1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Fronteira interalemã

Kate Bower (cv)8 de novembro de 2006

Como membro do Exército da antiga Alemanha Oriental, Peter Zahn atuou na guarda do ponto mais perigoso da fronteira interalemã, no extremo oeste do bloco Oriental. Ele falou à DW-WORLD sobre a experiência.

https://p.dw.com/p/9MJn
Peter Zahn serviu como guarda de fronteira do Exército da antiga Alemanha Oriental por mais de três anosFoto: Peter Zahn

DW-WORLD: Quais eram suas tarefas como guarda da fronteira do Exército da antiga Alemanha Oriental, o NVA?

Peter Zahn: Servi como guarda de fronteira no NVA da Alemanha Oriental de 2 de maio a 29 de outubro de 1968 como parte de meus 18 meses de serviço militar básico. Nos dois anos e meio seguintes, fui soldado e depois cabo no batalhão de fronteira em Geisa, na região de Rhön. Naquele tempo, Geisa era a principal cidade mais a oeste da Alemanha Oriental e no bloco oriental, totalmente dominado pelos soviéticos.

Embora nunca tivéssemos usado nossas armas de fogo contra fugitivos, pelo menos enquanto eu estava lá, a área de Geisa foi o ponto mais perigoso durante a Guerra Fria. Supunha-se que, em caso de guerra, os Estados do Pacto de Varsóvia iniciariam um ataque a partir desta área.

Uma de nossas tarefas era observar a fronteira, o que incluía inteligência tática das que eram então potências hostis (como as Forças Armadas norte-americanas nas imediações), protegendo a fronteira e cumprindo as tarefas de alfândega. Outra e mais importante tarefa era impedir as pessoas de atravessar ilegalmente ou de destruir as instalações da fronteira.

Nunca recebemos ordens explícitas para atirar, mas éramos diariamente instruídos a impedir a travessia a qualquer preço. Éramos também responsáveis pela zona interditada (5km) e pela "área proibida", próxima a ela (500m).

Como os alemães orientais reagiam a vocês?

Peter Zahn
Zahn agora vive em Leipzig e é chefe do serviço de informática da Escola Superior de Música e TeatroFoto: Peter Zahn

A população sentia raiva e alguns até mesmo nos odiavam porque tínhamos que efetuar inspeções de veículos e pessoas nas estradas.

Se um médico local, de quem também éramos pacientes e conhecíamos bem, queria visitar um paciente numa vila vizinha, tínhamos que revistar o porta-malas de seu carro. Quando ele retornava, era realizado o mesmo procedimento novamente. Como cidadãos, teríamos acabado com este tipo de contra-senso, mas nunca sabíamos se o viajante era um espião da polícia de fronteira e iria informar os chefes dos controles relaxados.

Também tínhamos que prestar atenção para que os agricultores deixassem seus campos na área proibida uma hora antes do pôr do sol. Eles ficavam realmente irritados em alguns casos.

Ao todo, nosso relacionamento com a população civil não era negativa. Alguns de nós encontraram namoradas e até futuras esposas nas vilas dos arredores.

Você foi doutrinado por seus superiores?

Recebíamos aulas de política, embora não se esperasse que adotássemos a mesma linha da postura oficial. Entretanto, nossos superiores passavam suas impressões sobre nossas atitudes políticas a um representante do Ministério de Seguraça, que visitava nosso batalhão na fronteira regularmente e incógnito. Os oficiais sempre ficavam meio nervosos durante essas visitas, mas nós não ligávamos.

O que a fronteira significou para você, pessoalmente ou como soldado?

Grenzstraße bei Point Alpha
Fronteira onde trabalhou Zahn, nas proximidades de GeisaFoto: dpa

Devido às minhas experiências pessoais e à educação política que recebi em casa e na escola, via a fronteira como necessária – por exemplo, quando médicos educados na Alemanha Oriental desejavam ir morar no Ocidente depois de seus estudos.

Ao mesmo tempo, era estranho. A idéia de atirar em outras pessoas era simplesmente inimaginável. Os fugitivos eram, freqüentemente, jovens que não sabiam quais consequências suas ações teriam para suas famílias, por exemplo, e não podiam ser considerados culpados. Penso que todos no nosso batalhão sentiam da mesma forma e – graças a Deus – nunca nos deparamos com tal situação.

Nossa parte da fronteira era um paradoxo, realmente. Em contraste com seu suposto significado geoestratégico, que nunca conseguimos apreender realmente, as coisas eram relativamente calmas. Não pode ser comparado com a situação no Muro de Berlim, onde as tropas de fronteira constantemente se viam defrontadas com a decisão de atirar em fugitivos.

Como você vivenciou a queda da Cortina de Ferro?

Previ a reunificação anos antes, ainda que não soubesse exatamente quando ela ocorreria. O 9 de novembro de 1989 foi muito mais emocionante para mim. Enquanto estava trabalhando como assistente acadêmico no Departamento de Física daquela que era, então, a Universidade Karl Marx, fui solicitado a me tornar reservista. Depois de muita hesitação, concordei.

Depois que o Muro caiu, ficamos num estado de delírio. Submetemos um pedido para encerrar nossas atividades de reservistas, que foi aprovado poucos dias depois. Visitamos Helmstedt e Braunschweig na Alemanha Ocidental, o que teria sido impossível antes. No NVA até mesmo ouvir estações de rádios ocidentais era punível, e agora estávamos visitando o oeste da Alemanha.