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Futebol sob o signo do nazismo

(ca)15 de setembro de 2005

A Federação Alemã de Futebol (DFB) apresenta pesquisa sobre as relações entre o esporte, a política e o comércio durante o regime nazista.

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O livro 'Futebol sob a suástica'Foto: AP

O presidente da Federação Alemã de Futebol, Theo Zwanziger, e o ministro alemão do Interior, Otto Schily, apresentaram na última terça-feira (13/09), em Berlim, um estudo independente, realizado a pedido da DFB pelos historiadores Nils Havemann e Klaus Hildebrand, que esclarece, em 473 páginas, o entrelaçamento do futebol alemão e o regime nazista.

A pesquisa foi encomendada por Theo Zwanziger em 2001. Zwanziger comenta que teria sido melhor que o livro tivesse sido publicado por ocasião do centenário da DFB, em 2000. Na ocasião, sentiu-se falta de uma visão mais crítica do papel da instituição durante os anos do nazismo. Não querendo repetir o erro, seu presidente apresenta, poucos meses antes do começo da Copa 2006 na Alemanha, o estudo que tenta registrar um dos mais turvos capítulos da história da instituição.

O autor da pesquisa, Nils Havemann, explica em entrevista à emissora Deutschlandradio que para a DFB não seria possível desenvolver tal estudo até os anos de 90, pois talvez um ou outro funcionário antigo tivesse medo de ser desmascarado. O historiador informou que, além da vontade de Zwanziger, críticas externas influenciaram a motivação da Federação no esclarecerimento do que realmente aconteceu naquela época.

Os jogadores de Hitler

Buch Fussball unterm Hakenkreuz Vorstellung
Da esquerda para direita: Nils Havemann, Theo Zwanziger e Otto Schily na apresentação do livro em BerlimFoto: AP

O estudo buscou, em 40 arquivos diferentes, informações sobre o papel político da Federação Alemã de Futebol entre 1933 e 1945. Segundo Havemann, a relação inicial da DFB com o nazismo era mais uma questão de sobrevivência do que um interesse ideológico. A crise mundial de 1929 afetou também a DFB, que a partir de 1933 fez uso do apoio nazista para garantir sua existência.

Após os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936, a DFB não era mais tão interessante para os nazistas, que paulatinamente estatizaram a instituição, expulsando os antigos funcionários de seus cargos. Havemann explica também que somente poucos membros da DFB poderiam ser chamados realmente de nazistas, entretanto a contribuição da DFB para o avanço do nazismo estaria muito ligada, além da ignorância, à ambição profissional de certos funcionários.

Havemann cita o caso do técnico da seleção alemã Sepp Herberger, que apesar de reconhecer as atrocidades do regime, só tinha uma coisa na cabeça: tornar-se técnico da seleção nacional, o que conseguiu a partir de 1937. Herberger continuou sendo técnico da Alemanha após 1945, trazendo ao time nacional o campeonato mundial de 1954. Ele despediu-se do comando da seleção alemã somente em 1964.

Fúria após derrota da seleção

Havemann conta que Hitler raramente ia aos estádios e, depois que os alemães perderam por 2 a 0 para os noruegueses, nas Olimpíadas de 1936, ele ficou tão furioso que nunca mais se interessou por futebol. Para os nazistas, desde o princípio, o futebol era antes de tudo um instrumento de propaganda do regime.

O estudo de Havemann desmonta a tese, até então defendida pela DFB, de que o futebol, no que diz respeito ao nazismo, teria sido apolítico. Segundo o pesquisador, é importante salientar, entretanto, que a posição da DFB não foi melhor nem pior que a de outras empresas ou corporações dentro do país.

O prêmio Julius Hirsch para o Bayern de Munique

Fussballweltmeisterschaft Deutschland gegen Ungarn 1954
Alemanha vence a Hungria na Copa de 1954Foto: AP

Além do livro, a DFB instituiu o prêmio Julius Hirsch para a tolerância e o respeito aos direitos humanos. Julius Hirsch foi um jogador da seleção alemã, de crença judia, assassinado pelos nazistas no campo de concentração de Auschwitz.

O prêmio será entregue este ano em Leipzig, em 9 de dezembro próximo, ao Bayern de Munique. Segundo a DFB, os jogadores do Bayern, mais do que qualquer outros de demais times, foram os que mais resistiram a ser incorporados pelos membros do Partido Nazista (NSDAP). Além disso, a direção do Bayern se destacou no combate ao anti-semitismo.

A DFB dá o exemplo do amistoso realizado recentemente na Alemanha entre os juvenis do Bayern e um time formado por jovens palestinos e israelenses, escolhido pela Fundação Shimon Peres.