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Forças Armadas intervêm no Zimbábue

15 de novembro de 2017

Militares assumem controle da capital, tomam TV estatal e mantêm presidente Robert Mugabe, no poder há mais de três décadas, sub custódia, num aparente golpe de Estado no país africano.

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Tanques e veículos blindados bloqueam entradas da capital Harare e soldados realizam revistas em pedestres e motoristasFoto: Reuters/P. Bulawayo

As Forças Armadas anunciaram nesta quarta-feira (15/11) terem assumido o controle do Zimbábue e posto sob custódia o presidente Robert Mugabe, um dos mais longevos chefes de Estado do mundo, no poder há três décadas, no que se desenha como um golpe militar.

Os militares dizem que não é um golpe, mas as ações, que se desenrolaram durante a madrugada, têm todos os traços de um: veículos militares espalhados pela capital Harare, soldados no controle da TV estatal e um general divulgando um comunicado sobre a situação.

O discurso na TV foi feito pelo major-general Sibusiso Moyo, que afirmou não se tratar de um golpe militar. Segundo ele, o Exército pretende assumir o controle temporariamente para superar uma "crise política, social e econômica grave".

Soldados e veículos blindados bloquearam o acesso ao Parlamento e a outros edifícios governamentais. A intervenção tem relação com a disputa pela sucessão de Mugabe, que tenta, no pleito de 2018, novamente uma reeleição.

Mugabe e sua família foram levados em custódia – militares garantiram ter sido uma medida para preservar a segurança deles. A ação militar se trata "apenas" de derrubar "criminosos no entorno" do chefe de Estado, de 93 anos.

"Temos como alvo criminosos no entorno dele [Mugabe], que estão cometendo crimes que causam sofrimento social e econômico no país, a fim de levá-los à Justiça. Uma vez que completamos nossa missão, esperamos um retorno à normalidade", disse Moyo.

O representante militar exortou todas as forças de segurança a cooperarem com o Exército. Provocações seriam respondidas adequadamente, advertiu. Todos os soldados devem se apresentar imediatamente. Ao se dirigir ao Judiciário, Moyo disse:

Simbabwe Generalmajor Sibusiso Moyo
Major-general Sibusiso Moyo ressaltou não se tratar de um golpe militar e que Robert Mugabe está em segurançaFoto: Reuters/ZBC

"As medidas tomadas são destinadas a assegurar que você [a Justiça], como um ramo independente do Estado, possa exercer sua autoridade independente – sem medo de ser desativada."

A situação ainda é difusa. A sede presidencial em Harare e o Parlamento do Zimbábue estão inacessíveis e controlados por soldados. O próprio Mugabe ainda não falou publicamente. Um funcionário do gabinete da presidência chegou a afirmar na terça-feira que o chefe de Estado seguia com seus trabalhos oficiais normalmente.

De acordo com testemunhas, houve pelo menos três grandes explosões na capital Harare. Também foram ouvidos tiros. Um residente disse à agência de notícias AFP que pouco depois das 2 horas da manhã (horário local) ter escutado o som de 30 a 40 tiros vindos da direção da residência de Mugabe.

As embaixadas dos Estados Unidos e do Reino Unido, assim como o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, alertaram seus cidadãos no Zimbábue a terem cautela devido à situação pouco clara e aconselharam que ficassem em casa. A embaixada americana ficará fechada nesta quarta-feira.

A crise

A tensão no Zimbábue se agravou depois que o chefe militar, o general Constantino Chiwenga, ameaçou publicamente o governo Mugabe, presidente do país desde 1987. Chiwenga afirmou que o Exército estava pronto para "intervir" diante da crise no país.

Na semana passada, Mugabe destituiu seu vice-presidente Emmerson Mnangagwa, um aliado do líder militar Chiwenga. Os dois combateram juntos com Mugabe contra o regime de minoria branca na antiga Rodésia.

Chiwenga criticou os planos de Mugabe de demitir outros políticos da velha guarda. "Isso tem que parar", exigiu o chefe do Exército. Ele também criticou que a situação econômica do Zimbábue não tenha melhorado por anos devido a entreveros internos no partido governante União Nacional Africana do Zimbábue – Frente Patriótica (Zanu-PF).

O partido governante disse na terça-feira que as observações de Chiwenga são equivalentes à traição e ao incitamento à rebelião contra a ordem constitucional. O general Chiwenga e o vice-presidente destituído Mnangagwa são considerados críticos da primeira-dama Grace Mugabe, de 52 anos, que espera seguir os passos de seu marido no mais alto cargo do Estado.

Um especialista da consultoria de risco Verisk Maplecroft afirmou que o aumento da presença militar em Harare era um sinal claro de que as Forças Armadas iriam intervir, caso necessário, para evitar que Grace Mugabe seja presidente.               

Segundo a imprensa local, os militares capturaram os ministros das Finanças, Ignatius Chombo; o ministro da Educação Superior, Jonathan Moyo; e o ministro de Obras Públicas e Habitação e comissário político a nível nacional da ZANU-PF, Saviour Kasukuwere.

Os três fariam parte do chamado grupo G40, uma facção do partido que, segundo os analistas, procura expulsar aos veteranos da guerra de independência – como o vice-presidente Mnangagwa – para abrir caminho para Grace Mugabe.

Mugabe é o chefe de Estado mais velho do mundo, um dos mais longevos da África e governa o Zimbábue com uma mão dura há 37 anos – como presidente desde 1987 e primeiro-ministro de 1980 até 1987.

Ele enfrenta críticas por causa da grave crise econômica e por ataques a jornalistas, fazendeiros brancos e oposicionistas. Apesar da idade avançada, ele se recusou a nomear um sucessor. Mugabe pretende concorrer à reeleição em 2018.

PV/dpa/afp/apd/rtr/ap

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