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O momento significativo

Sigfrid Hoff (av)16 de maio de 2008

Um soldado hasteia a bandeira da URSS sobre a Berlim bombardeada. Uma imagem que se tornou icônica para a "nova ordem do mundo". Porém seu autor é muitas vezes esquecido. Mostra em Berlim compensa uma injustiça.

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Bandeira vermelha sobre BerlimFoto: Jewgeni Chaldej

Evgueni Khaldei é o grande esquecido entre os fotógrafos. Entretanto, pelo menos uma de suas fotos tornou-se ícone do final da Segunda Guerra Mundial e da nova ordem mundial.

Simbolizando a vitória sobre o nazismo, um soldado do Exército Vermelho ostenta a bandeira da União Soviética do alto da cúpula do Reichstag, sede do governo de Hitler. Abaixo, jaz Berlim, destruída pelas bombas dos Aliados.

Celebrando o aniversário do fim da guerra, em 8 de maio, o museu Martin Gropius Bau, de Berlim, apresenta pela primeira vez uma retrospectiva, que inclui também obras desconhecidas do fotógrafo ucraniano.

Verdade retocada

Contudo, não se trata de um instantâneo "autêntico": a idéia de encenar a posteriori o evento histórico, em 2 de maio de 1945, foi do repórter de guerra Khaldei. O curador da exposição, Ernst Volland, descreve as condições em que se realizou a imagem histórica.

"Ele pediu a um vizinho para confeccionar a bandeira russa, escondeu-a sob o uniforme, escalou com ela o Reichstag, acompanhado por dois soldados, e lá tirou a foto. Tirou-a por trás, mostrando os restos da cidade, o Portão de Brandemburgo, a arquitetura destruída. A escolha da tomada foi muito inteligente, e ele próprio não sabia que mais tarde o motivo ganharia um poder simbólico tão grande."

Volland, que conheceu Evgueni Khaldei em Moscou, no início da década de 90, admira-o como documentarista. Porém admite que precisamente esta famosa imagem foi manipulada. "Ele retocou um dos dois relógios usados por um soldado. E depois acrescentou nuvens de fumaça subindo, para dramatizar o acontecimento."

Fotógrafo self-made

Ausstellung Fotografie Jewgeni Chaldej
Casal num gueto, logo após a derrota dos nazistasFoto: Jewgeni Chaldej

Nascido em 23 de maio de 1917, filho de pais judeus na Ucrânia, Evgueni Khaldei viveu os horrores do século 20 desde a mais tenra infância. Sua mãe foi morta num pogrom, o pai e quase todos os irmãos assassinados pelos nazistas em 1941.

Aos 12 anos, construiu sua própria câmera fotográfica utilizando as lentes dos óculos da avó. Até que esta lhe deu dinheiro para comprar uma máquina de verdade. Fotógrafo cem por cento autodidata, com 15 anos já publicava seu primeiro trabalho.

Em 1936, muda-se para Moscou, onde se torna correspondente da agência de notícias TASS. Esta o designa para o fronte, como fotógrafo de guerra, após o ataque de Hitler à União Soviética, em 1941. Apesar das circunstâncias extremas, suas imagens são sempre meticulosamente compostas, observa o curador Volland.

"Ele me contou que certa vez pediu a um piloto que o amarrasse à barriga de seu avião e fotografou do alto, do lado de fora. E foi dessa forma que aterrissou novamente. Por aí, nota-se como ele era temerário, arriscava tudo. E mesmo assim conseguia disparar o diafragma no momento certo, escolhendo intuitivamente sua composição."

Paixão de toda a vida

1946 Nürnberg Hermann Göring
Hermann Göring durante o julgamento de Nurembergue, em 1946Foto: Jewgeni Chaldej

Em 1945, Khaldei documenta oficialmente a Conferência de Potsdam. Em Berlim trava conhecimento com o fotógrafo norte-americano Robert Capa, com o qual é muitas vezes comparado. As últimas fotos de Hermann Göring, no julgamento de Nurembergue, em 1946, são de Evgueni Khaldei, tiradas com uma máquina presenteada por Capa.

A TASS o despede em 1948, supostamente por motivos anti-semíticos. Dez anos mais tarde trabalha para o jornal Pravda. Khaldei manteve-se um fanático da fotografia durante toda a vida. Poucos anos antes de falecer em 1997, de visita em Berlim, fez questão de ir a uma loja especializada e – para espanto de Volland –comprar uma Rolleiflex com o primeiro cachê recebido no Ocidente.

"Ele investiu todo seu pagamento nessa câmera, 10 mil marcos alemães. Perguntamos o porquê. 'Nunca tive dinheiro para comprar uma', foi a resposta. 'Além disso minha mulher está morta, vou levá-la comigo para a cama'."