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Mau cálculo

4 de janeiro de 2010

Países europeus compraram mais que necessário e tentam passar adiante seus excedentes de vacina contra a gripe suína. Governos querem refazer contratos, enquanto o vírus parece ter enfraquecido na Europa Ocidental.

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Apenas cerca de 6 milhões se vacinaram na AlemanhaFoto: picture-alliance/ dpa

A França foi o último a se juntar à crescente lista de países europeus que estão querendo vender excedentes de vacina contra a gripe H1N1, também chamada "suína". O governo francês admitiu ter comprado muito mais do que necessário, fato que provocou uma onda de críticas, tanto de políticos da oposição como da própria coalizão de governo. Os vizinhos europeus seguem pelo mesmo caminho.

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Berlim só quer assumir metade de 50 milhões de doses encomendadasFoto: DW

A compra em massa de vacina contra gripe pelo governo francês tem provocado protestos de todos os lados. Paris gastou quase 1 bilhão de euros em mais de 90 milhões de doses de vacina, das quais sobraram 70 milhões, afirmou o porta-voz da oposição socialista, Benoît Hamon, em entrevista ao Canal Plus, nesta segunda-feira (04/01).

Tanto a esquerda quanto os parceiros de coalizão de governo do partido Nouveau Centre pedem a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito. Também do partido do governo, UMP, surgiram acusações de que o Ministério da Saúde não tomou as precauções necessárias ao negociar com a indústria farmacêutica.

O Ministério francês da Saúde gastou 869 milhões de euros na compra de 94 milhões de doses para uma população de 63,6 milhões de habitantes. Segundo o ministério, o Qatar já comprou 300 mil doses, enquanto o Egito pretende adquirir 2 milhões. Mais estoques também deverão ser comercializados para a Ucrânia e o México.

Só 5 milhões de vacinados na França

O governo tomou a decisão depois que especialistas de saúde se deram conta de que a maioria das pessoas só necessita de uma dose, em vez de duas, para adquirir imunidade. Além disso, Paris esperava que três quartos da população fosse se vacinar, o que não aconteceu. Somente cerca de 5 milhões receberam vacina na França até o fim de dezembro.

O país está determinado a se livrar do excedente de vacinas o quanto antes. Segundo reportagem publicada no jornal Le Parisien, diplomatas franceses foram instruídos a relatar rapidamente possíveis carências da vacina em outros países.

A Sanofi Pasteur, produtora da vacina, anunciou estar "disposta a examinar" o contrato fechado com o governo francês, caso o produto não seja necessário nas mesmas proporções que o previsto originalmente. A empresa já forneceu a metade dos 28 milhões de vacinas encomendadas por Paris, a entrega do restante está prevista para os próximos meses.

Alemanha quer renegociar

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Vírus H1N1 sob o microscópio eletrônico

A Alemanha passa por problema semelhante. Os estados federados querem renegociar com os fornecedores da vacina, para que tenham que assumir apenas a metade dos 50 milhões de doses de vacinas originalmente encomendadas. Segundo as últimas estatísticas disponíveis, de início de dezembro, somente cerca de 6 milhões de alemães se vacinaram contra a gripe suína.

Berlim anunciou estar disposto a repassar as vacinas excedentes para outros países, apesar de só ter recebido, até agora, menos de 20 milhões dos 50 milhões de doses encomendadas. Berlim recebeu propostas de compra do Afeganistão e de países da Europa Central, além de ter oferecido à Ucrânia 2,2 milhões de doses. Moldávia, Macedônia, Albânia, Kosovo, Mongólia e as Maldivas também consultaram as autoridades alemãs.

Para ONG, alarme foi "tigre de papel"

A Holanda anunciou em novembro último que iria vender 19 milhões dos 34 milhões de doses que encomendara. No Reino Unido, um porta-voz do Ministério da Saúde afirmou que o governo também está cogitando revender a vacina.

Recentemente, a ONG Transparência Internacional, sediada em Berlim, fez graves acusações contra a indústria farmacêutica a respeito da vacinação contra a gripe H1N1. A doença foi "inflada em proporção catastrófica", tendo se revelado um "tigre de papel", afirmou Anke Martiny, membro da diretoria da entidade de luta contra a corrupção.

A Organização Mundial de Saúde anunciou em dezembro de 2009 que o vírus H1N1 parecia estar enfraquecendo em grande parte da Europa Ocidental.

MD/afp/ap/dpa
Revisão: Augusto Valente