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George Soros: filantropo altruísta ou demagogo liberal?

Jefferson Chase md
17 de maio de 2018

Para alguns, bilionário é sinônimo de generosidade; para outros, de ameaça. Suas ideias progressistas e a atuação dos órgãos que mantém fazem do húngaro-americano uma figura controversa.

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George Soros
"A ascensão da extrema direita chauvinista e xenófoba é um desenvolvimento preocupante", disse Soros em 2009Foto: dapd

Hoje conhecido mundo afora, o bilionário húngaro-americano George Soros nasceu em Budapeste em 1930 como Gyorgy Schwartz em uma família secular de classe média alta que mudou seu nome para Soros, que soa menos judeu, em resposta ao crescente antissemitismo húngaro.

Quando a Alemanha nazista ocupou a Hungria; em 1944, a família adquiriu documentos falsos em que seus membros apareciam como cristãos, salvando-os do possível assassinato no Holocausto. Acredita-se que o pai de Soros também tenha salvado a vida de outros judeus húngaros.

Soros se matriculou na London School of Economics em 1947, onde foi aluno do renomado filósofo austríaco-britânico Karl Popper, que era um defensor tenaz da democracia liberal e um crítico do autoritarismo e do totalitarismo.

Popper também promovia o princípio da reflexividade, que sustenta que o ato de observar altera o objeto de observação. Soros aplicou tal princípio na economia. Ele inverteu a lógica tradicional de que os preços refletem os fundamentos econômicos, argumentando, em vez disso, que os preços, eles mesmos, impulsionaram o desenvolvimento econômico.

Em seu livro Soros on Soros (Soros sobre Soros, em tradução livre), de 2005, ele escreveu: "A sabedoria predominante é de que o mercado está sempre certo. Eu adoto a posição oposta. Eu presumo que os mercados estão sempre errados. Mesmo que minha suposição seja ocasionalmente errada, eu a uso como uma hipótese de trabalho."

Outdoor do partido de Orbán contra Soros
Outdoor do partido de Orbán contra Soros: bilionário foi peça central da campanha para a reeleição do premiê da HungriaFoto: AFP/Getty Images

Soros tornou-se um investidor durante os anos 60, fazendo milhões com fundos hedge. Durante a década de 1990, ele ganhou bilhões fazendo vendas a descoberto de libras britânicas, o que lhe rendeu o apelido de "o homem que quebrou o Bank of England".

À medida que crescia sua riqueza, também cresciam suas atividades como filantropo — assim como a controvérsia que geravam. Em 2017, seu patrimônio líquido era estimado em 25 bilhões de dólares, colocando-o entre as 30 pessoas mais ricas do mundo. Mas ele doou 80% desse dinheiro (18 bilhões de dólares) para instituições de caridade, principalmente para sua própria Open Society Foundations (OSF).

Convicções e contradições

A OSF é um grupo internacional de instituições ativas no mundo em áreas que vão, de acordo com o site do organismo, de "práticas democráticas" a "direitos digitais e de informação" e "reforma da Justiça e do Estado de Direito". As organizações específicas apoiadas tendem a refletir as próprias crenças liberais-democratas e progressistas de Soros e sua formação pessoal.

Soros começou a apoiar organizações democráticas na Europa Oriental antes do fim do comunismo. Por sua própria conta, ele começou fornecendo fotocopiadoras em 1984 a grupos dissidentes em sua Hungria natal. Desde então, ele estabeleceu fundações e doou centenas de milhões de dólares para organizações pró-democracia em todo o antigo Leste comunista. Soros também fundou a universidade privada Central European University, com campus em Nova York e Budapeste.

"O risco político é muito severo, e a ascensão da extrema direita chauvinista e xenófoba é um desenvolvimento preocupante", disse Soros ao jornal britânico Financial Times em 2009.

O bilionário por trás da universidade que Orbán quer fechar

Suas fundações apoiaram iniciativas de paz no Oriente Médio e ele não é grande fã de Israel. Certa vez, ele disse à revista New Yorker: "Não nego aos judeus o direito a uma existência nacional, mas eu não quero fazer parte disso." Ao mesmo tempo, escreveu: "Tenho orgulho de ser judeu – embora tenha que admitir que levou praticamente uma vida inteira para que eu chegasse lá."

Especialmente nos últimos anos, Soros tem se envolvido cada vez mais em causas políticas progressistas nos Estados Unidos. Suas fundações doaram dinheiro para a organização MoveOn depois dos ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001, e numa entrevista que remonta a 2003, ele afirmou que o Partido Republicano foi "capturado por um bando de extremistas".

Soros também é um crítico proeminente da saída do Reino Unido da UE, fazendo múltiplas doações para grupos anti-Brexit no país. Em contraste, em 2013, Soros disse que a Alemanha deveria considerar deixar a moeda comum da UE, o euro, para permitir que os Estados-membros em dificuldades tenham mais flexibilidade em seus esforços para escapar de dívidas esmagadoras.

Inimigos poderosos

Dizer que as opiniões de Soros produziram para ele alguns inimigos poderosos seria um grande eufemismo. As ideias do bilionário renderam a ele desde a ira do primeiro-ministro de direita da Hungria, Viktor Orbán, até a do premiê Benjamin Netanyahu, de Israel, assim como a de populistas nos EUA, no Reino Unido e em outros lugares.

Premiê israelense, Benjamin Netanyahu, e primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán
Netanyahu e Orbán são dois dos maiores críticos de SorosFoto: picture alliance/ZUMAPRESS/C. Domotor

Orbán fez de Soros a peça central de sua campanha para a reeleição como primeiro-ministro da Hungria no início deste ano, jogando com estereótipos antissemitas e acusando o americano de tentar destruir a sociedade tradicional, encorajando a migração em massa de estrangeiros para a Hungria. O governo de Orbán aprovou uma legislação direcionada especificamente contra as atividades de Soros, levando a OSF em Budapeste a fechar suas portas e a se mudar para Berlim.

O Ministério do Exterior de Israel atacou Soros por "minar continuamente os governos democraticamente eleitos de Israel", ao financiar grupos que "difamam o Estado judeu e procuram negar-lhe o direito de se defender".

E populistas de direita, como o apresentador de televisão americano Glenn Beck, desenvolveram elaboradas teorias da conspiração centradas em Soros como um "mestre de marionetes", empenhado em impor uma agenda global progressista contra a vontade dos povos em todo o mundo.

Grande parte do alarmismo foi alimentado pela estrutura labiríntica, de baixo para cima, da OSF, segundo um grupo de vigilância pró-Israel em Jerusalém. "A Open Society Foundations gera controvérsia porque é um ator poderoso, ativo em processos políticos em todo o mundo, muitas vezes sem transparência", disse, em entrevista à DW, Olga Deutsch, diretora da ONG Monitor Europe Desk.

No entanto, mesmo críticos de Soros, como a ONG Monitor, reconhecem que a hostilidade em relação a Soros, particularmente na Hungria, inclui "componente antissemitas". E o bilionário tem tantos apoiadores quanto críticos mundo afora.

Nos últimos anos, Soros, que se autoproclamou defensor de uma "sociedade aberta", se tornou uma espécie de celebridade, dividindo a esquerda e a direita políticas na batalha envolvendo a definição de uma democracia moderna.

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