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Garota alemã denuncia assédio sexual em clubes noturnos

Nina Niebergall rw
17 de janeiro de 2017

Em carta aberta, adolescente afirma ter sido assediada em boates da cidade de Jena e provoca reações tanto positivas quanto negativas. Também os clubes reagem.

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Foto: DW

"Você está numa casa noturna e de repente sente mãos estranhas passando por seu corpo, sua bunda, seu peito": é assim que Alina Sonnenfeld, de 19 anos, descreve uma situação pela qual passou várias vezes desde que começou a sair à noite, há três anos. Certa vez, um homem a continuou importunando, apesar de ela tê-lo empurrado várias vezes. E de repente ele a beijou.

Agora, numa carta aberta publicada em um jornal, a jovem adverte os clubes noturnos da cidade de Jena: "Eu não me sinto segura aí à noite". Ela afirma que até gosta muito de frequentar os bares alternativos de sua cidade, só que a partir de determinada hora é comum começarem a tocá-la, beijá-la e assediá-la contra a vontade.

"No começo, achei que isso era normal", diz a estudante. Só depois que se informou sobre o tema sexismo, ela notou que não é bem assim. "Vivenciei uma série de situações extremamente desconfortáveis, nada engraçadas ou inofensivas." Ela só resolveu tornar isso público porque notou que o mesmo acontece a muitas outras mulheres. "Pensei: Isso não pode ser verdade, temos que fazer alguma coisa." A carta aberta, publicada  no jornal Ostthüringer Zeitung, foi assinada também por seis amigas de Alina.

Porträt Alina Sonnefeld
Alina Sonnenfeld: "Situações extremamente desconfortáveis"Foto: Gianina Morgenstern

Ela e as amigas não informaram imediatamente os seguranças dos clubes sobre o assédio. Hoje, elas dizem que se arrependem disso. Na carta aberta, no entanto, responsabilizam os clubes por não criarem um ambiente onde se sintam bem. "Eu nunca tive a sensação de que vocês estão dispostos a me ouvir."

Os clubes reagiram demonstrando compreensão. Sara Gassen, do Rosenkeller, um bar estudantil famoso em Jena, afirma que, em geral, as mulheres hesitam em falar com estranhos sobre assédio sexual. "Algumas até acreditam que isso possa trazer problemas". Mas não é assim, ressalta Gassen.

Medo e inibição

A cientista social Monika Schröttle, da Universidade Técnica de Dortmund, fez vários estudos sobre violência contra a mulher. Segundo ela, cerca de 60% das mulheres e meninas dizem que já sofreram algum tipo de assédio sexual. Quando isso acontece em clubes, elas muitas vezes não se queixam temendo não ser ouvidas, ou, pelo contrário, que a represália contra o agressor seja muito severa, como a expulsão do clube.

Pesquisas sobre gênero mostram que o sexismo se vale das relações de poder existentes, como a desigualdade social entre homens e mulheres. Quando uma mulher sofre assédio sexual, ela geralmente se sente jogada para uma posição inferior. Isso torna mais difícil ligar para a polícia, ou mesmo queixar-se para a segurança ou a diretoria do clube noturno.

, TU Dortmund
Monika Schröttler: "Mulheres hesitam em falar com estranhos sobre assédio sexual"Foto: privat

Para a cientista social, homens que praticam assédio sexual tem uma série de motivos: "Alguns estão numa posição de poder na sociedade e não aceitam que mulheres lhes imponham limites. Outros veem a si mesmos como inferiores, mas acham isso incompatível com o seu ideal de masculinidade e tentam compensar isso humilhando mulheres.

"Problema social"

"Sejam homens ou mulheres, em todas as camadas sociais sempre há pessoas que não respeitam outras pessoas e acabam se comportando de forma inadequada", afirma Sara Gassen, do bar Rosenkeller. "Foi muito difícil para mim perceber que não posso me mover livremente nem em locais onde há pessoas que compartilham das mesmas ideias políticas e filosofias que eu", disse Sonnenfeld.

Seja por vergonha, por desconhecimento do que fazer ou mesmo por causa do medo das reações, as mulheres são ainda mais reservadas para denunciar publicamente casos de assédio sexual do que fazer queixa à polícia. A experiência mostra que muitas vezes as vítimas são acusadas de covardia ou tentativa de difamar quem as assediou. Oficialmente, a polícia da Turíngia, estado onde fica Jena, praticamente não registrou casos de assédio sexual no ano passado.

Ajudar outras garotas

Alina não teve apenas reações positivas a sua carta aberta: "Meus maiores medos, que não me impediram de fazer queixa aos seguranças, tornaram-se realidade." Na internet, ela foi exposta a comentários que a ridicularizavam ou consideravam o problema do sexismo irrelevante. E há também os que a consideram culpada por ter sido assediada. Segundo a argumentação de alguns críticos, os refugiados são os responsáveis por tudo, e como Alina é de esquerda, ela mesma seria culpada. O argumento é ainda mais absurdo porque Alina foi assediada por alemães.

Apesar das discussões por vezes acaloradas, ela diz estar satisfeita por ter compartilhado suas experiências. Assim, "talvez cada vez mais garotas de 16 anos pensem: posso e devo me defender."

Os clubes noturnos de Jena reagiram de forma positiva. Em um encontro com as garotas que assinaram a carta aberta, foi acertado que seriam feitos cartazes informativos, e o pessoal da segurança poderá ser mais facilmente identificado.

"Eu me atrevi a levantar a voz e agora algo vai mudar", diz Alina. "Esta é realmente uma ótima sensação."

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