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Freud, a "terceira decepção da Humanidade"

Carl-Josef Kutzbach (sv)6 de maio de 2006

Há 150 anos, nascia Sigismund Schlomo Freud. Quatro anos depois, sua família se mudaria da pequena Freiberg para Viena, onde Freud viveu por quase 80 anos, até fugir do regime nazista pouco antes de morrer.

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Sigmund Freud, em abril de 1931Foto: AP

Nascido a 6 de maio de 1856 em Freiberg (hoje Pribor, República Tcheca), Freud faleceu em 1939, após receber uma dose mortal de morfina, aplicada contra as dores que o assolavam em conseqüência de um câncer. Suas teorias, porém, sobrevivem não só na prática psicanalítica, mas principalmente na interseção e no diálogo com outros campos das Ciências Humanas.

Na Alemanha, há hoje 18.500 terapeutas (o que não implica que sejam psicanalistas), tratando de 700 mil pacientes anualmente, 400 mil destes em regime de internação. Estima-se que mais de cinco milhões de pessoas no país (o que significa mais de 30% dos adultos) sofrem, em algum período do ano, de alguma enfermidade de ordem psíquica. Entre os jovens, este índice é ainda maior.

Reconhecimento de conflitos

O professor Michael Günter, diretor do Departamento de Psiquiatria e Psicoterapia Infanto-Juvenil do Hospital Universitário de Tübingen, organizou para as comemorações dos 150 anos do "pai da psicanálise" um ciclo de palestras.

"Em primeiro lugar, o grande legado de Freud é o reconhecimento de que as enfermidades psíquicas são realmente enfermidades do espírito. E o fato de que hoje a psicoterapia é praticada de forma corrente, em suas mais diversas linhas. Isso só acontece graças a Freud, que reconheceu os problemas, feridas e conflitos da psique humana."

"A terceira humilhação"

Para Günter, Freud deve ser lembrado como "a terceira humilhação" passada pela Humanidade. "Depois que tivemos de reconhecer que a Terra não é o centro do universo e após termos de engolir que não somos, como pensávamos, fruto de uma criação, mas simplesmente descendentes do macaco."

A contribuição de Freud, que seria a terceira decepção, de acordo com o especialista alemão, é ter escancarado que "o eu não é dono do seu próprio nariz". Ou seja, que no inconsciente ocorre uma série de processos sobre os quais não temos controle e que, mesmo assim, tomam grande espaço em nossas vidas.

Neste contexto, o significado da agressão e da sexualidade pode ser encarado como uma das grandes "descobertas" do saber freudiano. "Trata-se de aspectos certamente vistos de forma distinta antes e depois de Freud", observa Günter.

Malquisto por regimes totalitários

Embora tenha sido produto de uma época e de um determinado universo cultural, a psicanálise é hoje um saber que encontra espaço em vários países do mundo.

Em regimes que cerceiam a liberdade, porém, Freud costuma não ser muito bem-visto. Não importa se entre os nazistas, na Rússia de Lênin, na ditadura de Pinochet no Chile ou no comunismo da ex-Alemanha Oriental, não foram poucos os regimes totalitários do século 20 que baniram a psicanálise do establishment. "Em sistemas autoritários, refletir sobre o espírito já parece automaticamente subversivo", conclui o especialista Günter.