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CriminalidadeFrança

França homenageia professor decapitado

21 de outubro de 2020

Em cerimônia, Macron diz que docente assassinado após mostrar caricatura de Maomé foi morto por ensinar alunos a serem cidadãos, e ressalta que país não renunciará a ilustrações.

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Guardas levam caixão do professor decapitado na França
Macron participou de homenagem a Samuel PatyFoto: Francois Mori/Pool/Reuters

A França homenageou nesta quarta-feira (21/10) o professor que foi decapitado num subúrbio de Paris após mostrar uma caricatura do profeta islâmico Maomé em sala de aula. Na cerimônia solene, na Universidade Sorbonne, o professor recebeu postumamente a Legião de Honra, a mais alta condecoração na França.

"Samuel Paty foi morto porque os islamistas querem o nosso futuro e sabem que, com heróis silenciosos como ele, nunca o terão", afirmou o presidente francês, Emmanuel Macron, durante a cerimônia. "Defenderemos o laicismo. E a liberdade que ensinava tão bem. Não renunciaremos a caricaturas ou ilustrações", acrescentou.

Macron afirmou ainda que Paty foi morto por "covardes porque encarnou a República" e "porque decidiu ensinar seus alunos a se transformaram em cidadãos, assumir os seus deveres e a liberdade para os exercer".

Vista da cerimônia em homenagem a professor que foi decapitado na França
Professor recebeu a título póstumo a Legião de HonraFoto: Francois Mori/Reuters

O presidente ressaltou que Paty passou a encarnar "a cara da luta pela liberdade e a razão", uma batalha que Macron diz que continuará em seu nome, "porque é mais necessária que nunca".

O caixão do professor foi colocado no centro do pátio de honra da Universidade Sorbonne e adornado com bandeiras da França. Alunos e amigos prestaram homenagem ao professor assassinado. A pedido da família, a cerimônia começou com a música One, da banda U2, e terminou com aplausos.

O professor de história Samuel Paty, de 47 anos, foi decapitado na tarde de sexta-feira próximo à escola em que lecionava, no subúrbio de Conflans-Sainte-Honorine, no oeste de Paris.

O autor do ataque, um refugiado de nacionalidade tchetchena de 18 anos, foi morto a tiros pela polícia. Segundo testemunhas, o assassino teria gritado "Allahu Akbar" ("Deus é grande" em árabe) ao ser abatido a 200 metros do local.

Paty vinha sendo alvo de ameaças na internet por ter mostrado uma das caricaturas de Maomé, originalmente publicada no jornal satírico Charlie Hebdo, durante uma aula sobre liberdade de expressão. O representante de uma associação de pais de alunos relatou que o docente teria "convidado os alunos muçulmanos a deixarem a classe", pois iria mostrar a imagem.

Adolescentes detidos por ajudar a identificar professor

O promotor antiterrorismo da França, Jean-François Ricard, revelou nesta quarta-feira mais detalhes do crime. Segundo ele, o assassino pagou a alunos da escola para ajudá-lo a identificar o professor. Ao chegar no local, ele tinha apenas o nome de Paty e o endereço do colégio, que descobriu após uma campanha lançada contra a vítima nas redes sociais.

"A identificação só foi possível com a ajuda dos alunos da escola", afirmou Ricard. "É por isso que a promotoria antiterrorismo decidiu processar dois menores de 18 anos, cujas implicações na identificação da vítima pelo assassino parecem ser conclusivas", acrescentou.

Jovens abraçados de máscara em homenagem a professor morto na França
Alunos, amigos e familiares de Paty participaram de ato soleneFoto: Gonzalo Fuentes/Reuters

Segundo o promotor, o assassino chegou cedo na escola e ofereceu a alunos entre 300 e 350 euros para a identificação da vítima. Dois estudantes, de 14 anos e 15 anos, foram presos acusados de cumplicidade em homicídio com motivação terrorista e associação com terrorismo. Eles teriam ficado com o assassino por mais de duas horas esperando a chegada de Paty, mesmo após o agressor ter dito que queria "humilhar e golpear" a vítima.

Os adolescentes foram apresentados a um juiz de instrução nesta quarta-feira junto com outros cinco suspeitos de envolvimento no caso – entre eles o pai de uma estudante que chegou a lançar apelos online por uma "mobilização" contra o professor, e um conhecido radical islamista.

Ricard afirmou ainda que o assassino trocou mensagens com o pai da aluna que lançou a campanha contra Paty antes do crime. Três amigos do agressor completam a lista de suspeitos. Eles estariam envolvidos na compra das armas usadas no crime ou na radicalização do assassino.

Após o ataque, a polícia da França lançou uma operação contra redes islamistas. Autoridades ordenaram ainda o fechamento de uma mesquita nos arredores de Paris e a dissolução de grupos e associações que tenham ligações com o movimento islamista.

CN/afp/rtr