da Segunda Guerra Mundial na Alemanha. Além de Thompson e Brühl, o elenco conta com Brendan Glenson.