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Günter Grass e Gdansk: uma ligação para toda a vida

Alexandra Jarecka (av)13 de julho de 2005

Desde 1958, o escritor alemão, Prêmio Nobel da Literatura, retorna regularmente à sua cidade natal, antiga Danzig, atualmente Gdansk, em território polonês.

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Günter Grass e um proverbial tambor em GdanskFoto: dpa

Nascido em Danzig, atado a Gdansk. Günter Grass viu e vivenciou sua cidade natal em todas as facetas possíveis. Dessas raízes ele extrai há décadas sua força e inspiração, e não apenas para O tambor, o livro que o tornou mundialmente famoso.

"No início era uma viagem de retorno, para encontrar os resquícios de Danzig [assim se chamava a cidade, até o fim da Segunda Guerra Mundial. Antes parte do Império Alemão, ela pertence atualmente à Polônia]", explicou Grass em conversa com a Deutsche Welle. "Porém no decorrer dos anos e décadas veio também um forte interesse pela história de Gdansk, pela história do pós-guerra. Por exemplo, em meu romance O linguado descrevo no capítulo final a revolta nas cidades portuárias polonesas. Sobretudo em Gdansk, onde a milícia atira nos operários, isso faz parte da trama."

"Na época, fui o único autor a escrever sobre isso. Para os escritores poloneses, o assunto era proibido, a censura não haveria permitido. Tive, por assim dizer, uma função de substituto, complementar à literatura polonesa. Trata-se portanto de uma relação e uma compreensão que se estendem por décadas", explica o escritor alemão.

Discípulos de Grass

Há pouco Günter Grass reuniu-se com seus tradutores, a fim de discutir a nova versão de O tambor. Nessa ocasião encontrou também seu colega mais jovem Pawel Huelle, com quem desenvolveu uma ligação especial. Os livros de ambos não só refletem de maneiras múltiplas a história de Gdansk. Alguns deles até mantêm um diálogo entre si, como por exemplo o primeiro romance do polonês Huelle, Weisser Dawidek, e a novela Gato e rato (1961) de Grass.

Huelle ficou conhecendo a história passada de Gdansk exclusivamente através da prosa de juventude do autor veterano alemão. Na época, sua admiração não teve limites: "Os primeiros livros de Günter Grass eram como viagens de descoberta para mim. Súbito minha cidade aparecia, porém sobre um outro pano de fundo, desconhecido para mim. Foi, por assim dizer, uma literatura do primeiro contato. Tinha novamente diante dos olhos o playground, os becos, a praça, todos esses lugares em Langfuhr, hoje Wrzeszcz, onde se lutaram batalhas e se fumou o primeiro cigarro. Era simplesmente fascinante."

Missão de reconciliação

Após Weisser Dawidek seguiram-se outras histórias, como Chuva de prata. Quase todos os contos nesse volume são lembranças de pessoas mortas há longo tempo, de uma "Danzig" e de uma paisagem teuto-polonesa há muito desaparecida. Assim como Huelle, outro autor natural de Gdansk, Stefan Chwin, prestou importante contribuição para trazer novamente à tona a história recalcada da cidade. Uma importante missão para a reconciliação, na opinião de Grass.

"Justamente aqui em Gdansk há Chwin, há Pawel Huelle, que muito cedo, ainda durante o regime comunista, começaram a escrever a história alemã da cidade. Antes esta era ignorada, como se nunca houvesse existido, como se um arcaico território polonês houvesse sido reconquistado, uma besteira total e falsificação histórica. Esses nacionalistas continuam existindo em ambos os países. Eles assumirão sempre essa posição; é preciso escrever, se pronunciar contra isso", afirma Günter Grass.

Livros e o leitor

O autor alemão causa sensação em Gdansk, com seus livros e sua personalidade. Ele tornou-se personagem de culto local. Fato que registra com sobriedade e sobre o qual reflete:

"Vivemos numa época de alta velocidade. Tudo passa voando e emprega tecnologias modernas. E a literatura é algo que depende do leitor, algo que não se pode delegar. A própria pessoa tem que ler, trata-se de uma superfície escrita abstrata, que só o leitor pode trazer de volta à vida. E se consigo conquistar leitores com meus livros, precisamente aqui, então me alegro de maneira especial."