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Fim da era Sharon preocupa europeus

(rw)5 de janeiro de 2006

Grave estado de saúde do premiê de Israel preocupa não apenas a UE. Há temores de desestabilização no processo de paz. Perito alemão analisa conseqüências.

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Sharon: chances praticamente nulas de retorno à vida política (arquivo)Foto: dpa - Bildfunk

O primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, foi internado em Jerusalém na noite de quarta-feira (04/01) e sofreu duas longas cirurgias para o estancamento de uma hemorragia cerebral. O governo foi assumido pelo seu vice, Ehud Olmert. Fontes próximas do premiê anunciaram que já não se acredita na possibilidade de Sharon retornar à vida política.

Sondersitzung der israelischen Regierung Ehud Olmert
Ehud OlmertFoto: dpa

O agravamento dos problemas de saúde do chefe de governo de Israel, de 77 anos, acontece num difícil momento de transformações políticas no país. Por causa de divergências no gabinete em relação à política com os palestinos, Sharon havia deixado seu partido, o Likud, em novembro, e fundado um novo, o Kadima. Sob sua liderança, ele pretendia se candidatar ao governo nas eleições de 28 de março que, aliás, foram confirmadas por Tel Aviv nesta quinta-feira.

Mensagens de governos ocidentais

Os chefes de Estado e de governo em todo o mundo reagiram chocados à notícia da hospitalização do premiê israelense. Votos de boas melhoras foram enviados a Tel Aviv, entre outros, pela chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, e o premiê japonês, Junichiro Koizumi, que cancelou sua visita a Israel marcada para o próximo sábado.

Em sua mensagem, o presidente francês, Jacques Chirac, manifestou a esperança de que a "corajosa iniciativa de Sharon seja levada adiante". Após vários anos de afastamento, o governo de Paris se reaproximou de Tel Aviv nos últimos meses, depois da saída israelense da Faixa de Gaza.

O chanceler federal da Áustria, Wolfgang Schüssel, que ocupa a presidência semestral da União Européia, salientou o papel de Sharon na busca da paz duradoura no Oriente Médio. Já o ministro britânico das Relações Exteriores, Jack Straw, acha que a política de Sharon terá "conseqüências permanentes" no Oriente Médio.

Opiniões do mundo árabe

Mahmud Abbas in Moskau
Mahmud AbbasFoto: AP

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, enviou por telefone seus votos de reconvalescença. O primeiro-ministro, Ahmed Kureia, disse que o afastamento de Sharon do poder "com certeza terá conseqüências para toda a região".

Observadores políticos árabes mostram-se preocupados com os possíveis efeitos do afastamento de Sharon do poder para a eleição parlamentar palestina. Alguns inclusive haviam elogiado a saída israelense dos territórios ocupados.

Um analista da emissora de tevê Al Arabia conceituou Sharon como "o primeiro estadista que deixou de requerer para Israel o território palestino". O deputado palestino Hanan Ashrawi considerou Sharon "uma pessoa carismática e que se impõe", mas ressaltou que Israel precisa de uma liderança que busque a paz com maior determinação.

EUA perdem um importante aliado

Da mesma forma como os europeus, o governo norte-americano teme que, com a perda do importante aliado no Oriente Médio, o processo de paz seja congelado por tempo indeterminado.

Embora Washington nunca apóie sua política externa em uma única pessoa, a saída de Sharon do cenário político seria um golpe para o governo norte-americano, disse o ex-líder da maioria democrata no Senado, George Mitchell, à CNN. Ele sustenta sua afirmação com "as estreitas relações entre Bush e Sharon". Além disso, no momento, Israel não dispõe de nenhum outro político com a estatura de Sharon, afirmou Mitchell.

Para o conservador jornal norte-americano Wall Street Journal, há muito em jogo. Washington tinha esperança de que uma vitória de Sharon em Israel e do movimento Fatah (do presidente Mahmud Abbas) na Palestina preparariam terreno para o fim do conflito no Oriente Médio.

Analista perspectivas ruins

Segundo Peter Philipp, perito em Oriente Médio da Deutsche Welle, é incontestável que nos últimos cinco anos Sharon, como nenhum outro, comandou os destinos da região ou ao menos participou das decisões mais importantes. Suas medidas enérgicas contra os palestinos, o desprezo com que lidou com Yasser Arafat, a grande proximidade com George W. Bush e, por outro lado, com sua teimosia, ao ignorar restrições da comunidade internacional e mesmo dos norte-americanos e de seus correligionários.

O último exemplo foi sua decisão unilateral sobre a retirada da Faixa de Gaza. Nesta questão, ele permitiu inclusive um conflito aberto no bloco Likud, do qual havia sido co-fundador, para retirar-se e fundar outro partido.

Embora o nome signifique "Avante", é de se duvidar que a direção seja esta nas próximas semanas ou meses. O Kadima não é muito mais do que o próprio Sharon e um grupo de aliados fiéis que o seguiram, mas que dificilmente terão condições de fazer com que o partido tenha êxito sem seu fundador.

As perspectivas são ruins: do Likud, o único líder de expressão que sobrou é o ex-premiê Netanyahu. Ele não só foi contra a retirada da Faixa de Gaza, como também sabotou em seu governo as chances de paz previstas no Tratado de Oslo.

O Partido Trabalhista, de oposição, por seu lado, mal pode aproveitar-se das novas chances no cenário político israelense, pois seu novo presidente, Amir Peretz, é um desconhecido dos eleitores.