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Condições de trabalho

6 de maio de 2011

Falta de treinamento e proteção, humilhações públicas, alta pressão no local de trabalho, até 14 horas em pé: é longa a lista de acusações contra gigante asiática, que produz para Apple, Nintendo, Intel e outras.

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Pelo menos 13 funcionários da empresa na China se suicidaram em 2010Foto: Picture alliance/dpa

Difícil quem não conheça o iPhone da Apple. Mas muitos ignoram que não é a empresa norte-americana quem monta seus telefones celulares de ponta, e sim a taiwanesa Foxconn. Em suas gigantescas fábricas na China continental, centenas de milhares de operários montam celulares, tocadores de MP3, computadores e outros aparelhos para marcas conhecidas, como a Nintendo ou a Intel.

Embora já seja uma das maiores fabricantes de componentes eletrônicos do mundo, a Foxconn encontra-se em expansão, planejando também abrir uma fábrica para produtos da Apple no Brasil. Há anos, a multinacional vem sendo criticada por suas condições desumanas de trabalho.

Um estudo da Sacom, organização de defesa dos direitos trabalhistas sediada em Hong Kong, dá uma dimensão concreta da situação dos trabalhadores.

China Foxconn Suizid
iPhones de papelão queimados durante protestos contra Foxconn em Hong KongFoto: AP

Condições desumanas

Para a pesquisa, foram entrevistados 120 funcionários da Foxconn. Além das 174 horas de jornada mensal regular, muitos chegam a fazer de 80 a 100 horas extras. As metas de produção impostas são extremamente altas. Quando não são cumpridas, "não lhes é permitido almoçar, só podendo comer quando o expediente termina", relata Debby Chan, da Sacom.

A proteção no local de trabalho é também deficiente. Muitos dos entrevistados entraram em contato com substâncias químicas e sofrem de eczemas. Não existe um treinamento adequado de pessoal. Os funcionários novos são submetidos a um "treinamento militar" sem sentido.

O clima no trabalho é de intimidação, afirma a ativista. "Se um operário comete um erro ou transgride as normas da fábrica, é punido. Alguns são forçados a confessar seus erros por carta aos superiores." Se o erro volta a ocorrer, o trabalhador tem que ler a carta em voz alta, diante de centenas de colegas. "Trata-se de uma tática para expor os trabalhadores", explica Chan. Como os supervisores são punidos pelas falhas de seus subalternos, agem com rigor extremo.

A Foxconn trata seus operários como máquinas, critica Debby Chan. "Eles não podem falar durante o expediente e trabalham de pé pelos menos dez horas por dia." Isso, sem falar das filas do ônibus ou da comida. "Muitos dizem que ficam de pé 14 horas por dia."

Flash Steve Jobs mit Hörnern Hong Kong Foxconn
À esq. figura de Steve Jobs, da Apple, em manifestações em Hong KongFoto: AP

Medidas hipócritas

No ano passado, tais condições desumanas de trabalho teriam levado pelo menos 13 funcionários chineses da Foxconn ao suicídio, aponta o relatório. A empresa aumentou os salários e agora oferece aconselhamento social. No entanto, a ativista da Sacom considera tais medidas hipócritas. "Por um lado, há esses aconselhamentos, por outro, a Foxconn nunca reavaliou seus métodos de gestão." Assim, a pressão na linha de produção se mantém inalterada.

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Pressão extrema na linha de produçãoFoto: AP

Questionada pela Deutsche Welle, a Foxconn informou em um comunicado que não conhece todo o relatório, por isso não pode comentá-lo. A empresa evitou responder diretamente às acusações da Sacom, em vez disso, escreveu no comunicado que as horas extras são voluntárias e que há meios formais para queixas, disponibilizados aos funcionários 24 horas por dia: "Em trabalho intenso no ano passado, a Foxconn, em conjunto com autoridades do governo chinês, em nível local e nacional, e ainda com peritos em saúde, desenvolveu a introdução de programas e diretrizes para garantir que nossos trabalhadores na China recebam o apoio de que precisam".

Debby Chan não atribuiu a culpa pelas más condições de trabalho apenas à gigante asiática da eletrônica, mas também a seus grandes clientes, como a Apple. A ativista insta os consumidores desta e outras marcas conhecidas que as forcem a impor um código de conduta a seus fornecedores.

Autor: Christoph Ricking (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer