1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Frigoríficos transferem produção para Estados sem aftosa

Geraldo Hoffmann27 de agosto de 2006

Presidente da Abiec rebate críticas européias à falta de controle sanitário da produção de carnes no Brasil, cujas exportações continuam batendo recordes apesar da febre aftosa.

https://p.dw.com/p/90ls
Marcus Vinicius Pratini de Moraes, presidente da AbiecFoto: dw

Um relatório da União Européia, publicado há poucas semanas na internet e que apontou falhas no controle sanitário da produção de carne brasileira, continua servindo de munição para agricultores alemães pedirem ao bloco um embargo à importação do produto.

Em entrevista via e-mail à DW-WORLD, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Marcus Vinicius Pratini de Moraes, diz que há controle para garantir a qualidade do rebanho nacional e explica porn que o surto da aftosa não fez despencar as exportações de carne.

DW-WORLD: O relatório da UE é do conhecimento do senhor e o que diz das conclusões dos inspetores europeus?

Pratini de Moraes: O relatório da última missão européia no Brasil ainda não está disponível.

A Associação dos Agricultores da Baviera diz não entender como é que as exportações brasileiras de carne continuam crescendo, apesar da proibição da importação feita por mais de 50 países após o surto de febre aftosa. Qual é a explicação que o senhor tem para este fato?

Após o surto de febre aftosa que ocorreu no Brasil em outubro de 2005, cerca de 50 países (25 da UE) estabeleceram restrições parciais à carne brasileira. No entanto, outros 100 países continuaram a importar carne brasileira após o surto de febre aftosa, uma vez que a carne desossada maturada não apresenta riscos de transmissão do vírus da febre aftosa. Para os países que colocaram restrições parciais, muitas empresas frigoríficas remanejaram sua produção para Estados habilitados, uma vez que possuem unidades produtoras em mais de um Estado da federação.

O Brasil exporta 25% da sua produção de carne bovina. Os outros 75% são consumidos no mercado interno.
[Dados da Abiec: de janeiro a julho deste ano, o país exportou 958.150 toneladas contra 966.722 toneladas de carne bovina in natura no mesmo período em 2005; 383.708 t de carne bovina industrializada (390.948 t no 1º semestre de 2005 ); 50.007 t de miúdos, contra 50.353 t nos primeiros seis meses do ano passado. ]

O diretor jurídico da Associação de Agricultores da Baviera diz que o controle dos bovinos brasileiros (identificação do animal desde o nascimento até o abate para exportação) não é comparável ao controle feito na Europa e que diante do surto de febre aftosa um ou outro animal pode ter "migrado" de um Estado para outro para ser exportado. O que o senhor diz sobre esta suspeita?

Para garantir a qualidade do rebanho nacional, a partir de 2002 foi instituído o Sisbov (Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina), que tem por objetivo identificar individualmente todos os bovinos nascidos no Brasil ou importados, bem como adotar medidas de controle do trânsito de animais, do estado sanitário, e da segurança dos alimentos de origem animal produzidos no país. Atualmente, existe no banco de dados do Sisbov, mais de 15 milhões de animais identificados e disponíveis para abate.

As áreas que tiveram surtos de febre aftosa no ano passado continuam interditadas. Animais dos Estados banidos pela União Européia não são abatidos para esse destino, uma vez que todos os animais exportados para a UE possuem identificação individual. Toda a carne exportada para a UE é obrigatoriamente rastreada pelo Sisbov. Por isso, não existe a possibilidade de se exportar carne bovina brasileira sem a estrita observância das diretrizes européias.

Deve ser ressaltado que jamais houve no Brasil casos de BSE, como há na UE. A única doença animal de impacto no rebanho brasileiro é a febre aftosa, um problema de ordem econômica e não de saúde pública, como a BSE.

Os europeus estão endurecendo o controle fitossanitário porque não conseguem barrar a carne brasileira via barreiras tarifárias?

As tarifas alfandegárias aplicadas ao Brasil pela UE constituem a maior barreira à entrada de carne bovina brasileira no mercado europeu, já que podem chegar a 400% ad valorem para alguns cortes. Devido à ocorrência de BSE na UE, a sensibilidade do consumidor europeu é muito maior e exige padrões sanitários cada vez mais rígidos. As empresas frigoríficas, pecuaristas e o governo estão investindo cada vez mais para aumentar o controle em toda a cadeia da carne bovina, garantindo assim as exigências do mercado europeu.

O governo brasileiro está fazendo a sua parte para impedir que "ovelhas negras" acabem prejudicando os negócios dos exportadores que procuram seguir as normas internacionais?

O Brasil é um país de dimensões continentais que conta com grande rede de defesa e inspeção animal oficial e privada. Ainda que possamos dar todas as garantias que os mercados exigem para a importação da carne bovina brasileira, deve-se ter em mente que os processos e procedimentos de fiscalização e controle encontram-se em constante aperfeiçoamento e consolidação de forma a garantir que as exigências internacionais de segurança dos alimentos sejam respeitadas do campo à mesa.